Capítulo 6

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Eu subia as escadas com Serena ao meu lado segurando minha mão, ela fazia isso em sinal de gratidão, eu ainda me sentia horrível pelo que fiz com ela e por todos que tranquei naquela merda de lugar. Ela sorria porque se sentia bonita com o vestido e realmente estava, ele combinava mais com ela do que comigo.

Ao chegarmos ao convés senti a brisa fresca que limpou os meus pulmões, a primeira a nos ver foi Dinah que já esperava por mim, ela encarou Serena de olhos arregalados, depois viu nossas mãos unidas e congelou. Boquiaberta ela nos encarava até Serena se sentir constrangida e soltar a minha mão, Dinah recobrou a consciência.

- Estão todas te esperando Senhora, a cozinheira e mais algumas saíram em um bote para falar com os comerciantes.- eu concordei com a cabeça enquanto Dinah gaguejava e corria o olhar por mim procurando por explicações.

- Vamos, temos assuntos a resolver.- deixei que as duas seguissem em frente e eu fui atrás.

Todas da minha tripulação formaram uma roda no espaçoso convés e deram espaço para que eu me localiza-se no centro, olhei ao redor vendo seus rostos curiosos e alguns receosos e procurei entre eles os dois olhos verdes, mas não os encontrei, olhei para Dinah que não deve ter percebido por quem eu procurava, ela só se manteve parada esperando que eu começasse o discurso.

- Como vocês sabem estamos chegando em terra firme, ao invés do que fizemos daquela terrível vez agiremos de forma civilizada.- eu andava ao redor enquanto dizia as palavras, todas me olhavam com atenção, e entre ela eu vi Ally que sorria, Lucy que concordava com a cabeça, elas pareciam orgulhosas. Dinah e Normani estavam boquiabertas, uma do lado da outra.

- Foram momentos difíceis e não acontecerão novamente. Nós temos ouro e prata o suficiente, iremos lá atrás de tecido, roupas, comida, carne e água, nada além disso.- continuei minha fala, alguns cochichos se iniciaram, mas logo acabaram quando eu voltei a falar.

- Serena foi isenta dos acontecimentos anteriores, isso não muda o que aconteceu, e não quero que mais erros assim apareçam novamente, mas se acontecerem não existirá a punição na minha cabine- ouvi exclamações surpresas- Aquela cela não existirá mais.

Dinah e Normani não poderiam estar mais surpresas, seus queixos estavam caídos, assim como o de todas, menos de Serena que sorria como uma criança que acabou de receber um saco de doces.

- É só isso, se preparem para ancorar.- olhei para o mar e estávamos bem perto de terra.- Nós páramos aqui.

Todas saíram do estado de choque e começaram a se movimentar, vi algumas novatas puxarem as cordas enquanto Juno, Margareth, Celia e Verônica cuidavam dos botes.

Caminhei até Dinah que conversava com Normani, olhei para as duas que pararam o diálogo no exato momento em que me viram.

- Onde está ela?- perguntei de volta ao meu tom autoritário.

- Ai está! Há!- Dinah gritou e eu dei um passo para trás de sobrancelhas erguidas, Normani revirava os olhos- Eu sabia que ela não havia mudado, essa história de "boa Capitã" não me engana não.

- Dinah...- Normani a cortou.

- Você me deve por essa Mani, eu sabia, Camila não me engana...

- Dinah.- dessa vez a voz foi minha.

- O que é Capitã?- ela perguntou com sarcasmo e eu já estava perdendo a cabeça, eu podia estar tentando ser uma boa pessoa, mas não seria tão rápido assim.

- Onde. Ela. Está?- perguntei pausadamente.

- Oh sim!- Dinah dizia de forma teatral em alto e bom som- A boa Capitã vê uma naúfraga nua que está puro osso e com um corte imenso na coxa e o que ela diz?- Dinah faz uma dança idiota demonstrando a cena ao lado das redes que ainda estavam no convés- Deixem a nua, algemem e mandem ela subir no mastro mais alto para trabalhar o dia todo- Dinah faz uma imitação ridícula da minha voz autoritária e eu estou trincando os dentes de raiva.

- Dinah- Normani repreende segurando o riso- Acho que você deveria parar.- ela me encara, eu já devo estar vermelha de raiva, sinto meu corpo arder, mas me controlo, ninguém, nem ao menos minhas amigas, absolutamente ninguém teve a ousadia de fazer isso comigo, nunca.

