Calmaria

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A ala Kiyashi estava, com toda a certeza, animada demais para Hitoshi. Era uma cacofonia de barulho, pessoas indo e vindo enquanto tentavam desviar de outros corpos em movimentos e suados. Ele faria qualquer coisa para ter ficado em casa.

Claro, quando Ashido ligou animada para ele naquela manhã, Hitoshi, mesmo que relutantemente, concordou com seu argumento de que eles precisavam repor suprimentos e itens essenciais para a sua viagem. O acampamento de treinamento já estava próximo, ao virar da próxima semana, e fazia sentido que a turma se reunisse para realizar suas compras.

Sinceramente, Hitoshi não precisava de muitas coisas para levar. Talvez uma nova escova de dente, mas isso poderia ser facilmente providenciado na loja de conveniências próxima a sua casa. Foi o argumento da menina de que, como classe, eles deveriam ficar juntos, principalmente quando pareciam ser visados por vilões, que acabou comprando o menino.

Ele não era ruim, afinal de contas. Anos sendo visado e mal tratado por seus colegas, por ser um vilão em potencial, haviam deixado-o hesitante e retraído, mas nunca indiferente. Ele se importava com a UA, se importava com a classe 1-A, os primeiros a considerarem-no como amigo.

Uraraka, por exemplo, era aquela que primeiro tinha falado com Hitoshi, derrubando uma parte de suas barreiras com um sorriso suave. Então fora Iida e Yaoyorozu, ambos responsáveis e confiáveis, mas gentis sob sua fachada séria. Asui era amigável e franca. Muitas vezes as pessoas se encolhiam em suas palavras, mas Hitoshi apenas a agradecia, pois a menina sempre deixava suas opiniões claras para todos. Ajudava que ela parecesse ter uma boa opinião sobre ele.

Havia aqueles como Tokoyami que eram naturalmente fechados, da mesma forma que ele, mas poderiam render boas conversas. Havia Kaminari, pateta, mas que era incrivelmente fácil de conviver.

Então ali estava ele, tentando não perder de vista seus barulhentos e empolgados colegas, ao mesmo tempo em que se mantinha o máximo possível afastado de sua confusão. Anotada contra seu pulso, em tinta preta, estava a grande lista dos três itens que acabaria por comprar ali.

(Hitoshi realmente precisava de uma escova de dente nova, afinal de contas.)

Ele poderia dizer que havia, finalmente arranjado um bom lugar para estar. Seus pensamentos foram interrompidos pelas desculpas entusiasmadas de Yoarashi para uma jovem em que tinha esbarrado e Hitoshi perguntou-se como aquele garoto poderia ser tão... intenso, em tudo que fazia.

Puxando-o pela mão ele podia ver Kirishima, tão vermelho quando o próprio cabelo, que tentava fazê-lo levantar a cabeça do chão e arrastá-lo para longe ao mesmo tempo.

"Oh." Uma voz sussurrou ao seu lado, fazendo-o só então perceber que havia alguém parado ali. A figura destacava-se por sua vestimenta de tal forma que era estranho ninguém abordá-lo. "Não é incrível como os jovens se dão tão bem hoje em dia, Hein, Shinsou Hitoshi-kun?"

Hitoshi poderia apontar todas as trinta e quatro maneiras que seu corpo gelou com aquela frase, posteriormente. O tom falsamente doce era como um veneno letal escorrendo por sua pele, buscando apenas uma pequena fissura para entrar em seu sistema. Era aterrorizante.

"Eu sugiro que vocês saiam daqui. De preferência agora." O outro continuou desconsiderando se Hitoshi o ouvia ou não. "Mande uma mensagem para seus colegas ou qualquer coisa do gênero, mas tire-os dessa praça, por favor?"

"E por que eu faria isso?"

"Shigaraki Tomura. Tire-os da praça antes que ele note algum de vocês. AGORA!" Ele não precisou dizer mais nada antes que Hitoshi sacasse seu celular e digitasse qualquer besteira no chat em grupo.

A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).Onde histórias criam vida. Descubra agora