Charlotte Narrando
Depois que falei com aquela moça loira no corredor, eu não consegui parar de pensar no que ela havia me dito. Simplesmente não recordava de seu rosto e me sentia angustiada por isso.
O enfermeiro me deixou no quarto e, como sempre, me deu remédios para me ajudar a dormir, eu os tomei e em seguida ele saiu, fechando a porta.
Ao me sentar na cama, tirei os chinelos dos pés e, quando ia deitar, o rosto daquela mulher retornou à minha mente, rápido como um estalar de dedos. E, devido a memória repentina, fiquei alguns instantes tentando entender o porquê de ela ter dito coisas tão estranhas... mas foi em vão.
Por mais que eu me esforçasse para lembrar, nada voltava, fazendo com que eu apenas tivesse dor de cabeça.
Chega, Charlotte! Para de pensar nisso!!
E sacudindo a cabeça, espantei aqueles pensamentos. Logo, afundando o rosto sobre a superfície do travesseiro.
Peter Narrando
Aquela coisa continuava dentro do meu pescoço e isso me apavorava. Afinal, a agulha não era nem um pouco pequena e eu tinha a impressão de que, se Julia pressionasse, me atravessaria.
Julia - responda, Loretta. - ordenou, e era claro que minha amiga estava entrando em pânico.
Loretta - eu... eu não... - tentava falar, entretanto não conseguia terminar nada do que dizia.
- não diga nada! - pedi. E a insanidade em forma humana, cuja ainda segurava meu cabelo entre seus dedos, puxou com ainda mais força, resultando em um gemido de dor.
Ela fazia com que o couro cabeludo sendo rasgado, tornasse ainda mais agoniante a formigação na área do meu pescoço.
Julia - três segundos... - avisou.
Loretta - mas... - tanto os meus quanto os olhos da Loretta, tremiam com a pressão imposta por aquela mulher.
Julia - um... - começou a contar.
Loretta - não posso- a voz falhava de novo e sua respiração era rápida como as lágrimas que corriam pelas suas bochechas.
Julia - dois... - eu fechei os olhos com força. Loretta não conseguiria dizer e, ciente do desfecho dessa situação, eu apenas esperei que Julia me aplicasse aquilo, "jogando a toalha" porque era a coisa mais sensata a se fazer.
Respiração ofegante, coração acelerado, corpo inquieto... a ansiedade estava me atacando mais uma vez e o medo já não me permitia pensar em mais nada, a não ser no meu padecer.
Porém, quando o número três ia ser pronunciado, em seu lugar eu ouvi o ruído de uma cadeira ecoar no escritório e o bufar frustrado da mulher ao meu lado, que arrancou a seringa de uma só vez, obviamente me fazendo voltar a erguer as pálpebras.
Quando o fiz, minha amiga estava estendida sobre a cadeira e inconsciente, como se tivesse acabado de cair de um prédio.
Ela desmaiou? Mas era eu quem estava com a agulha na garganta...
Julia - droga! - se distanciou e com a mão livre, enterrou os dedos no próprio cabelo escuro, enquanto a outra segurava o objeto afiado ainda cheio.
Da minha boca, a única coisa que saiu foi uma espécie de grito mudo, ao mesmo tempo em que colocava minha mão sobre o buraco no pescoço, que sangrava e latejava de forma torturante.
Julia - vamos continuar essa conversa amanhã. Eu estou exausta... - suspirou. Logo voltando até sua mesa, se sentando e tirando o telefone do gancho para posicioná-lo na orelha, movendo os dedos sobre as teclas, discando. - preciso que Caio venha até a minha sala, agora. - finalizou a chamada dessa maneira, concentrando seu olhar cruel em mim assim que largou o aparelho.
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Mar De Mármore - O Paraíso É Uma Alucinação.
Mistério / Suspense[CONCLUÍDO] ________________ Dizem que o paraíso é uma ilha cercada por água, onde tudo e todos os seus problemas são resolvidos. Um lugar para se apoiar. Um lugar que te ajudará a ser forte. Mas e se o problema for esse mesmo pedaço de terra?. Ness...