Capítulo 32 - I.N.F

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Loretta narrando

- e o que vamos fazer agora? - cada palavra que Vanessa disse, só me deixou ainda mais preocupada com o meu melhor amigo, que continuava na tentativa de se acalmar.

Vanessa - eu não sei. Não há como estabilizar a situação dele, aqui. - ela parou de falar por um instante - A não ser que...

- "a não ser que"... o quê? - minha mãe hesitou.

Vanessa - teríamos que voltar para o H.P.L - todos no quarto trocávamos olhares confusos ao ter aquelas palavras ressoando em nossos ouvidos.

Quê?! Não podemos voltar. Seria suicídio!.

As coisas andam acontecendo tão rápido, que nem ao menos tivemos tempo de lamentar a morte de nossas colegas, não choramos, não pensamos, não sentimos, simplesmente não lembramos e só agora eu percebo o quanto isso me corrói internamente.

É como se os problemas aparecessem, apenas para evitar que sofressemos o luto.

Peter se levantou do chão assim que conseguiu se tranquilizar, e logo se aproximou. Por um instante ele chegou perto do Victor que, sem conseguir disfarçar, bateu com as costas na parede, ainda se mantendo distante dele.

Peter - e-eles mataram a Zoe e a Charlotte, bem na nossa frente - mesmo sereno, continuava falando com um tom de voz elevado.

- exatamente - concordei - não estão curando ninguém lá - por que precisaríamos ir ao manicômio para ajudar uma pessoa, se não é isso que fazem lá dentro...? - nós podemos resolver esse problema em outro lugar.

Vanessa - não, isso é impossível - suspirei, desapontada - os remédios que Peter tomava, só são enviados à instituições de ajuda psiquiátrica. Nessas redondezas, o único local que recebe essa medicação é o H.P.L.

Victor - e de onde vem? - questionou.

Vanessa - da I.N.F, Indústria Norueguesa de Fármacos. Definitivamente não vamos encontrar nenhum outro lugar com esses medicamentos e, se encontrássemos, não nos dariam.

Peter - são remédios tarja preta... - murmurou.

O silêncio se alastrou, transformando o quarto em um beco sem saída.

Vanessa - continuando... - falou, notando a tensão no ar - lembram das caixas no porão? - eu e Peter assentimos, recordando de termos visto algumas empilhadas – em uma delas foram estocados esses mesmos comprimidos (antidepressivos, antipsicóticos, remédios para ansiedade...) enfim, eu poderia encontrá-los e em seguida daríamos um jeito de sair. Fizemos uma vez, podemos fazer de novo... - tentava parecer confiante, mas falava hesitando a todo momento.

Não acredito no que estou ouvindo...

Victor - sem querer atrapalhar a grande decisão do capítulo da novela de vocês, mas temos um corpo aqui... - apontou para a cama, passando por Peter e ficando do outro lado do quarto - e um jantar com o meu pai.

Ele tinha razão, havia um cadáver no cômodo em que estávamos e, ao invés de nos livrarmos dele, discutíamos algo que na minha cabeça, não iria acontecer.

De maneira nenhuma, eu vou voltar.

Victor - vão ficar parados aí ou vão me ajudar a arrumar a bagunça do seu amiguinho?! - indagou. O filho do capitão continuava mudando seu comportamento quando se tratava do meu amigo.

Peter - o que vamos fazer com ele? - Peter segurou as pernas do marinheiro e Victor os braços, entretanto, antes de o moverem, Vanessa os interrompeu.

Vanessa - esperem, esperem! - pediu, depois de se direcionar a Victor - você disse que seu pai nos deixaria ficar, se não fizéssemos nada que os machucasse, correto? - ele afirmou - e se contá-lo o que Peter fez? - o mesmo, a fitava confuso.

Victor - ele disse que os levaria de volta ao manicômio - soltou os braços do homem, e Peter o imitou, semelhante a um espelho. Agora todos prestavam atenção em minha mãe.

Vanessa - ótimo! - exclamou animada, o que consequentemente nos assustou.

Peter - "ótimo"? - ergueu as sobrancelhas, desacreditado.