- Oh Sim Capitã- Dinah fez uma reverência chamativa- Queira desculpar os meu malditos atos, a bela prisioneira está deita ardendo em febre no meu quarto.

Bufei irritada e passei por ela e empurrando com o ombro, Dinah dizia alguma coisa, mas eu não ouvi e não me importei, segui em frente até a porta que levava aos quartos.

Desci um lance de escada e vi a única porta aberta, encarei pela abertura o que eu não gostaria de ter visto.

A mulher estava deitada na cama de Dinah, ao lado em um pequena mesa de madeira estava uma bacia de água, em sua testa um pedaço de pano molhado estava, ela vestia um vestido simples e curto que mostrava seu corte na perna, os pontos estavam ali sangrando e ela estava dormindo.

Aproximei-me mais e vi uma garrafa de vinho em sua mão, ela deve ter bebido para diminuir a dor. Olhei o sangue e os machucados, os menores já estavam bem melhores e não precisara de pontos, mas o da perna estava cada vez pior. Eu precisava fazer alguma coisa.

De repente toda a raiva que eu já senti por ela desapareceu, aquela nossa "briga" não existia, eu precisava ajudá-la, precisava me redimir, eu nem ao menos me dei ao trabalho de perguntar o nome dela com decência.

Procurei nas coisas de Dinah e não demorei para encontar, um pedaço de pano limpo, uma pomada artesanal, eu dei para ela usar na perna pois ela sentia muita dor ainda, é um bom anestésico.

Em um baú encontrei uma garrafa de álcool puro, sabia que ela guardaria algo desse tipo por aqui. Não para beber, mas para vender caso a bebida do navio acabasse. Isso vale uma fortuna para um monte de mulheres morrendo de fome e sede.

Fiquei ao lado da cama observando a mulher, peguei a garrafa e abri, encarei seu machucado.

- Vai doer.- sussurrei como se ela pudesse ouvir.

Despejei o líquido fazendo com que ela gritasse acordando, seus olhos rapidamente encontraram o meu e eu parei o que estava fazendo.

Os verdes brilhantes demonstravam dor e surpresa, eu me aproximei mais uma vez  e ela se afastou.

- Calma- levantei as mãos em rendição- Eu só quero ajudar.- apontei com o olhar para sua perna.

Ela me encarou por um instante, e viu as coisas que eu segurava com a mão, depois voltou a se deitar me cedendo espaço para o trabalho.

Peguei o pano molhado e delicadamente retirei da sua testa, ela observava cada movimento meu, eu a encarava tentando demonstrar estar ali por ela e não para machuca-la.

Coloquei o pano na bacia e peguei um limpo para secar seu machucado, assim que o pano encostou em sua pele ela gemeu de dor e contraiu o músculo, por instinto eu segurei em sua mão, ela me encarou com uma expressão que eu não poderia dizer o que significava, eu soltei sua mão e ela suavizou o olhar.

- Só estou secando para passar uma pomada.- ela assentiu com a cabeça. Terminei de passar o pano com suavidade, ela contraiu o músculo algumas vezes, mas notei que não sentia mais tanta dor.

Abri o objeto de metal e o cheiro forte invadiu minhas narinas, peguei um pouco da pomada com o dedo e olhei para ela antes de aplicar, ela assentiu com a cabeça aprovando que eu poderia fazer.

Arderia um pouco, mas seria breve e logo ela não sentirá mais nada, seria a oportunidade perfeita para Lucy tirar ou trocar os pontos e fazer uma atadura com os tecidos que comprarmos.

Passei delicadamente primeiro na pele ao redor, observei com detalhe o machucado e arrastei o creme para ele, a morena gritou e agarrou com força a minha perna, aproveitei para passar rapidamente por toda a extensão do machucado e quando terminei ela soltou a minha perna.

A morena me encarou como se pedisse desculpas.

- Está tudo bem, esse troço arde mesmo.- a mulher me olhou e concordou com a cabeça, com um pouco de força ela se apoiou nos cotovelos e observou uma machucado franzindo a testa, ela ainda sentia dor.- Vai passar, eu juro, vou pedir para a médica vir aqui te ajudar.

A mulher concordou e voltou a deitar, achei que o melhor agora seria deixá-la sozinha e trazer um pouco de comida mais tarde.

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