Capítulo 14 - Seguindo em frente

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Ámbar


Eu estava na pior, sentimentalmente quero dizer. Os dias se arrastaram tão penosos que eu tive vontade de pegar minhas malas e voltar para alguma turnê pelo mundo. Todavia, como eu tinha acabado todos os concertos e não marcado nenhum outro até o ano que vem, estava sem ter para onde fugir do Brasil. Quer dizer, lugar tem, mas não um motivo. Não quero ser a covarde que foge por um término de relacionamento.

Delfi e Pedro ainda não sabem que terminei tudo com Benicio. Nem mesmo meu irmão sabe, do jeito que é, vai querer tirar satisfação como se eu fosse uma menina de doze anos. Achei melhor não forçar nada indo contar a eles, ainda estou digerindo sozinha toda essa situação.

Uma semana após ter acontecido tudo, decido tomar um rumo na minha vida. Vou ficar aqui no Brasil esse resto de ano e não irei continuar com meus pais, amo-os logicamente, mas não tenho mais cabeça para aturar alguém pegando no meu pé.

Essa manhã, quando levantei e sentei na mesa, meu pai teve o prazer de me empurrar um jornal. Parece que estava ali na página exata só esperando eu chegar. A manchete parecia ironizar com a minha cara: “Advogado ligado à Baptista & Cohen assume caso de cantor acusado de sonegação.” Uma foto de Benicio sorrindo estampando a matéria que eu nem tive o trabalho de ler.

Que ele seja feliz.

Não está nem um pouco interessado no nosso relacionamento, enquanto eu estou aqui no fundo do poço, sofrendo à noite e me sentindo culpada por talvez ter pegado pesado.

Revirei os olhos para meu pai e me servi de café.

— Você não queria ele se dando bem? — Indagou.

— Sim, mas não sendo um babaca. Ele foi um... — Engulo as palavras. Meu pai é hipertenso, vive tendo crise, não vou expor a safadeza de Benicio. Tento soar calma e convincente: — Escute, pai, estamos dando um tempo e ficarei feliz com cada progresso na vida dele. Raiva só faz mal para quem sente e não me acabarei em ódio por ter perdido um homem.

— Tá bom. Você faz o que quiser de sua vida, mas saiba que nunca encontrará um homem como Benicio.

Ainda bem, pensei, engolindo uma grande quantidade de café e queimando a língua.

Não contei a eles que fui procurar alguém para planejar a reforma do meu apartamento que está trancado há uns anos. É perto dos meus pais, comprei justamente ali para não falarem que quero afastá-los da minha vida, todavia, ficarei no meu próprio cantinho sem pressão de ninguém.

Liguei para Delfina e ela me passou alguns nomes de empresas de designer e arquitetura. Foi uma distração passar a manhã toda debatendo sobre projetos de reforma e compras de móveis. Compra, seja lá o que for, sempre é algo ótimo a se fazer, revigora qualquer pessoa.

Almocei fora, sozinha em um restaurante gostando um pouco da solidão. Fez bem para eu pensar em direções da minha vida e não apenas remoer no meu quarto na casa dos meus pais.

O ponto alto do meu dia foi quando meu agente me ligou com boas notícias, na verdade, maravilhosas notícias. Uma emissora nacional estava produzindo uma série de televisão e viu em mim o perfil ideal para viver uma das personagens da trama.

Liguei imediatamente para Pedro e, do outro lado da linha, gritou:

— Claro que você vai aceitar! Você não é louca de negar isso.

— Não sei, Pedro... — Caminho pelo quarto pensando. Não sou atriz, eu amo o que faço.

— Sim, minha querida, mas você pode fazer um bico como atriz. Por favor, Ámb, não perca essa oportunidade.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora