Moedas, é o som de moedas, o navio balança com força e mais uma vez, o tilintar do metal, dessa vez eu acordo.
Adormeci quando os meus soluços cesaram e a minha respiração se acalmou, Dinah zelou por mim durante a noite, mas ao acordar de dia eu estava sozinha, olhei ao redor e a cabine estava completamente vazia, porta fechada, uma fresta do sol entrava pela janela com a cortina de tecido pesado aberta. Respirei fundo e senti meus olhos ardendo.
Lembrei do ocorrido, chorei a noite toda deixando-me ser lavada pelos meus sentimentos, sim, eu estava magoada, isso era um fato, Lauren me machucou, não fisicamente, mas tudo o que ela fez…e depois vir me pedir perdão daquele jeito…eu não tenho capacidade de organizar esses pensamentos, só sei que eu não sei o que sentir.
Um aperto no meu peito se seguiu logo em seguida e me alonguei na cama, estranho, ela parece estar mais confortável, ou parece que estou mais relaxada, como se a noite de sono tivesse me revigorado. Mas isso não é possível, foi só uma longa noite dormindo, não um milagre, todas as dores que eu sinto não podem sumir da noite para o dia.
Suspiro soltando todo o ar do meu peito e não sinto dor alguma.
Mais uma vez.
Estranho.
Realmente muito estranho.
Passo a mão pelo meu rosto e não sinto nenhum machucado, ferimento, cicatriz. Talvez eu esteja sonhando, talvez eu estava completamente fora da realidade.
Ergo a coluna me levantando, sentada na cama eu observo minhas pernas cobertas pela calça de tecido leve, puxo a barra para cima deixando a minha canela nua e subo até a metade da coxa, vejo um pedaço escuro e grosso de linha esticado e o seguro com as pontas dos dedos.
Examino com atenção vendo resquícios de sangue, isso era…A sutura que Lucy fez, meu coração erra a batida, como seria possível?
Passo a minha mão em desespero pela minha pele, examinando algo que eu não via a um bom tempo, nenhum ferimento, nada, só uma pele normal e saudável.
Faço o mesmo com a outra perna sem conseguir saber se isso era a realidade, como isso é possível? Eu lembro de ter longos e profundos cortes, hematomas, além de ossos quebrados, mas não sinto dor ao respirar, não sinto dor em absolutamente nada.
Retiro a blusa branca que eu usava, estava manchada de sangue e eu a usava desde que entramos no navio, a retirei e examinei o meu abdômen, não havia nada, toquei minhas costelas, cujo os ossos eram saltados, com as pontas dos dedos, botei certa pressão e não senti nenhuma dor.
Absolutamente nada.
Ou eu estava sonhando, ou dormi por pelo menos alguns meses seguidos. Não acreditava em nenhuma das opções, até porque eu já passei por isso uma vez e posso imaginar o que fez isso acontecer, ou melhor, quem.
- Lauren…- sussurro baixinho deixando minha voz ecoar pelo quarto. Coloco de novo a blusa e tapo o meu rosto com as mãos, ainda sentada na cama.
A certeza de que ela fez isso é absoluta, eu não estava sonhando, e não era possível que a mão de Lucy seja milagreira e tenha me curado da noite para o dia. Não. Lauren é uma sereia e não seria impossível ela entrar pelo navio enquanto eu dormia, ter feito isso e depois ir embora sem dizer uma palavra.
E ela fez isso, e me curou.
Sigo com o aperto no peito ainda mais forte e uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto, seria mais fácil se ela simplesmente fosse embora para sempre, me deixasse seguir a minha vida, mas é óbvio que isso não vai acontecer, mesmo se ela não aparecer novamente, ela nunca mais vai sair da minha cabeça.
Toco os pés descalços no chão e me levanto, pela primeira vez sozinha durante esse período de tempo, dou o meu primeiro passo até a minha mesa. Toco na madeira e vejo um pequeno bilhete preso com um canivete.
"Sei que não vai me perdoar, mas fiz isso por você e por todas elas."
Um estrondo faz com que eu não tenha tempo para pensar nas palavras escritas, viro o rosto e vejo uma Dinah ofegante na minha porta.
- CAMILA! - ela grita como se eu não tivesse a alguns metros dela, e depois de me ver em pé arregala os olhos.- CAMILA!
- O que é Dinah?- pergunto e puxo o bilhete fazendo ele se rasgar, amasso o papel e jogo no chão em um movimento rápido para que ela não veja.
- Você está de pé!- seus olhos correm pelo meu corpo, ela me encara da cabeça aos pés três vezes seguidas.
- Sim.- respondo tentando fingir naturalidade, fingir que isso era algo previsto e que não foi nenhum poder sobrenatural de sereia.
- Todas estão!- ela grita mais uma vez e por mais que eu esteja surpresa, ajo como se não fosse nada importante.
Por mais que eu esteja feliz por isso ter acontecido, eu não estou contente em saber como isso aconteceu, se Lauren pensou que eu a perdoaria com esse ato, ela está muito enganada.
Tudo que ela faz, ela leva embora, é capaz de planejar mais um desses ataques só para nos destruir novamente e eu estou extremamente cansada disso.
- Você não parece…- eu interrompo a frase de Dinah.
- Feliz? - meu tom é rude, mais do que eu queria.- Só estarei feliz quando colocar meus pés em casa, de agora em diante seguiremos viagem sem pausas.
- Camila…o que…
Ergo a mão fazendo ela parar de falar no mesmo instante.
- Por favor Dinah, eu preciso de um tempo.
Seus olhos me encaram incrédula e após alguns segundos ela abaixa o olhar, dá as costas e vai embora.
- Merda…- xingo baixo ao ver sua expressão chateada, eu não posso voltar a ser aquela capitã dura e fechada, não depois de tudo o que eu passei.- Dinah!- grito já que a porta está aberta, provavelmente ela me escutará.
Ouço o som de pisadas vindas da escada e antes de seu corpo aparecer dentro da cabine, ouço sua voz.
- Sim?
- Me leve até elas, quero ver como elas estão.
Ao aparecer no final da escada vejo seu sorriso brilhante.
(…)
- Foi a Lauren, não foi?- a pergunta vem logo que eu ponho os meus pés na ala de quartos. Levanto o olhar para Verônica que está em perfeito estado, de pé sem qualquer hematoma ou sequela dos acontecimentos anteriores, posso dizer que fiquei extremamente surpresa, não imaginava que um dia eu a veria bem novamente.
Dinah surgiu atrás de mim e depositou a mão no meu ombro.
- Provavelmente.- ela diz me poupando a palavra, Vero a encara e depois abaixa o olhar.
- Ela…fez aquilo comigo e depois isso com a gente e agora nos salvou.- ela diz em voz baixa, como se tentasse assimilar para si mesma, eu suspiro já que estou nesse mesmo conflito na minha mente.
- Fez o que?- Dinah pergunta e Vero nega com a cabeça.
- Nada…
Eu sei que ela se envergonhava do que aconteceu, quando beijou Lauren, eu sou a única que sabe sobre isso, e manterei segredo pela minha amiga.
- Não se preocupe Vero.- ela olha para mim enquanto eu falo. - Nunca mais a veremos, eu prometo.
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A SEREIA
Fanfiction(Concluída) A Capitã Cabello é ambiciosa e deseja ir atrás do tesouro que seu pai egoísta escondeu, ela juntou diversas mulheres que tinham sua confiança para formar uma tripulação. Em seu navio ela se tornou a autoridade máxima e se esqueceu de com...