Vanessa - se você for até o seu pai e o disser sobre a morte desse homem, ele nos levará de volta e continuará enviando mercadoria. Nós entramos, estabilizamos o Peter e no próximo descarregamento, embarcamos.

Victor - e o que te faz pensar que meu pai os aceitaria de volta?

Vanessa - eu não sei... - ponderou - talvez possamos arranjar algo que o capitão precise ou queira... sabe de algo que o Jonathan deseje?

Victor - virou gênio da lâmpada, agora? - retornou a falar no tom irônico de sempre, talvez até um pouco pior, já que seu humor era irritadiço.

Vanessa - eu estou falando sério, não há nada que ele queira muito? - dessa vez era Victor quem precisava de tempo para pensar.

Victor - existe uma coisa - enunciou, atraindo a concentração alheia - No manicômio, conheceram uma mulher de cabelos negros, pele clara e olhos escuros? - vago demais.

Vanessa - você sabe o nome dela? Tem uma foto ou algo do tipo?

De forma engraçada, em meio à conversa, Peter e eu trocávamos nossos olhares entre minha mãe e o filho do capitão, sem saber como participar, porque não fazíamos ideia do que estava acontecendo.

Victor tirou de seu bolso traseiro, uma pequena bolsa retangular de cor preta, de onde ressoava o barulho de chaves. Em seguida, a abriu e retirou do interior uma foto dobrada, as bordas amareladas demonstravam a antiguidade do papel, e depois de estendê-la, a entregou para Vanessa.

Ao apanhá-la, assim como eu quando me posicionei ao seu lado, fiquei surpresa com quem posava ali.

Vanessa - é a Darla! - declarou - Onde arranjou isso? - Victor parecia confuso, devido as nossas expressões tão esquisitas.

Victor - essa é minha mãe - quê?! A Darla é mãe?!

- se ela é sua mãe, o que está fazendo trabalhando naquele hospital? - perguntei, tentando disfarçar a minha face perplexa.

Victor - eu não me lembro do primeiro nome dela, mas eu sei que, na época, meus pais estavam vivenciando um sério problema econômico. Até que foi anunciado vagas disponíveis e que pagavam muito bem por qualquer tipo de serviço prestado... - uma lágrima deslizou pelo rosto do Victor, ele a secou rapidamente, como se não tivesse acontecido. - Ela não aguentava mais me ver naquela situação, portanto iria ao manicômio trabalhar e mandaria dinheiro para que nós pudéssemos ter uma vida melhor. Prometeu que voltaria assim que tivesse o suficiente.
    No começo, minha mãe realmente nos enviava ajuda financeira, mas com o passar do tempo ele parou de chegar.
    Meu pai sempre sonhou em ser capitão de seu próprio navio, trabalhou como pescador durante alguns anos e com a quantia que juntou, comprou esse, do qual nomeou como Camélia Vermelha, a flor favorita da esposa.
    Aproveitou a oportunidade e viajou até aquela ilha, mas quando perguntou por ela, disseram que a mesma estava morta e o ofereceram o trabalho de navio mercante, pois estavam trocando de pessoal... - fez um pausa para respirar, coisa que veio acompanhada de uma fungada, devido ao seu curto, porém real, choro. - ele aceitou, e eu cresci guardando essa foto. Sempre acreditei que minha mãe estava viva e pelo que disseram, de fato está.

Peter foi até Victor e o abraçou, ele hesitou em aceitar o ato afetuoso, contudo necessitava tanto disso, que esqueceu completamente do que meu amigo havia feito. Reconhecia sua própria vulnerabilidade.

Esses dois ficaram realmente próximos...

Vanessa - conte sobre o morto... nós vamos voltar ao manicômio, pegaremos os remédios e tentaremos a tirar de lá, mas não lhe prometo que Darla aceite facilmente vir a este navio - mesmo agarrado a Peter, foi possível perceber sua concordância.

- nem mesmo nós voltaremos facilmente aqui... - murmurei

Peter - isso se voltarmos - concluiu, ainda consolando o garoto do qual se importava tanto.
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AUTORA:
Da mesma forma que no capítulo anterior, todas as informações incluídas são fruto de imaginação. Considerem entretenimento. ♡

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