Capítulo 10

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Eu a segurei no meu colo, não sei de onde tirei toda essa força, o meu grito logo foi ouvido e por sorte uma das primeiras pessoas a chegar foi Lucy, a pessoa que eu mais precisava nesse momento.

Ela pediu para eu me acalmar enquanto cuidaria de Normani com as outras, mas isso não adiantava, eu não conseguia ficar parada, ver a minha amiga daquele jeito no chão, e pensar que talvez a culpa seja minha...é possível que eu seja uma pessoa tão ruim assim?

Procurei por Dinah já que não conseguia ficar parada, não conseguia colocar meus pensamentos em ordem, minha mente gritava dentro de mim e eu carregava uma sensação estranha, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer, algo pior. Essa sensação me enjoou e eu sentia vontade de vomitar. Tudo que estava dentro de mim revirava, isso nunca havia acontecido comigo, meu nervos estavam à flor da pele. Tentei me conter, mas não conseguia, até que senti duas mãos firmes me segurarem.

- Mila, o que está acontecendo?- foquei minha visão, era Dinah e eu não me contive, derramei as lágrimas que por anos eu segurava, Dinah me encarou com o olhar mais preocupados que eu já vi na vida, ela me puxou para um abraço apertado enquanto eu despejava tudo que eu já senti para fora.

Ela acariciava minhas costas e eu me senti acolhida, mas aquela sensação não sumia do meu peito, queimava nas minhas veias e eu tentava respirar fundo enquanto as lágrimas eram a prioridade do meu corpo. Senti minha pernas perderem a firmeza, senti o mundo ao redor girar, Dinah começou a me segurar mais firme, mas era tarde demais.

(...)

Tudo estava escuro até eu ouvir um som, talvez tenha sido um grito, não tenho certeza. Eu abri os olhos, mas tudo continuava escuro, então eu os fechei.

Pensei em três coisas.

Minha mãe.

Minha irmã.

Meu dinheiro.

Respirei fundo, mas não senti o ar entrar nos meus pulmões. Tentei adormecer, porque achei que seria o certo, mas só passei um tempo refletindo no meu pensamentos, tentei me erguer, mas todos os meus músculos doíam e eu desisti.

Respirei fundo e dessa vez deu certo, senti o ar circular pelo meu corpo. Senti o barco balançar e eu sabia que algo estava errado.

Ouvi outro som, seriam moedas? Metal batendo em metal, o barco balançou dessa vez com mais força e eu ouvi o som ainda mais alto.

E dessa vez eu me forcei a abrir os olhos e ver alguma coisa.

Uma luz.

Um som.

Aos poucos me concentrei e identifiquei a luz do sol invadir o ambiente e o som, que era uma voz.

- Mila! Oh Céus!

Senti braços fortes me segurarem, mas ainda não tinha total controle do meu cérebro para entender o que se passava. Meus batimentos começaram a acelerar e mais uma vez o barco balançou, ouvi o mesmo som.

Metal.

Eu precisava acordar, usei qualquer resquício de força que eu ainda tinha, era pouca, mas me concentrei nela.

Minha visão focou em dois olhos castanhos preocupados. Encarei minha melhor amiga e me senti segura, como se fosse a minha mãe me segurando quando eu era pequena e sentia medo.

- Dinah...- minha voz foi fraca, mas a fez sorrir.

- Não precisa fazer força Mila, está tudo bem.

Ela segurou na minha mão e eu me afundei na cama, eu precisava que meu cérebro agisse mais rápido, eu ainda tinha perguntas rondando na minha cabeça.

E eu me lembrei, me lembrei do que aconteceu.

- Normani!- exclamei e me ergui, com uma força que eu não tinha, me apoiei nas minhas mãos e Dinah me segurou impedindo que eu continuasse a levantar.

- Ela está bem, você precisa descansar.- olhei para a minha amiga, eu procurava verdade em seu olhar, era difícil de encontrar.

- Dinah, o que há de errado?- minha voz ainda estava fraca, Dinah olhou para baixo, um frio subiu pelo meu corpo e eu não me contive, sentei-me sobre a cama enquanto esperava uma resposta.

