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(Aquilo foi, em falta de palavras melhores, catastrófico.)
Shouto estava num canto mais afastado que os demais enquanto assistia a troca entre Shigaraki e Chisaki Kai. O Yakuza aparentava estar sozinho ali enquanto encarava o chefe da Liga cercado por seus asseclas. Mais perto de Overhaul estava Twice que acenava energicamente enquanto tentava fazer sua mediação. As introduções de ambos os lados eram arrogantes, na melhor das hipóteses, e cresciam o desconforto em um ritmo alarmante.
Mais uma vez ele xingou-se por aceitar estar ali, embora sua presença fosse realmente necessária (parte dele desejava ter ganhado o 'par ou impar' contra Touya e ter ficado em casa. Oh, triste realidade que o condenou a mais uma fábrica abandonada e companhias estúpidas. O que ele não faria por doce Izu...).
A ele, então, cabia muito mais a função de observador do que qualquer outra coisa. E era isso que ele fazia: observar ambos os lados esperando o momento em que ele sabia, alguém deles se descontrolaria. Não era tanto por ignorância ou idiotice, mas um local tão carregado de tensão era obrigado a colapsar cedo ou tarde.
Ele não disse nada quando os ânimos começaram a se exaltar. Shouto achou divertida e surpreendentemente exata a alegação de Overhaul de que o que controlava o mundo do crime não eram os heróis, e All Might, e sim o mero rumor de All for One.
(Era irônico o fato de que a própria encarnação do mal era a responsável pelo mesmo não sair de controle.)
Em outras situações talvez Shouto conseguisse estar perto do homem em algo relativamente mais próximo a cordialidade. Talvez se suas próprias negociações não dependessem tanto de saber exatamente como iriam as da Liga ele não tivesse que se sentir tenso o suficiente para andar nas pontas dos pés. Shigaraki parecia pensar que os números eram vantagem suficiente contra a Yakuza, sem preocupar-se com o fato de que, sozinho, o Quirk de Chisaki Kai poderia matar a todos dentro de instantes. A situação toda era uma bomba relógio que Shouto não queria estar por perto quando estourasse, quanto mais no meio.
A coisa toda foi à merda, é claro, a partir do momento em que a conversa foi levada para o lado pessoal. Passaram-se apenas alguns segundos entre o momento em que Magne (doce Mag, por quê?) saiu de sua posição até quando a vilã explodiu em grotescos pedaços de carne, sobrando apenas algumas partes e... coisas que ele não queria exatamente pensar sobre o que eram.
Shouto quase riu ao ver que, provavelmente, eles morreriam mesmo ali, se nada fosse feito para aplacar os ânimos. Por mais que ele estivesse ansioso por livrar-se de qualquer ligação que tivesse com Shigaraki e a Liga, entretanto, eles ainda eram uma capa necessária. Então ele agiu.
(O pequeno incômodo em seu peito, que ele ainda não pensaria, ao olhar para o que restou de uma de suas poucas 'pessoas realmente agradáveis' dentro da Liga seria deixado para análise posterior.)
Shouto odiava usar seu fogo, mas ele não negava que uma parede do mesmo, naquele caso, era muito mais eficiente do que o gelo. Ao estarem separados por um elemento que nenhum dos dois poderiam tocar sem serem feridos, tanto Overhaul quanto Shigaraki obrigaram-se a recuar das gargantas um do outro.
Não foi muito legal, entretanto, como o restante dos Oito Preceitos, invadiu o prédio (esperado, é claro, mas ainda assim uma dor), atacando-o junto com a Liga. Ele obrigou-se a levantar mais uma parede flamejante dessa vez, após ser atacado por um dos mascarados de Overhaul e ter com isso um corte de, facilmente, quinze centímetros em seu braço direito. A falta de dormência indicava a Shouto como não havia nenhuma substância preocupante na lâmina (um conhecimento de história meio trágica, que não vinha ao caso agora.)
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A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).
FanfictionEle contava os dias, era algo sobre si. Contava os dias em que esteve no inferno. Contava os dias até o momento em que poderia fugir de lá. Contava os dias sem a presença de sua mãe e os dias após a partida de seu irmão. O que ele não contava era qu...