Capítulo 44 - Like A Prayer

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Simón


O trabalho árduo de esquecer e seguir em frente estava dando certo. Duas semanas tinham se passado desde o rebuliço que criei. Naquele dia, eu consegui realizar meu breve plano emergencial e de certa forma deu certo.

Fui levado para a delegacia, e dessa vez fui parar atrás das grades esperar por um habeas corpus. Eu agredi um policial e roubei seu veículo, não seria tão fácil me safar. E àquela altura dos fatos, eu nem me preocupei com isso.

Passar uma noite inteira na cadeia me ajudou a curar a ressaca e tentar colocar coerência em meus pensamentos.

Eu me declarei na frente de muita gente. Estava gravado inclusive em câmeras. Disso eu não podia correr, e foi um papelão o que eu fiz. Me rebaixei rastejando por uma mulher e, no fim, foi cada um para seu lado. Por que eu fui atrás dela se não queria algo sério?

Ou eu queria algo sério e não admiti? Que porra eu estava pensando quando fiz aquilo?

Bom, essa indagação reverberou na minha mente mesmo depois de Ramiro e o advogado terem aparecido com o habeas corpus e me tirar de lá na manhã seguinte. Eu estava calado, envergonhado de meus atos e querendo sumir por um tempo.

Foi exatamente o que fiz. Não tinha permissão para deixar a cidade, mas podia me enfiar no meu apartamento, como a merda de uma prisão domiciliar. Eu não queria saber nada sobre Ámbar, nem mesmo estava ligando a TV para não ver alguma coisa sobre ela, entretanto as notícias chegavam para mim como uma espécie de vírus. Ninguém quer pegar uma gripe e até tentam se proteger, mesmo assim, as pessoas gripam. Erik achou que eu gostaria de saber que Ámbar não se casou e isso saiu em toda a mídia junto com o circo que eu armei.

Ela não se casou? Já tinham se passado duas semanas, e onde ela estava que não tinha vindo atrás de mim? Eu estava sendo muito otimista ou arrogante ao achar que ela viria correndo atrás de mim?

Esperei, esperei e descobri dias após, sem a minha vontade, que ela tinha viajado. Pedro veio me visitar com Nico e contou que ela viajara. Eu não quis saber mais detalhes. Se ela tivesse ido embora para sempre, que fosse feliz.

Havia um casal de gays sentado no meu sofá e eu os via com naturalidade, coisa que não iria acontecer com o Simón de meses atrás. É, eu era bem estreito em pensamentos. E ela abriu minha mente.

Estou voltando aos eixos aos poucos. Daqui uns meses, serei novamente o famoso Mustangue Selvagem, dono do maior clube noturno da região. Será Dama de Copas 2.0. Meu ressurgimento. E quando eu estiver novamente no topo da cadeia alimentar, lembrarei de tudo isso com nostalgia e humor.

Agora, por exemplo, acabo de ser informado que meus advogados estão aqui para me ver. Estou trabalhando igual um condenado e isso me ajuda muito. Peço para a secretária mandá-los entrar.

Os dois entram, se acomodam na minha frente, nas poltronas. Eu não tinha nada programado para hoje, portanto não sei o que pode ser, e pela cara de ambos, não parece ser coisa ruim.

— E aí? O que houve?

Eles se entreolham e um deles tira um papel da bolsa. Já estão sorrindo.

Ah, caramba! Já posso desconfiar o que seja.

— Simón, ganhamos.

— Ganhamos? Caralho, rapaz! — Recebo o papel, olho rapidamente e volto a encará-los. — Ganhamos o quê?

— O Ministério Público não vai te processar no caso das garotas.

— O quê?! Sério?

— Seríssimo. Tem algumas trocas, mas você não responderá por aqueles crimes.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora