Capítulo 58 - Giz De Cera

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No dia seguinte, a chegada do C.Willians ao arsenal não tinha sido fácil, as águas que banhavam aquele lugar eram ferozes e, com o início do outono, ficavam ainda piores. O navio passou por muitos problemas que felizmente foram resolvidos, antes que acontecesse alguma coisa mais grave. Quando o Camélia ancorou, os tripulantes pegaram tudo o que podiam (Obs: as armas eram antigas, nem todas funcionavam, todavia havia uma quantidade razoável em bom estado, felizmente o suficiente) .

No momento em que terminaram, continuaram o seu percurso. Agora, eles estavam a caminho do H.P.L. E provavelmente, meu caro leitor, a caminho do fim dessa história.

Quatro dias depois...

No Manicômio ●

Julia Narrando.

- como assim, Charlotte?! Nos últimos quatro dias, as únicas coisas que você me conta são insignificantes. Incrivelmente uma mais estúpida do que a outra! - nós conversávamos na minha sala. Paciência tem limite...

Charlotte - mas eu não posso fazer isso co– "não pode...", claro, também vai começar com o discurso moral; "são meus amigos", "isso seria injusto", "jamais conseguiria machucá-los", "por que você está fazendo isso?!". Quando casei com Lian, não sabia que poria em prova a minha capacidade de sentir empatia. Falhei miseravelmente.

- olha só... - suspirei, seguidamente me levantando, indo a uma cômoda no canto e apanhando um pequeno espelho que decorava o lugar.

Ao caminhar na direção da ruiva, posicionei o objeto na sua frente, colocando-o sobre a mesa. Ação que tornara possível contemplar a feição confusa refletida pelo vidro.

- o que vê? - eu precisava a fazer perceber em que tipo de situação estava. Por isso, atrás dela, que continuava sentada, eu também assistia sua expressão mudar.

Charlotte - a mim. - respondeu com o olhar imerso na própria imagem.

- eu vejo a gazela mais lenta da savana... - tal confissão a fez se virar para mim, contudo eu guiei seu foco de volta ao pequeno espelho, apenas por pousar ambas as minhas mãos em seus ombros. - a última a fugir quando os leões atacam... - continuei - mas sabe o que é o mais importante aqui dentro? - ela negou com a cabeça - ser a segunda mais lenta... porque se os leões estão ocupados devorando a primeira... - observei suas pálpebras paralizarem. Não necessitava terminar aquela frase.

Arrumei a postura e, ignorando a forma como a garota parecia hipnotizada, apanhei o espelho e o choquei contra a madeira, o quebrando. Logo escolhendo o maior caco entre eles.

Charlotte - o que– teve as palavras cortadas pelo objeto afiado que cravou o dorso de sua mão direita, pousada sobre a própria perna.

- Até agora você foi a mais lenta... - sussurrei em seu ouvido. Pouco me importando com o grito agudo e doloroso, à medida que a garota via a mão transbordar e deslizar sangue em sua coxa.

- espero que compreenda. - retirei o vidro, o largando no chão e ouvindo o tilintar agradável de algo perigoso à pessoas de cérebro pequeno, e regressei a minha cadeira. O rosto da Charlotte só voltou a vida, quando me sentei. - não posso deixar que aquelas pessoas saiam daqui de novo... - as bochechas molhadas, os olhos agitados, a palma prestes a inchar... sinais tão simples quanto a ordem que a dei.

Charlotte - P-POR QUE?! POR QUE FEZ ISSO?! - berrou, estancando o sangue de uma mão com a outra e soluçando em meio ao choro.

Mar De Mármore - O Paraíso É Uma Alucinação.Onde histórias criam vida. Descubra agora