25.

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Os dois permanecem sentados ao redor da pequena fogueira.

- Ei... Você... Quer ouvir outra?

O Sacerdote acena com a cabeça.

O garoto pega o pequeno aparelho e o faz acender. Após alguns segundos, uma nova música começa, desta vez totalmente diferente. Não há ninguém cantando, apenas o som suave dos instrumentos, palavra que Dantálion havia lhe ensinado, num ritmo lento e leve.

- Eu gosto dessa. – comenta o Sacerdote, ainda intrigado com a luz sem calor nas mãos do outro.

- Eu também. Essa é uma das clássicas.

Os dois permanecem durante toda a duração daquela longa música olhando para as estrelas, em silêncio. A melodia doce faz com que a alma do Sacerdote se levante do chão, e ele sente que flutua por entre as nuvens, como se tivesse asas... Asas que ruflam de par em par... Seria tão bom se tivesse asas como os pássaros, que se afastavam para além dos montes no inverno... Então não precisaria viver no Palácio e ser um Sacerdote. Não precisaria ser nada.

Ele olha para Dantálion, que parece muitos anos mais jovem ao ficar relaxado.

Um sentimento de paz invade seu coração. Jamais havia feito algo assim, passar a noite em claro, olhando as estrelas e ouvindo música, ao lado de um amigo.

Um amigo... Será que poderia considerá-lo dessa maneira? Em geral, o garoto lhe despertava irritação e parecia querer provocá-lo o tempo todo. Mesmo assim, a sua sinceridade e confiança faziam com que o Sacerdote gostasse dele.

Num mundo em que todos eram extremamente respeitosos e superficiais, um pouco de provocação sincera parecia ser bom.

Ele suspira, pensando em como sua vida havia mudado desde que encontrou Dantálion pela primeira vez.

Repentinamente, o outro se levanta.

- Agora precisamos falar de coisas sérias. – ele diz, voltando os olhos escuros em sua direção.

O Sacerdote senta sobre as pernas e o encara de volta.

Dantálion desliga o aparelho e se posiciona de frente para o Sacerdote, permanecendo de pé, recostado desleixadamente a uma árvore. Num instante, o garoto implacável e arrogante de antes está de volta, a criança alegre de alguns segundos atrás totalmente esquecida.

- Posso perguntar só mais uma coisa antes de você falar?

- Diga.

O Sacerdote aponta para o aparelho.

- O que é isso?

- Também não sei qual o nome disso, mas é algo bastante comum por aí. Felizmente, ele funciona com energia solar, caso contrário nunca mais poderíamos usá-lo depois que a primeira carga acabasse. Baterias e carregadores cabeados são coisas difíceis de instalar aqui.

O Sacerdote acena com a cabeça. Não explicava muito. Na verdade, não explicava nada, apenas o confundia mais ainda. Mas já servia para saciar sua curiosidade.

- Agora, – continua Dantálion – sou eu que preciso te fazer algumas perguntas, e espero que você seja o mais sincero possível. Em primeiro lugar, quero que você me conte como foram as suas Audições, e de onde inventou aquelas bobagens que disse.

O Sacerdote enrijece, incomodado.

- Não posso falar sobre essas coisas, são pessoais.

O rosto de Dantálion se torna sombrio, sua voz assumindo o mesmo tom ameaçador do outro dia:

Dantálion [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora