Capítulo 30 - Reminiscência

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Conteúdo com linguagem imprópria, violência e insinuação sexual ●
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Victor Narrando

Miguel, o marinheiro que acabara de sair de uma das cabines, nos fitou por mais alguns segundos e em seguida saiu do banheiro, fingindo que não sabia, nem tinha ouvido nada, contudo não conseguiu disfarçar muito bem o seu "incômodo". E se eu percebi, com certeza Peter também.

- sem querer ser estraga prazeres, mas acho que ele está indo falar com o meu pai... - comentei, mantendo meu olhar perdido, sem foco em algo específico.

Peter não disse nada.

Durante o caminho até o banheiro, eu notei uma certa tensão vinda dele. Porém, realmente achei que fosse enjoo e que se quisesse algo, me pediria - considerando a sua personalidade - mas o meu anjo parece muito pior do que uma pessoa nauseada.

- Peter? - talvez ele apenas não tenha me ouvido - Peter, está me escutando? - resolvi perguntar.

Ele sacudiu a cabeça de um lado para o outro, como se quisesse afastar algo da sua mente naquele momento, talvez um pensamento ruim.

Peter - Breiddjame[¹]... - murmurou, com o olhar fixado na saída do banheiro, por onde Miguel tinha acabado de passar. Mesmo que tivesse dito em voz baixa, eu sempre soube falar norueguês, e tinha entendido o que ele disse. Só me recusei a acreditar, pois não fazia sentido o Peter ter dito aquilo.
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[¹] Breiddjame - filho da put*
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- o que foi? - sua expressão está diferente.

Peter - o que aquele homem está fazendo aqui?! - exclamou - e quem você pensa que é?! - falava e agia de forma assustadora, sua voz parecia mais firme, seu rosto mais comprimido, tudo nele era estranho.

Que merd* é essa?

- uou! - recuei - como assim? Eu sou a pessoa quem você acabou de beijar. - respondi na defensiva.

Fitava meu rosto com muita atenção, mas não parecia estar inteiramente ali, é como se, na mente dele, estivesse vivenciando outra situação, uma mais amedrontadora do que essa.

Peter - eu te beijei?! Claro que não, por que eu faria isso? - OK, já está esquisito aí - quer saber... Drit i det[²] - ergui uma das sobrancelhas.

Por que fala tanto, nesse idioma?! Eu nem sabia que ele tinha nacionalidade norueguesa.
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[²] Drit i det - Dane-se
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Victor - anjo, o que é que você tem? Por que está agindo assim? - suas pupilas inquietas, demonstravam que não controlava o próprio corpo, as mãos estavam tremendo e, por algum motivo, seu rosto expressava mais do que horror, era pânico.

Meu corpo instintivamente se afastava.

Peter - aonde ele foi?! - indagou, ainda obcecado por Miguel.

Victor - eu já disse, provavelmente falar com o meu pai, por quê? - respondia suas perguntas, contudo nem era por vontade própria, era por medo do que poderia acontecer se não o fizesse.

Peter - me leve até lá! - ordenou.

Victor - mas– me interrompeu.

Peter - agora! - transmitia frieza, assim como confiança em excesso.

E talvez sendo fraco demais, apesar de assustado, me sentia impossibilitado de negar algo àquela boneca.

Miguel (Marinheiro) Narrando.

Mar De Mármore - O Paraíso É Uma Alucinação.Onde histórias criam vida. Descubra agora