Capítulo 3 - Eu, Simon

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Simón


Sem nenhum saco para aguentar uma segunda-feira, paro minha caminhonete GMC preta no estacionamento do prédio da Orfeu. Arranco os óculos escuros que estavam tampando os olhos da claridade inoportuna, pego uma pasta no banco do passageiro, bato a porta e aciono o alarme.

É uma droga quando a cabeça paga pelas ações do pau e da boca. Ontem foi um domingo de muita folia. Depois de acordar às onze com um rosto grudado no meu braço, coloquei a garota para fora do meu quarto, no clube, de uma maneira bem bonitinha para ela sair sorrindo, me olhando com brilho nos olhos, como se tivesse chance de voltar.

Em seguida fui para casa, tomei um banho e um sal de frutas e comi uma pizza velha, pelado recostado no balcão da cozinha relembrando a noite doida que tive sábado à noite.

Depois, fui almoçar com uns amigos, na casa de veraneio de um deles e quase saí de lá em uma maca, com coma alcoólico e com o pau esfolado, de tanto foder e beber.

Consequência: segunda de manhã, Ramiro berrando no celular, minha cabeça explodindo e o humor pior do que se eu tivesse que assistir a duas horas seguidas de alguma palestra sobre economia.

Passo no restaurante do prédio, apesar da dor de cabeça sorrio para o rapaz que sempre me atende.

- Bom dia, Simón. O mesmo de sempre?

- Não. Hoje tá foda pra mim.

- É? Problemas?

- Ressaca. - Explico e ele ri.

- Mande um café forte e brownies ao meu escritório. Açúcar e cafeína vão me levantar. - Dou uma até mais, nem espero ele responder e caminho, sem olhar para os lados, em direção ao elevador. Eu sou um dos sócios dessa merda. Custava o Ramiro ter me deixado dormir até onze?

O elevador está cheio, me espremo ali, morto de ódio. Com um breve sorriso, cumprimento todos. Quando saio do elevador, na enorme sala de recepção do andar da diretoria, aceno para o homem no balcão, empurro a porta de vidro e me deparo com Ramiro e Erik conversando alegremente entre si. Reviro os olhos. Em que porra de mundo estamos, onde dois caras com filhos pequenos e encapetados acordam em plena segunda-feira com essa cara de Teletubbies?

Passo por eles, ouço Ramiro me chamar e, por cima do meu ombro, mostro o dedo do meio e resmungo um: "Se fode aí."

Ele vai vir atrás que eu sei.

E chega sem nem dar tempo de eu me sentar. Me olha com a testa franzida, Erik está logo atrás. Mereço. Tenho quase certeza que estou pagando por ter deslizado meu pau para o cu da moça sem antes avisá-la.

Atenção, rapazes, isso é feio; façam o que te digo e não o que faço. Tento não rir ao lembrar do pulo que ela deu, batendo a testa na cabeceira e eu ter que ir pedir gelo e em seguida liberá-la da transa. Ainda bem que tinha outra garota.

- Sério que está com essa cara de menino birrento por que eu te acordei para trabalhar? - Ramiro pergunta assim que entra.

Por que eu não fechei a porta?

- Cara, já estou aqui, não é? Então pronto. Não venha cagar regras na minha sala.

- Eu quero é saber da tal violoncelista. - Erik se joga na poltrona de couro em frente à minha mesa. Confuso, Ramiro olha para nós dois e depois me encara e nem precisa perguntar. O almofadinha, e agora alfaiate Erick, me delata:

- Me mandou um áudio de duas horas. - De lábios arreganhados, Erik conta a Ramiro como se eu não estivesse aqui. - Sexta à noite me dizendo que tinha acabado de encontrar a Ámbar e que ela estava na dele. Já até marcaram de se encontrar em São Paulo, em breve.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora