Pra onde vamos agora?

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Se perguntado a Hitoshi qual a situação mais enlouquecedora de sua curta vida ele, com toda a certeza do mundo, diria que foi ficar soterrado embaixo de pilhas de cobertores naquele hospital. Após a chegada dos paramédicos e bombeiros no acampamento foram apenas alguns minutos até que ele fosse socorrido e colocado sob mantas térmicas e levado para atendimento de urgência.

Mesmo dois dias depois o menino ainda parecia sentir o frio dentro de seus ossos ou como a carne protestava, traumatizada pelo choque térmico. Ele já havia lido como a hipotermia poderia parar seus órgãos internos ou mesmo atrofiar os músculos, em casos mais extremos, mas nada se comparava a sensação em primeira mão.

(Parte de si, irônica, apontou inutilmente para Hitoshi como ele havia acabado de receber uma dose de seu próprio Quirk, de certa forma. Perder o controle de seu corpo fora completamente traumatizante, afinal de contas.)

Mas isso não era nem de longe o pior. A pior parte de tudo era ter de ficar preso em uma cama enquanto apenas podia escutar sobre seus colegas que permaneciam em estado crítico.

Yaomomo estava em condição similar a sua. Ela estava se recuperando da extrema desnutrição, devido à queima da maioria da maioria de sua gordura corporal no acampamento, da mesma forma que permanecia em observação por causa de uma suspeita de concussão.

Hakagure e Jirou ainda estavam desacordadas pela inalação excessiva do gás.
Uraraka carregava novas cicatrizes de cortes, juntos daquelas que já tinha, e seu crescente desconforto, sempre que alguém pedia como exatamente ela as tinha recebido, ensinou seus colegas a não tocarem mais no assunto. A menina tivera Tsuyu junto com ela, talvez a outra pudesse fazê-la se abrir com o tempo.

E então havia Kirishima e Yoarashi cuja atitude enquanto o visitavam acendeu algumas suspeitas severas na mente de Hitoshi. Fazia parte de sua vida já, lidar com pessoas estavam planejando algo em suas costas, ou contra ele, então não era difícil de perceber que os meninos tinham motivos diferentes da simples visita por solidariedade, apenas ao entrarem em seu quarto.

Yaomomo ainda não estava recebendo visitas autorizadas quando Kirishima apareceu pela primeira vez. O menino ficou apenas tempo o suficiente para ver a situação de Hitoshi, após sua recuperação inicial, mas o fato de não olhá-lo nos olhos foi o que levantou suas primeiras suspeitas. Yoarashi seguiu logo depois e ambos saíram juntos do quarto após algumas desculpas que Hitoshi não acreditou realmente.

A segunda vez foi logo após a liberação de Momo em receber visitantes. As primeiras horas foram passadas em conversas com a polícia e detetives atrás de portas fechadas e pressão evidente. Mesmo que estivesse preso em sua própria cama, o menino escutava de seus colegas como a espera para vê-la tinha sido longa.

Ele não sabia com certeza, então, o que os dois colegas poderiam querer novamente com ele, mesmo que tivesse uma vaga suspeita. Ver Kirishima ficar em seu quarto ansioso, entretanto, e fechar a porta com cautela depois que toda a turma saiu depois de sua ultima visita, fez com que seus instintos disparassem em questão de segundos.

Fosse o que fosse, Hitoshi percebeu, seria exposto agora.

"Hey cara!" Disse num tom animado demais para ser verdadeiro, a primeira vez que, lhe dirigiu a palavra desde que chegou. "Como você está?" Yoarashi, como de costume naqueles últimos dias, estava logo atrás, o cumprimentando daquela mesma falsa maneira animada.

"Frio. Garganta inflamada. Eu sinto como se tivesse corrido pelado por toda a Sibéria, ida e volta... isso é suficiente?" Ele não queria parecer tão amargo, mas Hitoshi nunca havia sido uma pessoa conhecida por sua simpatia e a gripe que o ameaçava, mesmo no meio do verão, não ajudava nenhum pouco.

A crueldade em meu mundo (o amor sob suas pálpebras).Onde histórias criam vida. Descubra agora