Capítulo 28 - Abrindo a mente

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Simón


Passei o resto do dia com Ámbar. Já mandei minha racionalidade se foder há muito tempo. Não queria saber se estava me enrascando cada vez mais e que todas essas novas coisas que eu sentia podiam ser preocupantes. Eu mesmo estava minando as barreiras que eu mesmo construí com o tempo.

Todavia, não tinha como parar. Eu estava descobrindo que não só o sexo era gostoso com ela. Conversar, e dormir juntos era excepcionalmente gostoso.

Com a cabeça no meu colo, no sofá, ela contava como começou sua carreira ocasionalmente. Ámbar veio de escola particular como bolsista e, após um programa de incentivo do governo para jovens da periferia, ela entrou em uma escola de música aos treze anos. E desde então não largou mais o violoncelo.

É muito satisfatório ouvir sua história sabendo de como nosso país ainda é preconceituoso e mesmo assim ela venceu e hoje usa sua posição para dar voz aos mais necessitados; e eu não tinha consciência disso até ela me relatar vários casos de abuso e preconceito que já sofreu ou presenciou. Em aeroporto, no cinema, em festas luxuosas. E sempre se saiu muito bem de todas essas ocasiões.

— E você? Me conte algo sobre sua vida. — Paro de fazer cafuné em seus cabelos e meneio a cabeça, pensativo.

— Minha vida é isso que você já viu. Vim para o Brasil ainda adolescente e aqui cresci. Fui para o exército, em seguida me tornei delegado.

Ela senta no sofá, ajeita mechas de cabelo atrás da orelha e, pela animação, sei que vem uma pergunta íntima.

— Simón, qual é o seu guilty pleasure?

— Quê? Que porra é essa? Marca de roupa?

— Não. — Ela ri. — Em tradução literal quer dizer...

— Prazer culposo?

— Isso. É quando você gosta muito de uma coisa, mas sabe que é contra a opinião geral. É como saber que é errado gostar, mas você sente prazer gostando e mantém isso apenas contigo. E aí? Qual é o seu prazer culpado?

Abano a cabeça olhando para a televisão, que passa um filme, mas nós nem estávamos assistindo.

— Sei lá. Televisão?

— Não. Se você disser que gosta de televisão as pessoas não vão te olhar estranho.

— Humm... Camisinha com sabor?

— Claro que não. Você gosta disso?

— Tem razão. Odeio. Sonho em te ver tocando violoncelo só de lingerie, isso se enquadra?

— O quê? — Ela bate no meu braço. — Tarado. Que tipo de sonho é esse?

— O tipo de sonho que homens costumam ter. Vai realizá-lo para mim?

— Não. Claro que não. Você está desviando do foco. Eu por exemplo amo de paixão reality; principalmente aqueles loucos de consertar casas e arrumar pessoas. Eu sou apaixonada por esse tipo de programa de entretenimento barato. Amo Big Brother, De Férias Com o Ex...

— Puta que pariu. Verdade?

— Sim. Costumava brigar com Benicio para assistir. Às vezes eu passo o dia só assistindo episódios que perdi, pela internet. É como meu vício, sinto prazer vendo, mas sei que se eu falar as pessoas vão me olhar com essa cara que você está fazendo, então eu amo reality em segredo.

Na verdade, eu tenho um que guardo debaixo de sete chaves. Apenas meus irmãos sabem e quase levei uma surra do meu pai porque ele descobriu uma vez e duvidou da minha sexualidade por causa disso. Desde então passo a amar em segredo. Erik já até tentou contar, mas ninguém acredita que o irmão mais macho possa gostar disso.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora