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Os olhos de Anton faíscam de prazer ao ver o pânico que o toma.

Agora não terá escolha: se deixar o Auxiliador escapar com vida, ele morre.

Lúcio tenta controlar a respiração. Precisa acalmar a mente, caso contrário não terá como vencer uma luta contra o homem, mais alto e mais forte.

- Você não pode fazer nada. – ele balbucia, a voz falhando – Entrar no Templo é um Crime Imperdoável. Se você me entregar, estará se denunciando também.

Anton solta uma gargalhada que ecoa pelas paredes de mármore, erguendo as palmas das mãos ao lado do corpo.

- Eu sou a Justiça, Lúcio. Quem é que vai me punir?

Ele tomba a cabeça para a esquerda, seu sorriso maldoso iluminado pela lanterna caída.

- Além do mais, pequeno Sacerdote, eu não vou te denunciar. Você vai.

Lúcio se posiciona diante da porta, bloqueando o caminho. Não pode deixar que Anton saia, mesmo que isso signifique usar seu próprio corpo como barreira.

- Sabe, Lúcio... – continua o Auxiliador, caminhando lentamente – Eu sempre achei que você fosse do tipo que causaria problemas, mas jamais imaginei que fosse capaz de tantos estragos em tão pouco tempo... Você mal iniciou como Sacerdote, e já teve a capacidade de fazer o que fez... Apesar do histórico deplorável de sua família, eu jamais imaginei que você poderia ser tão cruel. Assassinar o próprio pai! Nem eu seria capaz de fazer algo assim!

O olhar cínico que ele lança contradiz suas palavras.

- Você sabe que ele não era meu pai. – rosna entredentes.

- Sim, eu sei. Seu pai era aquele velho feiticeiro, que, aliás, também está morto graças a você. Você deve realmente ser um garoto mau, Lúcio.

Anton sacode a cabeça, rindo.

As mãos de Lúcio começam a tremer, a raiva o cegando.

- E também aposto, meu caro, que você devia ter alguma relação com aquele garoto... Como era mesmo o nome dele? Iago, não era? Você acha que não percebi os olhares que vocês trocaram durante o julgamento? – ele ri novamente - Diga-me, Sacerdote, como é a sensação de matar a única pessoa que já te amou na vida? Doeu muito?

Sua respiração se torna difícil, seu peito o esmagando por dentro, sem encontrar ar para responder.

O que estava acontecendo? Por que não conseguia controlar as emoções? Por que Anton não o atacava logo, ao invés de brincar com seus sentimentos? Por que o Auxiliador continuava usando palavras para atingir seus pontos fracos, para abrir suas feridas?

A memória de Dantálion aparece diante de seus olhos. A voz do garoto ecoa em sua mente, as mesmas palavras que ele havia dito alguns dias antes, na floresta:

- Anton é um torturador.

Anton é um torturador, e está o torturando.

Os planos do outro se tornam repentinamente claros: ele pretende desestabilizá-lo emocionalmente, dominá-lo, para arrancar uma confissão pública, sem correr o risco de ser acusado por entrar no Templo.

- Você não vai conseguir minha confissão.

O Auxiliador ergue as sobrancelhas, surpreso:

- Parece que o demoniozinho te ensinou a ser mais esperto, Sacerdote. Quem diria...

Anton continua sua passada lenta, caminhando de um lado para o outro, como um leão cercando sua presa. Lúcio não se intimida e se mantém estável, protegendo a saída.

Dantálion [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora