59.

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Na manhã seguinte, Lúcio veste roupas limpas, penteia os cabelos e se esforça para manter a aparência mais alegre que consegue, sentindo sua alma se despedaçar em fragmentos menores a cada sorriso falso que coloca nos lábios.

Ele caminha pelos corredores, captando de longe a atmosfera anormal que recai sobre o Palácio.

Ao entrar no salão de refeições, os Auxiliadores olham em sua direção. Estão todos reunidos em um círculo estreito e desorganizado ao redor uns dos outros.

O Sacerdote caminha, fingindo espanto.

- Está tudo bem? – pergunta, sorrindo.

Ninguém responde.

O círculo se abre de um lado, dando passagem para a figura imponente de Anton, seus olhos da cor do céu fixos no Sacerdote com frieza.

Lúcio sente o peito gelar de pavor ao ver o homem detestável vindo até ele, os cabelos da nuca arrepiando diante do seu olhar inquisidor.

- Precisamos conversar, senhor Sacerdote. – diz gravemente o homem, colocando uma mão sobre seu ombro.

Ele resiste ao pânico, olhando firmemente para o rosto de Anton.

- O que houve? Por que estão todos em silêncio?

Anton suspira com pesar, pressionando as palavras para torná-las mais graves:

- Seu pai desapareceu.

Quase com naturalidade, Lúcio arregala os olhos, lançando olhares confusos entre Anton e o círculo desfeito dos Auxiliadores.

- Como?! Isso não é possível! – grita, elevando a voz para um tom agudo – Como ele pode ter desaparecido?!

- Nós não o encontramos no quarto dele. Estamos iniciando uma busca por todos os aposentos do Palácio. – o Auxiliador da Justiça encara o Sacerdote com estranheza – O senhor não se importa de vasculharmos o seu quarto, não é?

Lúcio congela, lembrando-se do livro que ainda não devolvera a Dantálion.

- Eu acabei de vir de lá, - responde, tentando soar o mais inocente possível – meu pai não está em nenhum lugar por onde passei.

- Claro que não. – retoma a voz grossa de Anton – Nós sabemos que seu pai não está lá. Estamos apenas procurando qualquer indício de atividade suspeita. Não leve para o lado pessoal, senhor Sacerdote, não estamos desconfiando de você, estamos apenas sendo cautelosos. Um assassino pode ter estado aqui dentro, e queremos ter certeza de que nenhum detalhe passará despercebido.

- Não seria melhor iniciarem uma busca pela cidade?

- Iniciaremos, assim que tivermos encerrado as investigações aqui dentro. Não queremos fazer escândalos desnecessários, não é?

Anton pisca um olho, atitude extremamente grotesca vindo de um sujeito como ele.

- Agora, não se preocupe. – continua, firmando a mão no ombro do Sacerdote, sem deixá-lo ir – Você precisa se alimentar. Sente-se conosco e coma, a varredura já está em andamento.

Sentindo-se desfalecer de terror, ele caminha até a mesa, guiado por Anton, e se esforça para comer qualquer alimento que esteja próximo a ele, sem prestar atenção ao que seja. Seu estômago protesta a cada engolida.

Após minutos intermináveis, a monotonia é quebrada quando Vero entra no salão, com uma aparência grave e preocupada.

O homem baixo senta-se ao lado do Sacerdote, sua posição habitual, sem o olhar no rosto. Ele também come com dificuldade.

- Vero... – sussurra Lúcio.

- Não precisa me dizer nada. Eu já sei.

O tom sombrio do Auxiliador não condiz com sua personalidade. Ele lança um olhar inexpressivo para o Sacerdote, censurando-o.

Vero sabia que ele planejava matar alguém, mas jamais poderia imaginar que faria isso com o próprio pai, debaixo do mesmo teto.

- Mantenha-se forte agora. – diz o Auxiliador, levantando-se da mesa e saindo do cômodo.    

    

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