Por dentro de mais pedras eu já estava cansada de ver o mundo na cor cinza, chuto uma das rochas sentindo a dor latejar no meu pé, já não importava mais, eu estava com o meu corpo todo quebrado, presa, pelo tempo que eu julgo ser a eternidade nessa maldita caverna, na ilha que eu tanto sonhei um dia chegar e agora era o meu maior pesadelo.
Depois que fomos presas por aquelas algas grudentas as sereias nos arrastaram por entre as rochas como se fôssemos pedaços de carne, a que me arrastava, Lauren, foi a que deu a última ordem.
De fecharem os "portões".
Nos levaram até essa caverna, que ficava por entre as maiores rochas pontudas do vale, levei alguns cortes por passar entre elas, todas as mulheres levaram, e quando chegamos ao final, em um espaço totalmente coberto por pedras as sereias simplesmente nos deixaram lá.
Vi o olhar de Lauren pesar sobre o meu, aqueles olhos verdes me traíram, eu não podia imaginar que ela seria capaz de fazer tudo isso. Não, não ela. Eu pensava que ela sentia algo por mim, pelo me os compaixão, mas não, talvez ela só quisesse vingança.
Assim que nós estávamos ali magicamente grades de metal subiram impedindo que nós saíssemos daquela prisão infernal, as sereias foram embora sem dizer uma palavra, e como ali era um buraco negro e estava de noite, não enxergavamos absolutamente nada, só silhuetas.
- Maldita!- esbravejei depois de chutar a pedra, me apoio nas grades de metal.
- Camila!- ignoro a voz que me chama e continuo a amaldiçoar o caminho que as sereias fizeram para sair de lá.- Não adianta você xingar, já estamos presas aqui.
Suspiro irritada, o meu sangue fervendo dentro de mim. Como uma coisa dessas podia acontecer?
Sem navio. Nessa ilha, sem nada. Agora meus dias estavam contados e os da minha tripulação também.
Lauren dizia "você vai destruir esse navio", eu fiz essa parte, ela destruiu o resto.
- Aaaaah!- gritei em plenos pulmões agarrando as grades de metal e fazendo elas balançarem.
- Camila! Para com isso.- sinto mãos firmes segurarem os meus ombros.- Não vai adiantar nada.
Deixo ser levada pelas mãos que me seguram, a pessoa me abraça com força e eu fico com a cabeça encostada em seu peito. Sinto o nó se formar na garganta, ao invés de demonstrar força e segurar as lágrimas, eu deixo elas escorrerem pelo meu rosto, afinal não há nada a se fazer.
Acabou.
Lauren nos destruiu.
- Ei…- Dinah ergue o meu rosto posicionando o indicador no meu queixo.- Não chore.- ela limpa minhas lágrimas com os polegares.
- Eu me sinto destruída Dinah…- desabafo.- Perdi tudo pelo que eu lutei, tudo.
- Eu sei, mas estamos aqui, estamos juntas.- seu olhar tem esperança, como ela pode ter qualquer tipo de sentimento positivo estando presa nesse inferno?
- Nós não temos salvação Dinah, olhe a sua volta, não temos comida ou água, Vero está totalmente quebrada, temos machucados sérios que se não forem tratados…não sei o que vai nos matar primeiro, a fome ou a infecção.
Dinah abaixa o olhar após ouvir minhas palavras.
- Normani foi salva pela Lauren.- seu tom de voz é baixo, como se hesitasse em contar.
Só a menção do nome dessa traidora me causou calafrios, fecho minhas mãos em punhos.
- Quando Alexa e Jasmine a afogaram e a deixaram na água Lauren a salvou, a meu pedido ela foi atrás de você e encontrou a Mani primeiro, trouxe ela de volta para nós e disse para onde irmos.
- Era uma maldita cilada Dinah.- eu digo com fúria.- Ela me salvou diversas vezes, tudo para depois acontecer isso.
- Não faz sentido Mila…
- Claro que faz, ela é uma traidora desgraçada!- gritei fazendo minha voz ecoar pela caverna.
