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"Havia esse garoto..." lhe dissera bakugou-shounen naquele dia na enfermaria. O sol estava ainda mais baixo, a noite praticamente ali.
"Havia esse garoto, energético demais, ingênuo demais, que acreditava que poderia ser um herói. Ele vivia no mesmo bairro que eu, no condomínio algumas ruas abaixo de minha casa e, mesmo que fosse simples, tudo nele reluzia a limpo e bem cuidado.
A mãe desse garoto era a melhor amiga da minha e é por isso que crescemos juntos. Todas as minhas ações, desde que me lembro, foram passadas junto ou pelo menos perto dele, tanto que não existia um sem o outro.
Ele era alguns meses mais novo do que eu e, quando manifestei meu Quirk o idiota começou com a contagem regressiva até seu próprio aniversário. Só que, 15 de julho chegou e passou e ele continuava igual.
A tia pedia paciência. Pedia que ele esperasse e que Quirks não se manifestavam sempre no dia em que completávamos os 4 anos. Então ele esperou mais uma semana, e outra e mais uma... No final do segundo mês ambos estavam preocupados e foram atrás de um médico especialista.
Naquele dia Izuku voltou pra casa com a notícia de que era Quirkless e eu não sabia como lidar. Uma parte de mim estava triste por ele, por sua perda. Uma parte, confesso agora que a maior, estava lívida pois, que uso eu teria para alguém tão inútil? Tão quebrável?
Eu não sei, sinceramente, quando que a nossa amizade começou a se deteriorar. Talvez tenha sido no momento de minha primeira explosão? Ou talvez nunca tenha existido amizade para começar, me conhecendo eu não duvido disso. A questão era que o nosso relacionamento já estava frágil desde então, tenso na melhor das hipóteses, e desmoronou de vez quando eu cai em um riacho.
Ele ainda pertencia ao meu grupo, ainda caminhávamos e desbravávamos juntos os arredores do bairro e parquinhos e ele foi o único a tentar me ajudar. Aí a merda ficou real.
Eu apelidei Izuku de Deku: eu precisava jogar na cara dele como era superior, como ele dependia de mim. Eu tinha na minha mente que precisava submetê-lo torná-lo o capacho que eu via mesmo que continuasse se levantando. Às vezes por mim e às vezes contra mim. No fim, essas últimas eram mais frequentes.
Eu o intimidei durante sete anos All Might. Desde os quatro anos tudo que pude fazer foi transformar a vida de outra pessoa num inferno, sabendo o que eu estava fazendo e, mesmo assim, não me importando. Me orgulhando! Eu feri, queimei e bati em alguém que sempre levantava e dizia que seria um herói como você.
Eu sempre te admirei e não podia admitir nada do que ele dizia. Ele era um fanboy obsessivo assumido também. Ele conhecia tudo sobre você que pudesse ser conhecido. Cada coisa que ele ganhava, mesmo que a tia não pudesse comprar de tudo para ele, era sobre você ou pelo menos fazia referência.
E tem mais isso também: Eu sabia que Tia Inko não estava em boas condições financeiras depois do divórcio. Eu sabia que ela trabalhava em dois empregos diferentes apenas para poder pagar o aluguel e a escola de Izuku e nunca senti remorso nenhum ao destruir as coisas dele.
Acho que ela estava guardando dinheiro para a faculdade de Deku, para que ele pudesse fazer algo como estudar no exterior, em algum país em que a porcentagem de pessoas Quirkless fosse maior do que aqui ou pelo menos tivesse mais tolerância. Ela queria dar um início novo para ele, algum dia.
Eu sei que se eu não fosse tão idiota ela não precisaria fazer isso. Ela não precisaria mandar o filho para longe, nem guardar uma fortuna. Ela não teria dois empregos. Izuku não ficaria tanto tempo sozinho e nem teria tido que acompanhar a tia muitas vezes, quando ela fazia hora extra durante a noite.
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A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).
FanfictionEle contava os dias, era algo sobre si. Contava os dias em que esteve no inferno. Contava os dias até o momento em que poderia fugir de lá. Contava os dias sem a presença de sua mãe e os dias após a partida de seu irmão. O que ele não contava era qu...