Capítulo 8 - Beijo Em Meio Ao Tic Tac

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Loretta Narrando.

Andei normalmente pelos corredores, dizendo a mim mesma que precisava encontrá-lo, porém, em uma rápida olhada em um relógio de parede no caminho, notei que estávamos quase na hora do jantar (cerca de 15:45) então, no lugar de procurar Peter por todo o hospital, decidi encontrar com ele no refeitório mais tarde (18:00).

Só enquanto caminhava por aí sem rumo, foi que percebi que estava muito apertada e necessitava usar o banheiro.

E se eu me encontrar com a Darla?

Mesmo preocupada e aflita com o que poderia vir a acontecer, eu não conseguiria segurar por mais tempo, as leis da natureza me chamavam como uma nave mãe - quer saber? Dane-se, em algum momento eu vou esbarrar com ela - pensava, na tentativa de me autoencorajar.

Me dirigi até o banheiro o mais rápido que pude, eu estava quase explodindo, e não ver aquela mulher durante o trajeto me deu um alívio enorme.

Entrei no banheiro.

Fui até uma das cabines e fechei a porta. Ao fazer isso, ouvi outras pessoas adentrando o lugar, acompanhado do som de vozes femininas conversando paralelamente.

Garota 1 - você viu o que a Charlotte fez com o Peter?! - a garota disse, soltando gritinhos animados.

Garota 2 - sim - riu - eu no lugar dela jamais teria coragem de fazer aquilo - seu tom era agudo.

Por que essa animação toda? Que irritante...

Garota 3 - pena que não foi um beijo de verdade -

beijo?

Garota 1 - é, mas um selinho é o começo perfeito de um relacionamento. - ouvi o barulho da porta se fechando e as vozes delas se calando com o passar do tempo, comigo ainda dentro da cabine.

- como assim? - meu rosto foi preenchido por surpresa e curiosidade - Charlotte e Peter, se beijaram? - questionei a mim mesma, apertando a descarga e me retirando dali, sem conseguir acreditar.

Como? Quando? por quê?

Milhares de pontos de interrogação nasciam sobre a minha cabeça, mas nada parecia fazer sentido o suficiente para fazê-los sumirem, nada mesmo.

Me aproximei de uma das pias, com o objetivo de lavar as mãos, e ao terminar, me dando conta de que nem mesmo tinha escovado os dentes, fui até meu armário e peguei as coisas de que precisava para parecer um pouco mais apresentável.

Porém, no momento em que retornei à frente do espelho, uma das cabines se abriu, me permitindo ver, além do meu reflexo, a figura da Charlotte.

Charlotte - o que foi? - perguntou tranquilamente, com os braços cruzados.

Me virei em sua direção. Tê-la atrás de mim no reflexo de um espelho me pareceu assustador, entretando não fazia ideia do que dizer.

- como assim? - ela ergueu uma das sobrancelhas. Eu continuei a me arrumar, finalizando minutos depois.

Charlotte - Não se faça de idiota! Você sabe do que estou falando - seu tom era brusco.

- só me deixe em paz... - pedi em um murmúrio, guardando as minhas coisas e caminhando até a porta, tentando manter a calma.

Charlotte - você ou o Peter? - disse, parada no mesmo lugar.

Não entendo o motivo, mas minhas pernas simplesmente pararam e acabei ficando com a cabeça baixa. Minha mão parecia ter sido colada na maçaneta, enquanto o corpo implorava para não deixar isso passar.

Charlotte - não se sinta mal... você sempre soube que eu sou melhor - segundos depois, senti a palma dela pousar sobre o meu ombro esquerdo, ato que, mesmo me incomodando, não fez eu me virar.

- você quem deveria se sentir mal, por insinuar um relacionameto entre mim e uma pessoa que eu considero como um irmão - girei a maçaneta, abri a porta e saí de lá o mais rápido possível.

A cada minuto, isso fica mais patético.

Voltei ao corredor e só depois, quando parei um pouco para me acalmar, foi que percebi que era hora do jantar, encarando o tictac de outro relógio de parede.

Desci as escadas devagar, ciente de que era cedo, e cheguei no refeitório. Assim que entrei, todos os pacientes, enfermeiros e cozinheiros me encararam.

Tentei ignorar os olhares e cochichos ao meu redor, e sinceramente não estava conseguindo. Ter vários rostos te fitando com tamanha atenção, sem saber o motivo e nem o que se passa em suas mentes, é algo merecedor de arrepios.

Avistei Peter, sozinho enquanto comia sentado na mesma mesa de sempre, então me dirigi até os cozinheiros, peguei um pouco de comida e em seguida me aproximei dele, sentando na sua frente.

Porém, depois de alguns minutos, Charlotte também chegou e incovenientemente se sentou ao lado do meu amigo.

Charlotte - olá! - sorriu.

Eu a ignorei, tentando me concentrar apenas na refeição. Peter não me dirigiu nenhuma palavra, mas meu cérebro se contorcia ao ver sua atitude.

Peter - Olá - falou indiferente, retribuindo o cumprimento.

Charlotte - a sua amiga já está sabendo sobre o nosso beijo - ela sorria de orelha a orelha.

Peter - ah... - suspirou desconfortável - você fala como se tivesse sido recíproco - tomou um pouco de sopa.

- como assim? Não foi? - perguntei, me manifestando de repente e tendo interesse em um assunto que, até aquele momento, era ignorado.

Peter - não - riu.

Charlotte - Foi sim! - bateu os talheres na mesa.

Peter - não mesmo - fez uma pausa - Eu estava no jardim, respirando um pouco de ar puro, totalmente em paz, mas você veio com a desculpa de que precisava de ajuda e, enquanto tentava inventar alguma coisa, se aproximou do meu rosto e me roubou um beijo... - o rosto da Charlotte parecia pegar fogo - se isso é ser recíproco, ando precisando de um dicionário novo - eu e Peter rimos, mas Charlotte não pareceu ter achado aquilo engraçado.

Charlotte - Isso quer dizer que não significou nada para você? - ela mirou Peter, com o olhar afiado como adagas.

Peter - não... - Charlotte se levantou, pegou sua bandeja e saiu totalmente estressada, devido ao vexame que acabara de passar.

- uau - coloquei a mão sobre a boca, contendo outra risada - isso é inacreditável.

Peter - ela não percebe o quanto é transparente, chega a ser engraçado - continuou a comer.

[...]

Peter - Mas e aí? O que houve com você? Por que sumiu? - voltou a ficar sério, terminando sua tigela de sopa.

- Ah... - exclamei ao me lembrar o que tinha que contar a ele - Peter, eu tenho que te falar uma coisa. - o mesmo fitou-me atento.
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Mar De Mármore - O Paraíso É Uma Alucinação.Onde histórias criam vida. Descubra agora