Capítulo 37 - Desconfiança

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Simón


Acordo com meu celular tocando, mas quando pego-o a ligação termina. É um número que não conheço. Acendo a luminária ainda tonto pelo sono pesado causado pela alta quantidade de champanhe que ingerimos. Esfrego os olhos e não vejo Ámbar do meu lado. O cômodo está escuro, incluindo o banheiro, mas me deparo com a porta do quarto entreaberta.

Acendo a luz, visto a calça e olho o corredor silencioso lá fora. O clube está calmo, hoje teve movimento fraco e tudo já se aquietou. Chego no primeiro piso e vou até o segurança que sempre fica do lado de fora. Ele precisa fazer algumas rondas durante a madrugada e trocar de hora com o segurança que fica dentro.

— Por acaso viu se a Ámbar saiu?

— Não, senhor. Aqui não saiu ninguém na última hora.

— Certo. Fique de olho por favor. — Volto para dentro e tenho o salão imenso vazio e calado a minha frente. Não há uma suspeita ou algo que possa me ajudar a discernir.

Onde ela se meteu?

De uma coisa sei: está aqui dentro do clube.

Penso em cada parte do clube e decido dar uma olhada nos banheiros, mesmo sabendo que não tinha motivos, afinal no quarto tem banheiro. Depois vou ao salão de confraternização.

Será que Ámbar é sonâmbula? — É uma das minhas teorias enquanto continuo andando e procurando quando sei que é em vão.

***

Ámbar

Escuto meu coração bater nos ouvidos, uma pulsação feroz, em ritmo de alerta. De olhos fechados, tento controlar minha quase cólera gerada pelo puro terror. Se eu entrar em pânico e surtar será pior, preciso, antes de tudo, me manter viva e para isso sabemos que não posso dar motivos para que algum deles tente me calar.

Me concentro no barulho lá fora. São vozes e não dá para distinguir, mas dá para ouvir uma voz mais alta dando sermão.

É o Sebastian! — Meu Deus, é ele. Sabia que estava metido nisso. Droga! Eu devia ter chamado Simón, com certeza isso aqui é um lugar clandestino, se Sebastian toma conta de tudo, é provável que Simón está alheio a essa merda toda.

Olho para a garota ainda inconsciente. É pequena e magra, parece ter de treze a quatorze anos. O que esses monstros estão fazendo com essas meninas?

Como se ouvissem lá de fora minhas indagações, a porta se abre de repente interrompendo meus pensamentos, que ficam em suspensão. Arregalo os olhos ao ver Sebastian ali confirmando minhas suspeitas. Um homem entra, pega a garota e leva me deixando sozinha com o covarde filho da puta.

— O dia que Simón me pediu para te enviar um convite, eu sabia que iria dar merda. — Sebastian começa a falar, vem em minha direção e arranca com força a fita que cobre minha boca. — Mas eu fiz, porque eu não podia contrariar o babacão, afinal, se ele me demitir, perco minha mamata.

— Que lugar é esse? — De queixo erguido, mantenho-me séria, apesar da voz tremulante. — O que você está fazendo com essas garotas?

— Bom, já que vai morrer mesmo, pode ficar sabendo. — Ele ri odiosamente. — Esse é meu negócio. Lucrativo, não? Pois é. Primeiro meus soldados saem por aí olhando meninas desavisadas, depois as atraímos em redes sociais, sim, existem demais meninas que caem. Depois trazemos para cá e ganha a novinha o cliente que der o maior lance. Ele pode fazer o que quiser, menos danificar a peça.

Só então uma lágrima deixa meu olho, mas de ódio. O mesmo ódio que faz meu corpo todo vibrar.

— Depois de usada, devolvemos a garota a sua casa. Fim, todos ficam felizes, ninguém se machuca, ninguém morre.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora