Capítulo 32

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Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.

Clarice Lispector

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  Os dias passaram bem lentos diante dos meus olhos, eu parecia um zumbi, nem comia, ou falava direito. Eu só quero esquecer tudo que aconteceu, não acreditar em nada, porém a realidade sempre vem à tona e eu tenho que me vingar. 

Lembro de tudo daquela noite, o cheiro metálico de sangue, o corpo da minha mãe em minhas mãos, Marcos chegando com pavor nunca visto.  Jonathan sobreviveu, ele está tentando ajudar a descobrir quem fez aquilo, eu não contei nada, não conseguia. Eu pretendo contar para Lucas e para quem ele trabalha. Lucas havia sumido depois de tudo, mas tenho a esperança de encontrar ele hoje.

Eu só tinha que esperar hoje, o dia do enterro da minha mãe. Olho o relógio no criado mudo, não queria levantar, nem dá trabalho para tia Laura e para os meninos. Depois da casa ficar como prova, eu não queria entrar mais lá, quero tacar fogo naquela casa, não quero ter nenhuma lembrança. Peter e André fizeram questão que eu ficasse com eles, sendo o que já faríamos muito antes de todo o acontecido.

- Cissa, precisa comer pelo menos hoje. - ouço a voz rouca de que indicava que André havia acabado de acordar. 

Olho ele encostado na soleira da porta.

- Não estou com fome. - Olho para o nada, tinha virado um hábito desde então.

- Ok. Peter vai te forçar..- André não aguenta minha teimosia e adentra o quarto e me abraça - Quero que saiba que estamos aqui, nem eu e nem ninguém aguenta ver você assim, neutra e vazia.

- Eu desço arrumada em um minuto. - André me olha, de baixo para cima, puxa o ar causada pelos dois dias que se seguem assim.

- Vamos te esperar. - André me beija a testa demoradamente, e aperta um abraço forte em volta de mim e sai.

Ultimamente não ando reagindo bem aos abraços, não sei o porquê, eu queria abraços, para me sentir melhor, porém algo fazia eu me sentir imóvel.

Levanto e fecho a porta do quarto. Vou até o espero e levo um espavento, meus cabelos completamentes horríveis, meu corpo, com certeza perdi peso. Minha barriga ronca de fome. Droga!

Tomo um banho gelado, havia um vestido preto, entretanto, prefiro ir com uma calça preta e uma jaqueta antiga escura. Meu cabelo, que dane-se ele, desço as escadas com ele cheio.

Peter aparece em meu caminho,  como ando sem ligar para nada e presto atenção quando ele enfia uma maçã na minha boca.

Tiro com raiva ela.

- Mas que porra! Qual seu problema!? 

- Eu sei que isso é difícil, mas você  maltrata-se  e morre correndo às noites na rua e dormir o dia todo naquele quarto, não ajuda! Sua mãe não ia querer isso! - Não respondo, sei que Peter apenas está querendo me ajudar. Apenas levo a pequena maçã na boca e arranco um pedaço gordo dela e sorrio amargamente para Peter.

Antes que eu ouça um sermão, a porta da frente abre e Tio Marcos entra com sua roupa de policial.

- Estão prontos? - Sua voz calma e sempre bem vinda para meus ouvidos. Penso em contar sobre Gabriel e seu pai. Mas parece que eles são intocáveis.

- Estamos. - Peter diz evitando contato visual comigo. Ele está cansado, eu sei disso, já cansei que metade das pessoas se importam comigo.

- Cissa, minha menina, cuidamos bem dela e fizemos tudo do jeito que ela desejaria. - dói ouvir aquilo, primeira facada do dia.

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