Capítulo 20

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Flashback on

Minha irmãzinha segurava firme na minha mão, seus olhos estavam cheios de lágrimas e seu pequeno corpo tremia, a puxei para um abraço apertado enquanto eu segurava minhas lágrimas, eu estava de joelhos, então estávamos do mesmo tamanho, ela soluçava em meu ombro e chorava alto, isso partia meu coração em milhões de pedaços. Quando nos soltamos e eu me levantei ela abraçou minha perna impedindo que eu andasse.

- Não vá Kaki, por favor.- encarei o seu olhos marejados e senti o nó na minha garganta.

- Deixe sua irmã Sofi.- minha mãe tomou conta da situação e segurou nos ombros da minha irmã fazendo ela se afastar.

Relutante ela me soltou, esbravejando em um alto choro, agarrou na mão da minha mãe e me encarou com tristeza.

Ajoelhei-me de frente para a minha irmãzinha e segurei em seu pequeno rosto, abri o melhor e maior sorriso que pude para falar com ela.

- Eu prometo voltar, logo.- ela concordou com a cabeça e diminuiu o choro, usei meus polegares para secar suas lágrimas e dei mais um abraço rápido na minha pequena.

- Vou esperar por você Kaki.- e planta os pés na areia com força, solta a mão de minha mãe e cruza os braços fazendo beicinho.- Aqui.

Solto uma baixa risada e concordo com a minha pequena.

- E eu estarei ali te vendo.- aponto para o navio, ela dá um sorriso rápido, mas vejo que ainda segura algumas lágrimas.

Levanto e encaro os olhos de minha mãe, por mais que ela não quisesse chorar para não causar uma cena, ela demonstrava a tristeza e a hesitação.

- Eu vou ficar bem.- digo firme para ela. Sinu só concorda com a cabeça.

- Seu pai era um cabeça dura...

- Não quero que você fale sobre ele...- nego com a cabeça e deixo de encarar seus olhos.

- Não.- ela me corta.- O mar vai te mudar mi hija, vai te transformar em alguém diferente, ele não era assim.

- Não vou deixar isso acontecer mama, - olhei em seus olhos- nunca vou me tornar ele.

- Eu sei que não.- e ela segura em minhas mãos.- Mas eu tenho medo, não quero que você vá.

- Eu prometi, prometi que daria a melhor vida para a nossa família.- digo com o peito inflado de ar.

- E vai, e pode, mesmo aqui, não tem que ir.

- Eu tenho mama, e eu vou. Eu tenho uma tripulação que conta comigo, e vocês.

- Nós precisamos de você aqui Camila.- o semblante da minha mãe está alterado e não estou gostando dessa conversa.

- Eu já disse o que eu vou fazer, pare de tentar me impedir!- esbravejei fazendo Sofi dar um passo para trás.

Minha mãe me encara horrorizada, nunca na vida eu gritei com ela, sempre fui doce e gentil, principalmente com a minha família e nunca gritaria desse jeito na frente de Sofia, já que esses eram atos que meu pai cometia e eu condenava.

- Pelo visto não é o mar que vai te mudar. Você já está mudada.- ela me encara e olha a minha roupa, ao estilo da que o meu pai usava, o anel dele em meu dedo e sua espada em meu cinto.- Está igual ao seu pai.- ela não diz como quem quer ofender, mas isso toca no fundo da minha alma e eu me transformo em outra pessoa.

- Eu não sou a porra do Alejandro! Eu não sou ele entendeu?!- dei um passo para frente chegando bem perto de seu rosto. A simples menção do meu pai pode me alterar em circunstâncias extremas, o choro alto da minha irmã faz eu dar um passo para trás.

- Ei, ei, ei.- Dinah intervém rapidamente depositando as mãos em meus ombros.- Parece que o nervosismo da viagem está alterando todo mundo não é mesmo? - e dá uma risada nervosa - Eu mesma quase enchi um barril inteiro de...

Nós três encaramos ela de sobrancelhas franzidas, ela percebe que é hora de parar de falar.

- Bom, de qualquer jeito está tudo pronto, estamos com o céu ao nosso favor.- e faz a minha pequena sorrir e encarar o céu com brilho no olhar.

- Estou indo.- digo olhando nos olhos da minha mãe, ela não tem reação, abaixo novamente e dou um beijo na minha irmã, que dessa vez tem receio em me tocar.

- Não gosto quando fala assim.- ela diz e pisca com força os olhos, se referia a como eu agi com a minha mãe.

- Só saiba que eu volto logo.- a encaro no fundo de seus olhos- ok?

- Ok.- ela diz e eu me levanto novamente, dou às costas para a minha família sem olhar para a minha mãe e Dinah caminha ao meu lado. Antes de subir ao navio eu pego o que está em cima de uma das madeiras de sustentação do píer, o maldito chapéu e no mesmo instante o coloco na cabeça. Vejo o olhar de Dinah pousar sobre o meu ato e eu simplesmente ignoro, mantenho a postura firme, queixo para cima, peito inflado, passos pesados, passo por uma a uma da tripulação, eu devo ser a primeira a subir.

Encaro a lateral do meu navio antes e coloco a mão na escada. Não olho para trás, simplesmente pego impulso e subo, afinal, eu sei o meu destino.

Espero até que todas estejam posicionadas e dou a minha primeira ordem.

- Içar velas, levantar âncora.

E em um uníssono "Sim Capitã" todas estavam nas minhas mãos.

(...)

- Camila.- Dinah diz ao se aproximar de mim na proa do navio, eu observava o meu navio cortar o oceano com agilidade, o céu de um azul claro coincidindo com o mar, e nuvens brancas como neve. A brisa do mar me refrescava, coloquei as mãos sobre um barril e me virei para olhar Dinah.

- Capitã.- solto a palavra que rasga a minha garganta.

- O que?- ela pergunta com as sobrancelhas franzidas.

- Nesse navio eu sou sua Capitã e deve me chamar assim.- meu maxilar fica rígido e Dinah dá um passo para trás.

- Certo... Capitã, desculpe incomodar.- espera que eu diga alguma coisa, mas eu dou a ela o silêncio que é compreendido como "assunto encerrado", ela dá mais dois passos para trás e vai embora.

Voltei a olhar o belo mar à minha frente, de relance vi uma luz verde flutuar pela água, com certa curiosidade me aproximei querendo saber do que se tratava, mas ao olhar novamente não havia luz alguma.

Flashback off

Agora perdida dentro do oceano, água nos pulmões, afundando igual ao meu navio eu pensei que esse deveria ser meu último pensamento, minha última lembrança, até ver dois pontos verdes e brilhantes vindo em minha direção.

A SEREIAOnde histórias criam vida. Descubra agora