Capítulo 12 - Terminando

102 6 0
                                    

Ámbar


Eu não contei a Pedro o que tinha acontecido. Preferi remoer sozinha o que eu estava passando e sozinha chegar a uma conclusão.

Desde muito cedo sou independente e meus pais me obrigaram a ser

assim. “Para não apanhar da vida”, eles diziam. Não fui a garota que sofria algum desaforo na escola e trazia a mãe no dia seguinte para tomar minhas dores. E mesmo se eu tentasse, minha mãe diria: “Por que você não se defendeu? Estava com a boca costurada?”

Ser independente é isso. Resolver os percalços do dia a dia sem precisar recorrer a terceiros, senão a pessoa não conseguirá progredir um passo, sempre vai precisar de apoio.

Mas quer saber? Uma única vez eu fui humilhada na escola por ser bolsista. Nessa única vez, algumas garotas decidiram que era legal derramar suco na minha roupa e dizer que eu estava estudando para ser diarista porque em nosso país é isso que pessoas como eu conseguem.

Antes de tudo, eu pensei se o confronto valia a pena. Averiguar a situação é a coisa certa a se fazer em momentos de estresse. O que o agressor esperava quando me insultou? Sim, atiçar meu ódio e mexer com minhas estruturas. Esse era o tipo de ataque que elas esperavam, e então eu seria a marginal, porque com certeza eu tiraria sangue de algumas bocas.

No fim, adivinhem quem seria punida?

Mas qual era o ataque que elas não esperavam e eu mostrei? Me virei e caminhei até a direção, bem alto gritei: “Escuta aqui, existem leis nesse país contra descriminação e acho que ninguém aqui vai gostar de ver o nome da escola em jornais. Se essas pessoas não pararem de me atormentar, nomes voarão na mídia e todos sabem como esse povo ama crucificar escolas de elite. Tomem uma providência.”

No outro dia tivemos uma palestra sobre descriminação na sociedade moderna e incrivelmente eu durei na escola até o fim dos meus anos letivos.

Era um desafio para eu permanecer entre os primeiros da turma, sempre. Ser o orgulho dos professores e dos meus pais. A ironia é que na

minha formatura do ensino médio eu tinha me tornado oradora da classe e líder do grupo das populares, justo aquelas que tinham me zoado no início. Perdão e vingança são primos de primeiro grau.

Minha vingança foi mostrar a todos o meu sucesso e não tentar machucar alguém.

Tudo isso me vem à mente enquanto ando no meu quarto, mordendo o lábio de raiva e refletindo se vale ou não a pena um ataque à altura. Expor Benicio, mostrar toda a sua farsa e traição e deixá-lo na sarjeta. Ou posso apenas engolir o choro, levantar a cabeça e mostrar a ele minha vitória.

O que eu sei é que nenhuma das duas escolhas vai diminuir a dor que estou sentindo. A humilhação, como naquele dia na escola que senti o suco gelado nos meus cabelos e roupa. A humilhação dói muito e é um dos maiores combustíveis para as pessoas fazerem ações impensadas.

Decido me despir, tomar um banho e decido dormir. Não irei fazer nada de cabeça quente, ainda não tirei a aliança de noivado, vou olhar nos olhos de Benicio antes e saber o que de fato é verdade.

Demorei a dormir, remoendo cada palavra que escutei daqueles homens. E nem me dignei a sentir qualquer tipo de sentimento ruim por Simón. Ele não é nada meu, muito menos faz parte da minha vida. Não vou gastar tempo odiando-o.

Só consegui chegar à conclusão de que é um babaca de marca maior por ter aceitado o acordo com Benicio e ainda contar para os amigos no clube.

Acordei e ainda estava escuro. Tive sono inquieto. Vesti um macacão jeans e botas e amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo. Estou disposta a conversar com Benicio e depois visitar Pedro, pois percebi ontem à noite que ele não estava legal.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora