Capítulo 43

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Só caiu a ficha de que eu estava finalmente em casa quando dois braços finos agarraram minha cintura, uma garotinha que agora não precisa mais ficar na ponta dos pés me abraça. Sinto seu cheiro familiar e retribuo o carinho com intensidade.

Eu finalmente estou em casa.

- Kaki!- a voz dela está embargada de choro, sua cabeça está recostada no meu peito e eu apoio a minha no topo da sua, mais uma lágrima escorrendo pelo meu rosto.

- Sofi…- engulo a vontade enorme de desabar em um choro sem fim e abro os olhos, uma mulher está atrás de nós nos observando, assim que a garotinha dá um passo para o lado a mulher abre os braços, sou acolhida pela minha mãe, e dessa vez não consigo segurar a emoção.

- Pensei que você nunca mais voltaria…- a voz dela falha, sinto seu cheiro de eucalipto tão familiar e a abraço com ainda mais força.

- Eu fiz uma promessa.- digo em seu ouvido.- Eu voltei, mas não com tudo…

- Não importa,- ela me interrompe.- Você está aqui sã e salva, basta.

Suspiro e nos soltamos, seus olhos castanhos e cobertos de lágrimas encaram os meus.

- Sentimos tanto sua falta Kaki!- a baixa diz abrindo um enorme sorriso faltando alguns dentes.

- E eu a de vocês banguelinha.- suas bochechas ficam coradas e eu faço um breve carinho em seu cabelo.

- Mi hija…- as lágrimas caiam dos olhos da minha mãe, e ela segurava com força a minha mão.

Elas estavam tão diferentes…eu senti tanto a falta de casa.

- O que estamos esperando? Vamos para casa, temos muitas novidades.- digo já pegando na mão da pequena.

O meu navio foi ancorado no lugar de costume, enquanto andávamos pela rua movimentada, cheia de comércios ambulantes e pessoas andando com enormes chapéus, eu olhei para trás, senti meu coração apertar, como se fosse a última vez que eu o veria.

Estou feliz de estar em casa, de ver minha família, mas é como se faltasse alguma coisa.

Mais uma lágrima escorre pelo meu rosto enquanto estávamos cada vez mais distantes do porto.

As outras marinheiras já estavam seguindo seus caminhos também, nós retornariamos a uma vida normal, com nossa família de sangue. É estranho, é triste, o fim de um ciclo, e por mais que não tenha sido como esperávamos, foi bom, foi bom estar ao lado delas por todo esse tempo.

A última que vejo é Dinah, que está cercada da sua enorme família, ela acena para mim e eu abro um sorriso, Sofi me puxa com mais força, ela está muito ansiosa com a minha volta.

Nossa casa continua como sempre foi, estreita e cheia de barcos de pesca velhos, nós vendiamos peixe desde que meus pais se casaram, é o negócio da família, mas depois que meu pai comprou o navio ele se dedicou mais a ser um pirata e quando eu tinha três anos ele já estava no mar, fazendo o que fez e sendo egoísta com a família que o tanto ajudou.

Minha mãe me serve um copo d'água, suas mãos estão tremendo, sentadas na mesa de madeira lascada as duas me encaravam com brilho nos olhos, esperavam que eu começasse a falar, mas eu não tinha palavras para soltar.

Eu não tinha o que dizer. Então eu simplesmente comecei a chorar, de alegria por estar de volta, de triste por não ter sido como eu esperava, de raiva pelo meu pai, de saudades…da Lauren.

Por que eu sinto isso por ela? Por que depois de tudo o que ela fez eu a quero comigo? Eu não consigo entender.

- Mila o que está acontecendo?- minha mãe se levanta e me abraça.

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