Capítulo 9 - O trato

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Simón


Cheguei às nove em ponto no local do encontro. Olho para cima e o prédio em questão, que está tirando o sono de Ramiro, é velho e não se enquadra em patrimônio histórico. Pesquisei ontem sobre ele e parece que a prefeitura também tem interesse sobre o prédio. Todo o terreno ao redor já foi comprado pela Orfeu e agora estamos tentando fechar todo o quarteirão para vender a um único cliente.

Mas com esse trambolho aí no meio, fica difícil.

Aperto o interfone velho e sujo e espero a conhecida voz de gralha atender.

— O que é? — Ela berra.

— Oi, senhora Mara, sou o cara da Orfeu, te liguei ontem.

— Suba. — O portão de ferro antigo destrava e eu entro. A escada é escura e fede a mofo. Tem rachaduras na parede e precisa urgente de uma reforma. Se ela não aceitar o acordo milionário, vamos ter que denunciar para a vigilância civil.

Bato na porta da casa, ela abre com um puxão uma vez que é uma porta emperrada e eu vejo a mulher pela primeira vez. Aparenta ter uns quarenta anos. É um pouco gorda, tem cabelos pretos fartos e encaracolados e usa óculos de grau. Ela olha para mim de cima a baixo antes de me deixar passar.

Todavia, tomo um espanto quando vejo quem está sentado no sofá. Benicio, noivo de Ámbar. Ele também se levanta perplexo ao meu ver e posso ter certeza que a única coisa que compartilhamos em pensamento não é nada em relação ao imóvel e sim a uma mulher que ele dividiu comigo. O que veio na minha mente foi: “Olha o noivo da mulher que fiz sexo”. E ele com certeza deve ter pensado: “Olha o cara que fez sexo com minha noiva”.

— Esse é meu advogado. — Mara grasna. — Quer beber alguma

coisa?

— Um café, Mara. — Benicio pede e mostra uma cadeira para eu me

sentar. Ela sai e eu me sento, sem piscar, o encarando ainda perplexo.

— Então está no caso? — Me pergunta antes de eu abrir a boca.

— Tudo aqui ao redor é da nossa empresa. Escuta, vai mesmo fazer dessa transação um caso de justiça? — Mostro em uma careta o quanto estou incrédulo.

— Sim. Minha cliente não quer se desfazer do imóvel, é direito dela.

Só espero que ele não seja um advogado muito bom, a Orfeu já está tendo sufoco em conseguir essa negociação, com advogado pelo meio as coisas ficarão quase impossíveis para nós.

Decido fazer meu jogo. Agora tenho que derrubá-lo para chegar em Mara.

— Benicio, eu e você sabemos que ela vai ter que ceder em algum momento. Tenho um contrato aqui bem gordo, o triplo que foi oferecido anteriormente.

— De qual montante estamos falando? Me ajeito na cadeira antes de falar:

— Cinco milhões.

— Putz.

— E isso aqui não vale mais de dois milhões. Você e ela sabem.

Ele olha para ver se Mara está vindo, se arrasta para a outra ponta do sofá ficando mais próximo de mim.

— Escuta, cara, preciso ganhar esse caso. Estou passando por um teste e, se eu ganhar, poderei ser associado em uma firma famosa.

— Não tenho nada a ver com isso. O caso é da minha empresa. E se ela não aceitar essa última oferta, a Orfeu entrará com uma denúncia na defesa civil. Ela perderá o imóvel e o compraremos apenas por um milhão.

A Dama de CopasOnde histórias criam vida. Descubra agora