Na manhã seguinte, Lúcio veste roupas limpas, penteia os cabelos e se esforça para manter a aparência mais alegre que consegue, sentindo sua alma se despedaçar em fragmentos menores a cada sorriso falso que coloca nos lábios.
Ele caminha pelos corredores, captando de longe a atmosfera anormal que recai sobre o Palácio.
Ao entrar no salão de refeições, os Auxiliadores olham em sua direção. Estão todos reunidos em um círculo estreito e desorganizado ao redor uns dos outros.
O Sacerdote caminha, fingindo espanto.
- Está tudo bem? – pergunta, sorrindo.
Ninguém responde.
O círculo se abre de um lado, dando passagem para a figura imponente de Anton, seus olhos da cor do céu fixos no Sacerdote com frieza.
Lúcio sente o peito gelar de pavor ao ver o homem detestável vindo até ele, os cabelos da nuca arrepiando diante do seu olhar inquisidor.
- Precisamos conversar, senhor Sacerdote. – diz gravemente o homem, colocando uma mão sobre seu ombro.
Ele resiste ao pânico, olhando firmemente para o rosto de Anton.
- O que houve? Por que estão todos em silêncio?
Anton suspira com pesar, pressionando as palavras para torná-las mais graves:
- Seu pai desapareceu.
Quase com naturalidade, Lúcio arregala os olhos, lançando olhares confusos entre Anton e o círculo desfeito dos Auxiliadores.
- Como?! Isso não é possível! – grita, elevando a voz para um tom agudo – Como ele pode ter desaparecido?!
- Nós não o encontramos no quarto dele. Estamos iniciando uma busca por todos os aposentos do Palácio. – o Auxiliador da Justiça encara o Sacerdote com estranheza – O senhor não se importa de vasculharmos o seu quarto, não é?
Lúcio congela, lembrando-se do livro que ainda não devolvera a Dantálion.
- Eu acabei de vir de lá, - responde, tentando soar o mais inocente possível – meu pai não está em nenhum lugar por onde passei.
- Claro que não. – retoma a voz grossa de Anton – Nós sabemos que seu pai não está lá. Estamos apenas procurando qualquer indício de atividade suspeita. Não leve para o lado pessoal, senhor Sacerdote, não estamos desconfiando de você, estamos apenas sendo cautelosos. Um assassino pode ter estado aqui dentro, e queremos ter certeza de que nenhum detalhe passará despercebido.
- Não seria melhor iniciarem uma busca pela cidade?
- Iniciaremos, assim que tivermos encerrado as investigações aqui dentro. Não queremos fazer escândalos desnecessários, não é?
Anton pisca um olho, atitude extremamente grotesca vindo de um sujeito como ele.
- Agora, não se preocupe. – continua, firmando a mão no ombro do Sacerdote, sem deixá-lo ir – Você precisa se alimentar. Sente-se conosco e coma, a varredura já está em andamento.
Sentindo-se desfalecer de terror, ele caminha até a mesa, guiado por Anton, e se esforça para comer qualquer alimento que esteja próximo a ele, sem prestar atenção ao que seja. Seu estômago protesta a cada engolida.
Após minutos intermináveis, a monotonia é quebrada quando Vero entra no salão, com uma aparência grave e preocupada.
O homem baixo senta-se ao lado do Sacerdote, sua posição habitual, sem o olhar no rosto. Ele também come com dificuldade.
- Vero... – sussurra Lúcio.
- Não precisa me dizer nada. Eu já sei.
O tom sombrio do Auxiliador não condiz com sua personalidade. Ele lança um olhar inexpressivo para o Sacerdote, censurando-o.
Vero sabia que ele planejava matar alguém, mas jamais poderia imaginar que faria isso com o próprio pai, debaixo do mesmo teto.
- Mantenha-se forte agora. – diz o Auxiliador, levantando-se da mesa e saindo do cômodo.
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Dantálion [COMPLETO]
Science Fiction[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como Sacerdote. Dias antes de sua iniciação, porém, as coisas começam a desandar... Dúvidas e medos de infância reaparecem. A insegurança em sua...