Rescaldo

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Yagi Toshinori estava tão cansado.

Seja física ou mentalmente, ele poderia apontar todos e cada um dos motivos que o puxavam para a terra da exaustão. O homem já havia vivido seus melhores dias, (até mesmo dias melhores), mas nenhum dos ruins, até então, se comparava com aquele. Sentado na cama da enfermaria da UA, onde eram apenas ele e seus pensamentos, Toshinori permitir-se divagar um pouco.

Toshinori não era idiota. Por mais que muitos achassem que era o típico estereótipo de 'músculos sem cérebro', ele sabia que o ataque aos seus preciosos alunos havia acontecido apenas pelo simples fato de que ele, All Might, símbolo da paz e esperança, estaria lá. Foi a sua mera existência que colocou em risco a vida de vinte inocentes crianças e dois de seus apreciados colegas professores.

"Pare de se culpar." A voz tranquila de Neomasa o tirou de seus pensamentos. Virando para o lado, Toshinori viu como seu mais estimado amigo sentava-se na cadeira ao lado da cama e devolvida seu olhar. A solidariedade na expressão do detetive fez com que se afundasse ainda mais em culpa. "Não há nada que você poderia fazer Toshi. Apenas temos que agradecer o fato de que chegou a tempo de evitar uma tragédia."

"Ou uma tragédia maior? Eu me pergunto se é isso mesmo. Se eu não estivesse aqui, se não tivesse aceitado o trabalho na UA, eles não teriam sido atacados para começar."

"Não sabemos disso."

"É claro que sabemos. Nunca havia acontecido antes, acha mesmo que é apenas uma coincidência?"

"E então o que? Vai desistir? E o seu sucessor?" As palavras de Neomasa jogaram Toshinori, novamente, dentro de seu maior problema. A questão que estava tentando evitar pensar a todo custo o que, a cada dia que passava, tornava-se ainda mais impossível.

"Eu não sei... de um lado" Resignou-se em responder, sabendo que adiar a admissão não estava fazendo bem para ninguém. "Por um lado Nighteye tem aquele menino, Togata Mirio, que insiste em me apresentar. Eu o vi, nos corredores inclusive, e ele parece ótimo. Apenas...

"Não parece certo."

"Exatamente. Uma parte do One For All canta por algo que eu não sei. Que não consigo alcançar."

"E o outro menino, Bakugou? Você não estava me falando sobre ele meses atrás?"

"Mesma situação. Ele simplesmente não encaixa e, mesmo que fizesse, não aceitaria."

"E você sabe disso por qual motivo?" O tom curioso de Neomasa fez com que se sentisse culpado de ter escondido aquilo do amigo. Eles costumavam compartilhar seus problemas entre si, Toshinori perguntou-se quando que aquilo começou a mudar.

"Eu já ofereci." Admitiu por fim, de nada adianta tentar esconder. "Achei que ficaria exultante, dado seu orgulho. Mas ele apenas negou e até disse que não merecia. Eu não entendo mais nada sobre minha própria situação." O tom lamentoso de sua frase tirou um pouco do peso sob a implicação na mesma.

Toshinori caiu então mais fundo em seus travesseiros. No lado de fora o sol havia começado a se por, enviando raios suaves e cálidos pela janela. Era calmo, acolhedor e incompleto.

"Eu me forcei muito hoje." Continuou quando o outro permanecia sem dizer nada. Precisava preencher aquele espaço ou enlouqueceria. "Fiz mais do que devia e isso novamente cobrou seu preço. Meu tempo agora está beirando os quarenta minutos e mesmo assim não tenho alguém para assumir o meu legado."

"Eu deveria brigar com você por isso, tamanha insensatez, mas sendo essa mesma insensatez que o colocou nessa situação, para começar, acho que cairia em ouvidos surdos." O tom exasperado de Neomasa o divertiu, lembrando Toshinori de Nana e como a mulher o admoestava frequentemente.

A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).Onde histórias criam vida. Descubra agora