Motivos escusos

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Iida Tenya foi a primeira das crianças problemáticas da 1-A a conhecer pessoalmente Todoroki Shouto e, sinceramente, ele poderia ter passado perfeitamente bem sem aquilo.

Ele estava sangrando em um beco, a mão mal-tratada por haver sido pisada e perfurada, enquanto encarava o assassino de heróis junto de outro profissional (Nativo, sua mente forneceu inutilmente) a poucos segundos da morte. Tenya lembrava-se vagamente de fugir de Manual, aproveitando o tumulto causado pela Liga dos Vilões, em toda a cidade de Hosu, e correr pelos becos atrás daquele homem. Quando o encontrou, a segundos de cometer outro assassinato, Tenya atacou-o sem pensar duas vezes.

Mas não foi para salvar o herói em perigo.

Sua raiva cegou-o, percebia, e isso o deixou com movimentos desleixados. No final estava na mesma situação: caído no chão, incapacitado pelo Quirk de Stain, enquanto via como o fio da espada chegava cada segundo mais perto de dividir sua carótida.

Era assim que ele morreria então? Pateticamente? Tenya havia desistido de sair daquilo. Apenas implorava, nos cantos de sua mente, para que a família o perdoasse.

Algo parou a lâmina, entretanto. O ar esfriou consideravelmente em todo o beco e a poeira gelada sobre si anunciou que mais alguém chegara ali. O que lhe levava a situação atual.

"Oh, esse é o Ingenium Jr. Que incrível." Essa voz não pertencia a Tenya, Stain ou mesmo Nativo e foi então que Todoroki apareceu, vestindo as mesmas roupas escuras da USJ.

"Ora, veja quem temos aqui afinal de contas, o amado filho de nosso herói Nº2." Stain parecia empolgado com a intromissão. Um encontro de amigos em meio à carnificina. "E o que faz aqui Shouto-kun?" Eles ignoraram o olhar chocado e amedrontado dos dois heróis caídos, enquanto agiam como se fossem apenas os dois.

"Sabe como é... coisas. Recados pra entregar, contas para pagar. Algo nesse gênero. Apenas de passagem, cortando caminho enquanto observo a cidade pegar fogo. Mas vejo que cheguei numa boa hora e, considerando que realmente tive um bom dia, cheguei à conclusão de que deveria fazer uma boa ação."

"Oh, e que boa ação seria essa?"

"O menino ali, eu acho que vou salvá-lo?" (Por que soava como uma pergunta?)

"Está falando sério?"

"E por que não? Não gosto de assassinatos sem motivo. Por mais que eu goste muito de você, não posso conviver com a voz da minha consciência se você fizer isso. O que ele diria?"

"Deve ser muito barulhenta essa voz então."

"Oh, sim. Realmente muito vocal..."

O toque zombeteiro, o tom sarcástico e a postura quase relaxada. Tudo em Todoroki Shouto mostrava como ele via Tenya de maneira insignificante, como se a situação realmente não importasse. Stain gargalhou com aquilo, como se nunca tivesse rido. Dizer que Tenya estava chocado com isso seria o eufemismo do século.

A conversa foi interrompida por um barulho e mais uma vez, Tenya permitiu-se ter esperanças (Hosu estava um caos, afinal de contas. Algum herói deveria aparecer ali), apenas para encarar um latão velho rolando no fim do beco.

"Ok, ok, já entendi. Agora voltando ao meu pseudo heroísmo de hoje..." Enquanto falava Todoroki se posicionou, uma barreira Tenya percebeu, entre seu corpo caído e o assassino na sua frente. Embora seus olhares fossem gélidos, em uma descrição bastante generosa, Todoroki Shouto parecia estar realmente os protegendo.

"Saia daqui." Esforçou-se por deixar sair de sua garganta. As palavras de Tenya poderiam ser sobre o tempo ou carrapatos, levando em consideração a total falta de interesse do homem, embora o mesmo tenha olhado em sua direção. "Esse é o meu problema, minha vingança..."

A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).Onde histórias criam vida. Descubra agora