A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).

Reuniões.

Todo o planejamento levava a crer que seria uma missão relativamente fácil:

Entre na sede dos Oito Preceitos, renda o máximo possível de integrantes do grupo Yakuza e descubra de onde Chisaki Kai retirava o DNA que usava para a fabricação de suas drogas anti-quirks.

Nada mais do que o esperado e necessário para uma missão de desmantelamento de um quartel criminoso.

Enquanto as instruções eram passadas para o seleto grupo de heróis e estagiários de três deles, Aizawa apenas poderia observar como seus próprios alunos continham sua ansiedade e empolgação ao terem a permissão de participar em algo tão grande. Havia a gana de se provar, o desejo de fazer a diferença e mostrar-se para o mundo desde já.

Pobres crianças, pensou ele, que não sabem ainda o nível de responsabilidade que está lhes sendo atribuída.

Shouta era um dos primeiros a admitir que aquele planos possuía... não muitos buracos, visto que Sir era conhecido pela sua eximia previsão bem como por sua inteligência. Grande parte dele se baseava, no fim das contas, em todos os detalhes que poderiam mudar o modus operandi e alterar sua configuração de alguma forma crítica.

Mas, mesmo com todas as variáveis que Sir poderia calcular para como agir baseadas nas informações que possuíam, era fato inegável que o que mais preocupava o homem era justamente os fatos que lhes escapavam (tão importantes como, se não mais) e como esses alterariam toda sua dinâmica. Sendo honestos, muita coisa era desconhecida para a equipe de heróis:

Faltava, como já dito, o conhecimento da fonte da droga. Mesmo com todas as suposições e teorias levantadas a partir de exames de sangue, certezas não poderiam ser asseguradas por ninguém. Overhaul tinha uma medonha forma de manter-se sigiloso que, mesmo entre todas as tocaias e patrulhas, pouco de definitivo pode realmente ser descoberto.

Faltava a configuração do grupo Yakuza bem como sua relação com Liga dos Vilões. Entre as muitas incertezas que ainda havia na operação, ainda assim, a mais preocupante de todas era exatamente o fato de que os objetivos de Overhaul não estavam completamente claros. O que ele ganharia, afinal de contas, com aquilo tudo? Onde ele queria chegar?

Talvez o mais importante também fosse a falta de confirmação da sociedade entre o homem e a Liga. Embora reuniões tenham ocorrido semanas atrás, o silencio constante provindo dos dois lados era inquietante por si só.

Shouta conhecia a mente de muitos vilões, ele já havia lidado com muitas coisas, mas nem mesmo ele poderia responder aquilo. A maioria das ações, independente de quem fosse, sempre parecia ter bases sólidas que poderiam ser descobertas desde que o praticante fosse estudado.

Aqui, entretanto, as bases parecem ter sido construídas sobre a areia: eles cavariam e cavariam apenas para encontrar pó. Não apenas em relação às relações entre os envolvidos. A situação fedia muito mais do que ele queria pensar. Seus instintos (que dificilmente erravam após tantos anos de profissão) insistiam em dizer, e insistir, em como deveria haver muito mais sobre isso do que apenas o desejo de um grupo em enriquecer enquanto causa caos.

"Tudo muito bom, mas..." Disse um dos heróis quando as primeiras explicações foram feitas, interrompendo seu processo de pensamento. Shouta, então, viu-se mais uma vez sentado na desconfortável cadeira de plástico na sala de conferencias do escritório de Nighteye. Ao seu redor, a equipe de profissionais chamada através da HN. "Mas eu não acho que sejam informações o suficiente para justificar uma verdadeira invasão como a que você propõe. Quer dizer... vocês não acham que estão vendo demais aqui?"

Por um fugaz momento Shouta perguntou-se sobre o que exatamente era ver demais, com ira, lembrando-se logo após que apenas ele poderia ter mais informações a respeito do assunto já que Tsukauchi havia o procurado diretamente a respeito do assunto. Podia-se quase dizer que Shouta estava ali por motivos pessoais.