- Camila, ela te salvou duas vezes, tentou salvar o nosso navio, nos salvou, salvou Normani, por que justamente agora ela nos mataria?
- Eu não sei.- dou de ombros.- Ela é uma sereia, não é confiável.
- Há alguns dias atrás você nem acreditava que sereias existiam e agora a está julgando?- A voz de Dinah é calma e me atinge de uma vez, me perco nas palavras.
- Tanto faz, mas se ela é tão boa assim por que nós estamos aqui atrás de grades?
Agora eu fiz ela se calar, a verdade é que a culpa é de Lauren e não importava o resto.
- Ágata…- sussurro me lembrando da mulher.
- O que vão fazer com ela?-Dinah questiona e eu suspiro.
- Eu não sei…ela não pode nem andar, não terá como se defender.
Sinto a raiva novamente subir pelo meu peito, eu definitivamente odeio sereias, se eu puder ver uma antes de morrer eu acabarei com ela no mesmo instante
- Precisamos descansar…- Dinah diz, eu ainda estou nos braços dela e a encaro de sobrancelhas franzidas.
- Descansar?!- ela só pode estar louca.
- Sim, deitar e descansar.- ela diz, simples assim, como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer.
- Você pirou de vez.- digo me soltando dela e suspirando pesado. Encaro a grade de metal, se eu pudesse queimar algo de tanto olhar tenho certeza que essa prisão já estaria derretida.
Ouço baixos gemidos de dor, olho para o lado e vejo o vislumbre de Verônica deitada ao chão, algumas mulheres ao seu redor, Lucy fez de tudo para estancar os machucados profundos dela, mas é difícil sem luz e sem nada, usou tecidos rasgados de nossas roupas, mas não é o suficiente. Ela está péssima.
Mais uma vez me encontro perdida. Nós veremos uma por uma de nós morrer desse jeito.
Passo os braços por entre as grades e apoio a cabeça no metal gelado.
Acabou tudo.
Eu culparia meu pai por tudo isso, culparia Lauren, ou a mim mesma, mas agora nada mais importa, estamos aqui e é isso. Fim.
Cada vez escurecia mais e pelo eco eu ouvia os sons vindos da ilha, pássaros piando, a água do lago batendo nas pedras, o vento que fazia curva assobiando aqui dentro, sentia o frio da noite e pelas frestas entre as rochas eu era iluminada pelo brilho da lua.
Lembrei do dia no meu navio em que vi Lauren no cesto da Gávea, sua beleza sempre me encantou, lembrei de ter me arrependido do modo que agi com ela, agora não me arrependo mais. Me arrependo de tê-la beijado e de ter confiado nela.
Como eu fui burra…sereias só beijam para matar, "o último beijo da vida de um pirata", ela não fez como as outras sereias, não me arrastou para o fundo do oceano e me matou, ela me prendeu aqui e espera que o tempo faça isso por ela.
Acho que ela conseguiu o que queria.
E eu perdi tudo.
Suspiro e fecho os olhos, pensando mais uma vez que nunca vou chegar em casa de novo, nunca mais vou ver Sofi, ela deve ter crescido tanto nesse tempo…
Nunca vou dar para ela e para a minha mãe a vida que elas mereciam, e elas nunca vão descobrir o que realmente aconteceu comigo.
Abro os olhos quando mais uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Percebo que de repente está tudo mais claro, o que é estranho já que eu estava de olhos fechados. Ergo a cabeça e vejo que a luz está na ponta da caverna, como se estivesse se aproximando.
Sinto o meu coração bater no meu peito de forma rápida.
O que pode ser isso?
Cada vez mais próximo eu consigo ver, uma luz verde pequena e forte que passa por entre as rochas pontiagudas em nossa direção.
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A SEREIA
Fanfiction(Concluída) A Capitã Cabello é ambiciosa e deseja ir atrás do tesouro que seu pai egoísta escondeu, ela juntou diversas mulheres que tinham sua confiança para formar uma tripulação. Em seu navio ela se tornou a autoridade máxima e se esqueceu de com...