O suave bater de suas assas (oh borboleta, tão frágil é sua beleza...)

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Não estou com muitas ideias de como abrir esse capítulo, então...



-????:

Houve uma época em que Touya acreditava em heróis.

Ele era o filho do herói número dois, afinal de contas. Seus primeiros passos foram dados em meio á gloria de seu pai subindo para o topo.

Os primeiros anos do casamento entre Enji e Rei foram paralelos ao crescimento do mesmo nas fileiras, sua subida ao pódio. Ele tinha as esperanças e a capacidade de ser o melhor de todos, seu casamento concedendo a estabilidade que ele parecia precisar enquanto sua jornada continuava vorazmente. Foi apenas quando ele chegou ao penúltimo degrau que atingiu um obstáculo intransponível: All Might.

Touya não se lembrava do momento em que seu pai meio distante tornou-se um déspota. Num dia o homem estava tão estranho como de costume e o no outro ele estava levando seu filho até onde passava suas tardes quando não estava em serviço.

Nas primeiras vezes Touya sentiu-se emocionado por haver uma atividade em que ele poderia se aproximar do pai. Mamãe estava ocupada cuidando de pequena fuyumi e ele não tinha mais com quem brincar em um longo tempo. Não demorou para que ele passasse a odiar aqueles momentos, porém.

Não demorou para ele entender que não eram normais os golpes que levava de Enji e nem que a dor que sentia a noite não deveria ser sentida. Não era normal que ele se ferisse tanto com o próprio fogo ou que não recebesse nenhum elogio quando fazia algo certo. A única coisa que havia, sempre era a demanda por mais: mais rápido, mais forte, mais quente!

Essa rotina continuou durante nove anos. Ele viu como Fuyumi crescia e começava a dar seus primeiros passos hesitantes enquanto o humor do homem tornava-se mais negro e errático. Ele via a expectativa que o mesmo usava ao olhar para a menina nos dias próximos ao seu aniversário de quatro anos.

Touya viu a decepção dele quando confirmou que ela possuía apenas o gelo de Rei e viu também a teimosia quando ela a levou, mesmo assim, para o dojo, tentando ver se ela era capaz de aprender alguma coisa da mesma forma que ele.

Eles cresceram naquela rotina de serem arrastados para tardes de 'treinamento' e serem consolados e remendados por mamãe à noite. Mesmo quando a mulher esperava pelo seu novo irmão, Natsuo, ela fazia o máximo possível para dá-los carinho quando Enji acabava com a dose de desprezo diária.

Então Natsuo nasceu e Rei quebrou pela primeira vez.

Foram semanas antes que sua mãe fizesse algo além de chorar quando olhava para seu novo bebe. Foram naqueles dias que vovó viera para casa e fizera companhia para eles enquanto mamãe mal saia de seu quarto. Foram bons dias para ambas as crianças já que papai não ficava em casa e, consequentemente, não os levava para o dojo.

Mas então mamãe saiu de seu quarto, sorrindo pacificamente enquanto carregava o bebe Natsuo pela propriedade. Vovó voltou para a própria casa e papai voltou a treiná-los.

O treinamento de Fuyumi parou em algum momento depois que Natsuo fez sete anos. Ela suspirou aliviada quando finalmente foi dispensada de tardes de exercícios exaustivos e de ter que lutar contra Touya. O treinamento de Natsuo nunca veio, para alivio dos dois mais velhos, embora eles tivessem que secar as lágrimas do mais novo do mesmo jeito.

"Não é sua culpa." Diziam entre sussurros escondidos. "Você é perfeito do jeito que é Natsu." Garantiam para o menininho que, graças aos céus, nunca manifestou fogo nem gelo.

A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).Onde histórias criam vida. Descubra agora