Capítulo 37 - Um Lugar Tomado Pela Tristeza

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Loretta Narrando

Minha mente vagueava, imaginando o estado de Peter e Vanessa. Estariam trancados como eu? Sendo machucados?

Obviamente, todos esses pensamentos eram inúteis. Eu não teria uma resposta tão cedo e tinha consciência disso, mas a mente humana não perde tempo imaginando se é conveniente ou inteligente se preocupar, ela apenas age. E claro, depois de passar por isso, você acaba se vendo sendo completamente irracional.

Um certo período de tempo se passou e de novo alguém abria a porta. Por isso, mais do que depressa, me deitei na cama, na intenção de acharem que estava sob efeito dos remédios que me deram.

Naquele momento, apenas sentia a concentração alheia focada em mim, me dando a estranha sensação de ser uma presa aos olhos de um predador.

Enfermeiro - levanta. - fingindo cansaço, me virei e o fitei de cima a baixo, em silêncio - levanta logo, está na hora do banho! - exclamou impaciente. E ainda obediente, fiz o que ele mandou.

Ao me pôr de pé, percebi que o homem trazia consigo uma toalha, escova de cabelo, xampu e sabonete.

- ta legal... - murmurei, me aproximando. Estendi as mãos para pegar aquilo que trazia, contudo o enfermeiro afastou os objetos de mim.

Enfermeiro - o que está fazendo? - ergueu a sobrancelha.

- eu vou tomar banho... - respondi hesitante - foi o que você disse.

Enfermeiro - as coisas aqui não funcionam assim, querida - isso no rosto dele, é uma espécie de sorriso?

- então, como funcionam? - questionei - não vá me dizer que é você quem vai me dar banho? - só de pensar em algo assim, já sinto meu corpo estremecer de aversão.

Enfermeiro - infelizmente para você, não serei eu quem farei isso - fez uma pausa - venha comigo. A fila é bem longa e se não formos agora, não vai ser limpa tão cedo.

fila?!

Ele saiu do quarto e me esperou em frente à porta, quando saí o homem basicamente me arrastou até o banheiro, agarrando o meu braço sem medir força alguma, como esperado.

A sensação nunca foi tão nostálgica. Eu nem me lembrava de como era ser, aos olhos dessas pessoas, uma espécie de laranja ou qualquer outra fruta com a qual se faz suco. Poderia jurar que meu braço estava roxo.

O funcionário continuava segurando as "minhas coisas" com uma mão e me guiava com a outra. A fila era realmente longa, ficamos no corredor por cerca de 30 minutos e ainda não havia chegado a minha vez, não que estivesse ansiosa, entretanto era frustrante.

Enquanto esperava, eu observava os rostos dos pacientes um por um, como uma forma de distração, porém, em meio a isso, alguém em especial me chamou atenção. Uma garota que eu apenas conseguia ver as costas, estava com a cabeça enfaixada por baixo dos cabelos ruivos, que eram amarrados em um rabo de cavalo baixo, o estranho nisso tudo era que algo nela me parecia familiar. Eu só não sabia o quê...

Quem é ela?

Não tirei os olhos de sua figura em momento algum, até que a menina e o enfermeiro que a acompanhava, entraram no banheiro. O homem saiu segundos depois, sozinho e de mãos vazias.

[...]

Minha vez finalmente tinha chegado, eu adentrei, e aterrorizada seria a palavra que eu usaria para explicar o que senti ao ver aquilo.

O local era divido da seguinte maneira: as cabines ficavam alinhadas do lado esquerdo da parede e em frente a elas, do lado direito, haviam seis banheiras colocadas da mesma forma. A ausência do que serviria para manter a privacidade das pacientes enquanto tomavam banho, deixava a cena ainda mais desrespeitosa.

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