Perdido na escuridão
Me afasto da luz
Tenho fé que meu pai, meu irmão, meu criador e salvador
Irão me ajudar a sobreviver à noite.
Em quem confiar quando a corrupção e luxúria, o credo dos injustos
Te deixam vazio e incompleto?
Quando esse pesadelo vai acabar? Me diga
Quando vou poder esvaziar minha cabeça?
Alguém me dirá a resposta?
Deus está mesmo morto?
Deus está mesmo morto?Black Sabbath - God is Dead
O sol nasceria em algumas horas. Nenhum dos dois, no entanto, havia demonstrado qualquer desejo de ir embora.
Lúcio observa atentamente aquele garoto, tão estranho, tão incomum e reservado, mas que, apesar de provocá-lo e magoá-lo, despertava-lhe uma admiração profunda.
Dantálion não era um sujeito fácil, e lidar com ele era uma das tarefas mais árduas e estressantes de sua vida. Porém, apesar de tudo, havia algo em seu olhar que inspirava uma confiança quase imediata.
Os olhos de Dantálion, embora duros, cruéis, implacáveis, sombrios, ou o que quer que fossem, eram, acima de tudo, olhos sinceros, que deixavam transparecer uma alma sem medo de ser vista.
A alma de Dantálion... Como seria se pudesse se materializar?
O Sacerdote a imaginava como uma criança, porque, em seus olhos assustados, sempre era possível ver o menino que havia sido. Um menino que havia sido tão feliz e tão amado, e que, de repente, viu o sorriso maldoso da crueldade do mundo à sua frente. Desde então, era o mesmo sorriso maldoso que ele usava todos os dias para esconder sua dor.
Dantálion era um espírito atormentado, buscando cegamente por algum alívio, por alguma forma de apagar as cicatrizes profundas que marcavam sua pele e seu coração, sabendo que jamais encontraria.
Mas, ainda assim, e com cada vez mais frequência, os demônios que habitavam nas trevas de seu olhar desapareciam, deixando a felicidade e a delicadeza da criança que um dia havia sido voltarem.
Era nesses momentos que Lúcio sentia a esperança ressurgir em sua própria alma.
Porque, se mesmo do abismo tenebroso daquele ser consumido pelo tormento podiam brilhar raios de felicidade, então por que não do resto do mundo todo?
Dantálion encontra seu olhar, e desta vez Lúcio não desvia, nem se sente envergonhado. Os dois apenas continuam mudos, olhando-se nos olhos, se entendendo sem palavras.
- Você sabe algum poema de cor? – pergunta Lúcio.
- Sei alguns. – responde com uma leveza rara – Só os meus preferidos.
- Fale um para mim.
O garoto pensa por um momento, vasculhando as páginas de sua mente.
Ele respira fundo, sem forçar a voz. As palavras não são exaltadas, são simplesmente ditas, como se não fossem tiradas de nenhum poema, mas como se brotassem dele mesmo, dizendo seu coração. Com calma e segurança, Dantálion lê o poema gravado em sua memória:
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Dantálion [COMPLETO]
Science Fiction[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como Sacerdote. Dias antes de sua iniciação, porém, as coisas começam a desandar... Dúvidas e medos de infância reaparecem. A insegurança em sua...