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Na noite seguinte, Dantálion aparece com uma pequena caixa de madeira nas mãos.

- O que é isso? – pergunta o Sacerdote.

- Apenas uma diversão para dois jovens estressados e com tendências violentas como nós dois.

Lúcio não ri da piada maldosa, perdendo subitamente o interesse pela caixa.

- Levante-se. – ordena Dantálion.

- Para quê?

- Não vamos ficar aqui hoje. Eu pensei em irmos para um lugar mais... Seguro.

- Onde?

- Minha casa.

A surpresa o faz levantar-se num pulo, sem tirar os olhos do outro, tentando decifrar se falava sério ou se estava fazendo mais uma de suas piadas sarcásticas.

- O que foi? Não acredita em mim? – ri Dantálion, seu sorriso ameaçador despontando nos lábios – Será que sou tão mentiroso assim para que meu próprio amigo tenha medo de vir até minha casa? O que você acha que vou fazer?

O Sacerdote coça a nuca para tentar disfarçar o nervosismo, percorrendo os olhos inquietos pelos arbustos ao redor.

- É que... Sua casa? O que eu deveria esperar encontrar lá? Morcegos, serpentes venenosas e outras criaturas macabras? Talvez aparelhos de tortura?

- Não. – responde o garoto, com uma risada – Isso é o tipo de coisa que você encontraria na sua casa, não na minha. Ou você já se esqueceu da enorme guilhotina que vocês deixam de enfeite na fachada?

Dantálion começa a andar, obrigando-o a segui-lo.

Atingido pela alfinetada, Lúcio caminha à distância, esfregando ambos os braços com as mãos cruzadas.

Os dois caminham noite adentro, nenhuma alma viva por perto. Por sorte, a floresta é bastante deserta fora do expediente normal de trabalho, permitindo que possam se mover com tranquilidade, sem medo de serem descobertos por alguém.

Ao longe, num dos cantos mais afastados e de difícil acesso, o Sacerdote avista uma construção rudimentar de madeira. Dantálion segue naquela direção.

A construção não passa de uma cabana simples e velha, com muitos buracos e madeiras tortas. Lá dentro, tudo é úmido, escuro e empoeirado. O cheiro forte de ratos exala do cubículo minúsculo.

- Parece confortável. – comenta o Sacerdote, ironicamente.

Dantálion lança um olhar de desdém.

- Não é aqui que eu moro.

- Onde, então?

Sem mais explicações, ele aponta um dedo para as tábuas do chão.

- Ah, no Inferno, você quer dizer... Era óbvio.

Ele não se incomoda com a provocação, jogando os ombros com indiferença.

- Antes fosse.

O garoto então agacha, tateando por algo no chão escuro. Um instante depois, sua mão esquerda se ergue, trazendo consigo um bloco retangular do assoalho, inicialmente invisível, que dá passagem para uma pequena abertura subterrânea.

- Seja bem-vindo. – diz, gesticulando para que o Sacerdote entre na passagem.

Lúcio hesita por um segundo, com medo do que possa haver no subsolo, até que toma coragem e entra, descendo as escadas estreitas que levam a um nível mais profundo do que achava que seria possível.

Dantálion [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora