Faltavam poucas horas para alcançarmos terra firme, acordei essa manhã com o som de materiais caindo na madeira do piso do navio, era o vento forte, o vento forte que nos carregava com mais pressa e eu agradeci aos céus por isso, era tudo que eu mais ansiava e tudo o que minha tripulação precisava.
- Chamou Capitã?- ouvi a voz de Ally após algumas batidas na porta, ela estava vestida formalmente assim como todas que pegaram seus melhores trajes para desembarcar.
- Oh sim Ally,- ela arregalou os olhos para mim e eu sorri com gentileza- Quero que chame todas para o convés, tenho notícias.
Ela me encarou por alguns instantes me avaliando.
- Certo, como desejar.- ela fez uma reverência muito cordial da parte dela, mas eu não questionei, senti sua tensão pela sala toda, provavelmente ela pensa que algo de muito ruim está prestes a acontecer e é o que todas vão pensar.
A última vez que juntei todas para uma reunião dessas foi quando cometi o meu maior erro.
Nós estávamos em mar aberto por um mês e pelo meu mapa vi que logo chegaríamos a uma pequena ilha, eu sabia que nessa ilha haviam algumas famílias simples que plantavam e colhiam alimentos, aquela ilha também seria de comércio ao mar e tinha muito ouro e prata.
Chamei todas para a reunião e mostrei o meu plano de saquea-los, algumas gritavam em aprovação e estavam prontas para isso, outras não gostaram da minha ideia, mas eu não me importei, enchi o peito de orgulho e separei nossas melhores armas.
O que eu não sabia era que ao chegamos lá alguns piratas tiveram a mesma ideia que nós, e ao invés de ser um roubo foi uma luta, quase perdi algumas mulheres e tive que pedir parola, por sorte o capitão deles estava esgotado e não queria acabar com sua tripulação assim como eu, e por mais que toda a merda já havia sido feita eu consegui ao menos que todas voltássemos vivas para o navio.
Ficamos mais duas semanas procurando por terra firme, nos últimos dias todas a comida havia acabado, elas bebiam álcool para não sentirem tanta fome, o que fez com que as brigas aumentassem e eu tive que exigir que todas as armas fossem confiscadas.
Foram momentos péssimos para todas, e eu não quero que isso aconteça novamente.
Peguei as chaves dentro da gaveta da minha mesa, caminhei lentamente descendo um lance de escadas gastas e quase cem por cento destruídas, encarei as grades de metal e a mulher deita ao chão.
- Serena.- chamei em um tom suave.
A mulher levantou a cabeça, tinhas olhos fundo e vermelhos o que fez me sentir péssima.
Passei um tempo a encarando, paralisada, olha o que eu havia feito a ela... Ela não comia, não bebia água, e fica ali deitada em feno sem nenhuma fontes de luz que não seja a abertura da escada para a minha cabine.
Ela se encolheu depois que passei tempo demais a olhando, estava se transformando em algo muito embaraçoso, como se eu estivesse ali com intenções questionáveis, e não era isso o que eu queria, definitivamente não era.
Peguei as chaves e rapidamente abri a porta, mulher não se deu ao trabalho de se mover, continuava ali horrorizada e encolhida, me encarando com os olhos arregalados cheio de receio.
Dei um passo para dentro e ela fechou os olhos encolhendo os ombros.
- Ei.- sussurrei e ela ligeiramente abriu os olhos- Só estou aqui para conversar.
Ela mordeu os lábios com certa força e vi sangue escorrer de sua boca, encarei aquilo com meu coração fraquejando, o que eu fiz para essa mulher?
Em passos lentos que faziam ela se encolher cada vez mais eu fui me aproximando e me sentei ao lado dela, em uma distância consideravelmente segura, para mim e para ela.
Ela me encarou com curiosidade enquanto eu remexia o feno com a minha bota pesada. Esperei que ela soltasse os ombros, ouvi sua respiração amenizar e me permiti fazer um movimento mais brusco, ela se afastou um pouco até perceber que eu só havia retirado um embrulho do meu casaco.
Olhei para ela que me encarava com atenção, eu tentei parecer o mais gentil que eu podia, sei que era difícil pois eu sempre mantive essa autoridade e expressão irritada, mas eu estava fazendo de tudo para não dar medo a ela.
Lentamente coloquei o embrulho entre nós, ela encarou minhas mãos que se mexiam lentamente e depois o embrulho no chão.
- É carne.- respondi- Peguei o que tínhamos, espero que sirva.
Ela me encarou e voltou os olhos para o embrulho, lentamente vi sua mãos se aproximarem, quando ela tocou no pano o puxou de uma vez só para seu colo, seus olhos brilharam quando viu o pedaço de carne, mas ela hesitou em come-lo.
- Ande, não está envenenado.- eu disse e ela pensou por alguns instantes, pode ser que a fome tenha falado mais alto, ela pegou o pedaço de carne e o devorou.- Calma.- a repreendi porque a rapidez com que ela comia a faria vomitar depois.
E por mais fraca que ela estivesse ela sorriu, o que me fez sorrir também, ela mastigou a carne com mais cuidado deixando seus lábios engordurados.
- Obrigada.- ela disse depois de roer até o osso, fiquei todo esse tempo ali sentada observando o lugar e pensando no que eu faria com ele.
- Não há de quê. Agora levante-se, você precisa se vestir, estamos chegando em terra firme.
Levantei-me e estendi a mão para ajudá-la, ela não aceitou, recuou, não com medo, mas com receio.
- E o meu perdão?- seus olhos vagaram pelo meu rosto como se esperasse que estivesse fazendo uma maldade com ela.
- Esqueça isso, vamos te vestir e depois tudo será esclarecido.
A mulher me encarou ponderando e aceitou a minha mão para ajudá-la a se levantar.
Dentro da minha cabine eu peguei um vestido que ela gostou, era de um azul escuro, praticamente novo, devo tê-lo usado umas duas vezes no máximo, dei espaço para que ela o vestisse e mostrei como ela estava bonita em frente a um espelho, a mulher sorriu enquanto penteava os longos cabelos com os dedos.
- Agora vamos. Tenho uma coisa para contar à todas.- Serena me olhou, percebi que seu medo e receio haviam desaparecido, o que restava era a curiosidade em seu olhar.
Ela concordou com a cabeça e seguiu ao meu lado para fora da cabine.
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A SEREIA
Fanfiction(Concluída) A Capitã Cabello é ambiciosa e deseja ir atrás do tesouro que seu pai egoísta escondeu, ela juntou diversas mulheres que tinham sua confiança para formar uma tripulação. Em seu navio ela se tornou a autoridade máxima e se esqueceu de com...