Tenko teve uma infância feliz até os quatro anos. Foi um período alegre e especial em que tinha uma casa, pais e um futuro garantido. Ele cresceria para ser um herói, como vovó. Ele daria orgulho para sua família e também uma casa maior para que todos vivessem juntos.
Mas então seu aniversário chegou e com ele o braço de mamãe foi embora. Ele ainda se lembra do grito de agonia da mulher enquanto a carne desmanchava. Ele lembra do medo e ódio no olhar de seu pai enquanto socorria a esposa desesperada.
Ele lembra dela lhe dizendo " não olhe para cá Tenko!" ou "saia daqui."
A partir dali, tudo ruiu.
Ele, como a boa criança que era, escondeu-se em seu quarto enquanto ouvia portas batendo a ambulância se aproximando e papai gritando em desespero. Mamãe gritava também, chorando de dor e querendo apenas que alguém cuidasse de seu pequeno bebê.
Mesmo com todo o medo, mamãe ainda lhe amava (mesmo Shigaraki nunca se esqueceria daquilo, do pouco tempo que contou com o amor de sua mãe).
Só que mamãe não voltou para casa. Um papai bêbado e violento explicou para a pequena criança como mamãe nunca voltaria, pois Tenko havia a matado.
Ele contou para Tenko sobre como ela perdeu sangue demais, machucou-se além do reparo.
Foi naquele dia que Shimura Tenko foi levado até as portas de um orfanato e abandonado.
Foram semanas sendo ignorado naquela instituição, todos com medo de suas mãos.
Foram diversas escaldas em água quente, que a diretora fingia não ver. Que todos se recusavam a tratar.
Lavar, enxaguar e repetir.
Foi assim durante oito orfanatos.
Um fato sobre Shimura Tenko: ele já acreditou em heróis, uma vez.
Ele acreditou que poderia ser um. Ele acreditou que alguém descobriria sobre o abuso, sobre a dor, e o tiraria do inferno.
Ele acreditou que All.Might o salvaria.
Tal como seu Quirk, numa verdadeira ironia do destino, todo seu sonho de criança inocente virou pó.
Todos temiam Tenko. Eles temiam suas mãos, eles temiam seus dedos e olhos. Todos olhavam para a pequena criança a viam um monstro onde só havia uma alma machucada e traumatizada.
Como tal, foi um monstro que ele se tornou.
Sensei lhe deu as oportunidades e a força necessária para transformar sua dor em impulso, para criar um mundo em que todos entendessem como a violência apenas gera violência e que tudo carecia de sentido quando seus próprios heróis eram assassinos credenciados.
Não são heróis aqueles que escolhem quem querem salvar.
Os seus heróis são tão vazios quanto o próprio Tomura, tão isolados e corruptos quanto aqueles que eles dizem proteger a sociedade contra. A sociedade tão vazia que transforma tortura em espetáculo. Era difícil encontrar algo que realmente fugisse a essa nojenta norma. Pelo menos na grande maioria das vezes.
Olhando para as costas de Todoroki Shouto, enquanto se afastava de sua nova sede, fez com que Shigaraki reconhecesse nos olhos do garoto, lá no fundo, o leve brilho da esperança e amor.
E acontece que, ciumento e egoísta, como assumia que era, Shigaraki não permitiria que justamente aquele menino, que tinha tudo para ser tão quebrado quanto ele, pudesse terminar sua história em gentileza.
Tomura foi condenado para ser um monstro pela sociedade, então como um monstro ele agiria. Seu próximo capricho seria, então, destruir o pequeno brinquedo que Todoroki Shouto mantinha. O capricho que tinha por sua vida e esconderijo. Aquele que protegia os restos de sua mente e impedia que os pedaços fossem levados da mesma forma que Tenko havia sido.
Todoroki Shouto deveria ser o mesmo tipo de monstro que Shigaraki Tomura. Ele garantiria isso, pessoalmente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).
FanfictionEle contava os dias, era algo sobre si. Contava os dias em que esteve no inferno. Contava os dias até o momento em que poderia fugir de lá. Contava os dias sem a presença de sua mãe e os dias após a partida de seu irmão. O que ele não contava era qu...