A resposta demorou, os olhos de Dinah vagaram pela cabine que estava do mesmo jeito que havia deixado.

- Mani está bem, está se recuperando.- em seu tom eu encontrei a verdade e me aliviei, mas ainda havia algo de errado em seu olhar.

- E o que há?- perguntei insistindo, eu precisava de respostas, precisava de uma luz.

- Você ficou desacordada por três dias Mila...eu pensei...- a voz dela começou a ficar fraca e me coração apertou.- eu pensei que você jamais acordaria, aconteceu muita coisa...

- Dinah.- segurei na mão da minha amiga e as lágrimas escorreram de seus olhos.

- Eu tentei ser forte Mila, tomar conta de tudo...mas não é um trabalho para mim.- isso estava me destruindo, eu pedia para que isso não passasse de um sonho, tinha algo muito errado acontecendo e eu não estou em condições de resolver. Imagino a cruz que minha amiga teve que carregar e eu fui fraca, fui fraca pois sempre quis ser forte.

Sempre fiz tudo, até o que não podia, e chegou a hora que eu nunca esperei que fosse chegar, eu perdi toda a minha força. Toda minha energia se esvaiu e eu não era mais a Capitã, eu não era mais alguém em que todos podiam se apoiar, e agora eu vou deixar um rastro.

Acomodei minha amiga em meus braços e ela se levou pela tristeza, suas lágrimas escorriam pelo meu pescoço, mas eu não me importava, eu queria estar do lado dela, demonstrar apoio, mesmo eu estando fraca, não quero vê-la assim nunca mais, e se for preciso eu farei de tudo para retomar a minha energia e não deixar que isso aconteça novamente.

Ela soluçou e aos poucos soltou-se dos meus braços, eu limpei suas lágrimas com os meus polegares, não sei quanto tempo ficamos assim, mas eu sei que ela não me contou tudo.

- Dinah, você pode dizer, eu já estou melhor.- tentei convence-la, ela me encarou me analisando, tentei demonstrar ser a Camila que eu era e acho que consegui.

Dinah novamente olhou para baixo e suspirou.

- Serena pulou do navio.

- O que?- perguntei sentindo como se alguém enfiasse uma faca no meu estômago.

- No dia seguinte depois do que aconteceu, ela não estava bem e disse que iria atrás dele...- Dinah me encarou para ver se eu sabia de quem ela estava falando, infelizmente eu sabia - Nós tentamos resgata-la, mas teve uma tempestade e perdemos algumas mulheres...

- O que?- senti como se eu tivesse levado um soco, não podia ser verdade, não podia.

- Elas pegaram um bote para resgatar Serena, eu não sabia o que fazer, mas estava muito preocupada com ela- mais lágrimas começaram a escorrer do rosto da minha amiga- E eu deixei, deixei que fossem, até perceber o meu erro.

Eu não sabia o que dizer, mas eu sabia que não era culpa de Dinah, talvez eu fizesse o mesmo no desespero. Pousei uma mão em seu ombro lhe dando apoio, seus olhos estavam inchados e ela limpava as novas lágrimas que se formava.

- Está tudo bem Dinah, não foi culpa sua.

Ela me encarou e procurou por verdade dentro de mim, eu estava falando a verdade.

- Me desculpe Mila.- eu a abracei novamente, eu tentava absorver todas as informações enquanto ajudava a minha amiga, não era culpa dela, não era.

- Não é sua culpa Dinah. Não se preocupe.

- É sim Mila! É sim.

Eu abracei mais forte, e eu senti todas as responsabilidades que eu deveria carregar, e o mais importante agora era manter todas a salvo.

- Dinah, eu sei que está difícil, mas eu preciso saber. Quem está cuidando do navio?

Devagar Dinah saiu dos meus braços, ela respirou fundo e mordeu os lábios, eu esperava por uma respostas enquanto ela estava receosa em me dizer, podia ver pelo seu olhar.

- Lauren, Lauren está cuidando do navio.

A SEREIAOnde histórias criam vida. Descubra agora