Capítulo 19 - Regras

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Ámbar


— Quando você pretende se mudar? — Levanto os olhos do prato na mesa de jantar assim que meu pai indaga, numa tentativa fracassada de parecer indiferente.

— Bom... — limpo os lábios e tomo um gole de vinho — acho que essa semana já estará tudo pronto.

— Sabe que pode ficar aqui o tempo que quiser, minha filha. — Minha mãe serve mais um pouco de legumes cozidos no vapor no meu prato, sem eu ter pedido. — Na verdade, nem precisava sair. Só tem eu e seu pai nessa casa enorme.

— Eu sei, mãe. Mas estarei sempre por perto. Posso inclusive vir almoçar todo dia aqui, o que acha? São apenas dois quarteirões de distância.

— Você passou tanto tempo morando sozinha, agora deveria passar um tempo com seus pais, ainda mais depois do fim do noivado. — Eu quase não consigo prestar atenção na fala da minha mãe por causa do que acabo de ver na tela do meu celular:

“Nova mensagem recebida do Sr. Tanque.” — É. Foi como eu marquei o nome de Simón no meu celular.

Não posso tocar no aparelho, meus pais odeiam que mexam no celular durante as refeições, ainda mais se eles estiverem conversando. Jamais vão me tratar como uma mulher de trinta anos. Acham que tenho treze. Depois que meu irmão gêmeo morreu, eles se transformaram em loucos por proteção.

— Mas vocês não são acostumados com minha rotina. Eu sou coruja, gosto de passar madrugada em claro, e isso incomoda o papai.

Meu pai apenas revira os olhos. Ele acha que vou adoecer se não dormir corretamente. Há anos não tenho um sono correto.

Meu celular apita de novo e mais uma mensagem chega. Gargalho por dentro. Com certeza o safado aceitou minha imposição. Macho arrogante não se cria comigo. Simón tem muita sorte por eu estar mesmo interessada nele, no sexo que ele proporciona, apenas isso, e sei que ele quer também, todavia, será nos meus termos.

Mal como a sobremesa, só para não chatear minha mãe. Enquanto eles vão para a sala ver o noticiário das oito, eu corro para meu quarto, febril de tanta curiosidade. Louca para ver a resposta do sujeito.

Já estou com vontade de transar novamente com aquele cretino gostoso só em saber que ele se rendeu.

Todavia, não é uma mensagem de rendição que me espera. É um vídeo de segundos. Minha mão tampa a boca e sinto meus olhos saltarem. Corro, fecho a porta do quarto e, encostada na madeira, posso me ver claramente no sofá do clube agarrando Simón aos beijos.

Deixo o vídeo de lado e vejo o que ele escreve:

“Clube, agora. Ou posso acidentalmente deixar essas imagens escaparem para um jornalista amigo meu. Te espero.

Com carinho, Simón.”

Eu queria quebrar alguma coisa no meu quarto, de raiva. O ódio quase me cega. Porém, me controlei lembrando a mim mesma que estou na casa dos meus pais e num sinal de instabilidade eles podem ficar loucos. São muito sistemáticos.

Eu nem penso em retrucar ou negar ir até Simón. Eu vou fazer ele apagar esse vídeo no tapa.

Tomo um banho rápido e me arrumo na velocidade da luz, chamo um carro pelo aplicativo porque ainda não comprei um para meu uso aqui no Rio. Saio correndo sem nem mesmo dar explicações a meus pais.

Chego ao clube com sangue nos olhos. Em toda minha vida eu fui uma pessoa de agir, de agir por conta própria sem esperar que alguém fizesse algo por mim. Muita gente em uma situação dessa iria ligar para um amigo e pedir uma opinião, para mim, o que vale é o que eu penso e o que eu quero que aconteça. Dificilmente tenho medo de alguma coisa e o que der para enfrentar, eu aceito de bom grado o desafio.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora