Legado

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Você me pergunta uma vez se eu morreria por ele? É claro que eu não faria isso. Morrer e deixá-lo sozinho nesse mundo de merda? Sem chance nenhuma.

Mas você nunca me pediu se eu mataria por ele. Por que nesse caso, eu aniquilaria cada alma desse planeta com prazer.

Entende a diferença?




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O encontro com Todoroki foi algo que continuou na mente de Shouta durante muito tempo. Socorrer a adolescente traumatizada o impediu de ir à busca do menino, mas isso era algo que não o preocupava tanto assim, por algum motivo. Agora ali, vários dias após o ocorrido e com as novas informações que parecia estar desenterrando, Shouta pegava-se a pensar na criança cada vez mais.

Existia algo em Todoroki Shouto, uma energia estranha que parecia distanciá-lo de tudo e todos ao seu redor. Ele não era um vigilante, definitivamente não era um herói, mas ele não parecia estar completamente junto dos vilões também. Metaforicamente falando o menino era cercado, como uma redoma de vidro e sem nenhuma abertura aparente. Talvez isso fosse alguma forma estranha de inclinação vinda do fato de que Shouta era uma das poucas pessoas que conheciam algo sobre o seu passado (realmente conheciam pelo menos), mas ele não queria acreditar que o menino havia perdido toda e qualquer esperança.

E então, somando dúvida ao que já era incerto, ainda havia o relato de Shinsou sobre a estranha figura da ala Kiyashi e as mensagens que recebeu no hospital, confirmando sobre a localização de Bakugou. Havia a desconfiança casa vez mais flagrante de que o menino Shouto poderia ter aliados tão, ou mais, perigosos quanto a própria Liga dos Vilões e Shouta não sabia como se sentir perante isso, ou mesmo como isso mudava os poucos termos já conhecidos.

Em um mundo quebrado e carente de sentido, o que fazia Todoroki seguir em frente?

Essa era a principal pergunta na mente de Shouta. O professor em si nada mais queria do que poder orientar aquele garoto que parecia tão perdido. Mas então, Shouta tinha esse direito?

Ele sabia que Shouto fora criado e cuidado pelo irmão mais velho. Tanto o acampamento quanto Kamino provaram para os heróis como Shouto e Touya eram, assumidamente, um grupo e uma família. Cúmplices e vitimas. Tentar separar os dois rapazes seria a mesma coisa que separar o hidrogênio do oxigênio e esperar que continuasse sendo água: ou seja, impossível.

Ao contrário dos outros heróis, entretanto, ao contrário do próprio All Might, Shouta não queria trazer aqueles meninos para casa, contrariando qualquer expectativa que houvesse sobre ele quanto a isso. Se qualquer coisa Shouta queria mantê-los os mais afastados o possível do lugar que deveria ser seu lar.

A ira de Endeavor, que tanto assustava as pessoas ao seu redor e fazia o restante das pessoas tremerem, apenas garantia a Shouta como ele nunca se esqueceria do passado ou como ele aprendeu, mais uma vez, como o mundo não era gentil.

Independente do resultado das suas investigações, independente do que ele descobriria sobre a vida dos irmãos Todoroki, seus planos ou o que queriam para o futuro, Shouta faria o máximo possível para garantir que esses meninos não caíssem novamente nas mãos de Endeavor. Ele não era ingênuo, nem idiota, ele sabia que capturar esses garotos era o equivalente a uma sentença prisional. Isso não queria dizer, entretanto, que ele devolveria as chaves da cela para o herói flamejante.

Todoroki Touya e Todoroki Shouto precisavam ser presos e impedidos. Mas eles não voltariam para o lugar de onde escaparam. Shouta não permitiria.

A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).Onde histórias criam vida. Descubra agora