Acordo com o suor escorrendo pelo meu rosto, seguro firme nos lençóis tentando respirar fundo e me concentrar.
Foi só um sonho, mantive esse pensamento na minha cabeça.
Só um sonho.
Olhei ao redor procurando resquícios do que aconteceu e comprovei o que eu afirmava, é claro, isso nunca poderia ser realidade. Mordi o lábio inferior e suspirei, balanço a cabeça espantando tal pensamento.
Um estrondo movimenta o navio e de repente eu me vejo no chão, bati com o meu corpo na madeira, o barulho fez com que eu ouvisse um zumbido dentro do meu ouvido, o navio pela segunda vez balança me jogando para o lado, bato com a cabeça na ponta de algum objeto de metal, vejo algumas coisas caírem por cima de mim e não consigo me movimentar.
- Merda!- gritei quando o navio mais uma vez balança e um barril bate na lateral do meu corpo. O metal dele rasga a minha roupa e pele, eu sinto aquela área arder e sangue escorrer pela minha costela no mesmo instante.
- Camila!- ouço alguém gritar e passos pesados perto de mim.
- Estou aqui!- e ergo minha mão, não consigo me levantar e sinto que devo ter quebrado alguma parte do corpo, pois a dor é insuportável e latejante.
Uma mão firme me segura e me ajuda a levantar, meu corpo é puxado com força pela Dinah, assim que meu olhos caem sobre ela vejo sangue escorrer pelo seu rosto, ela tem um grande machucado na cabeça e um olhar atônito.
- Dinah o que está acontecendo?- ela me segura para que eu não caia, ainda estou tonta e com dificuldade para respirar, dou um passo que faz eu tropeçar nos meus próprios pés e minha amiga me segura em seu abraço.
- Estão atacando o navio.
As quatros palavras invadem a minha mente e me deixam enjoada, mais uma vez o navio é jogado para esquerda e dessa vez nós duas caímos por cima de um baú, ouço o grito alto da minha amiga e nos mesmo instante o som do corpo dela batendo com tudo no móvel.
- Pelos céus!- é a voz de Normani, tento me reerguer, usando a minha mão de apoio com o impacto, eu não me machuquei muito, mas não consigo levantar já que mais uma vez o navio estremece, como eu vou sair daqui se nem consigo ficar em pé? Dou um grito enfurecida tentando me reestabelecer, tentando manter o controle, mas é impossível.
Pelo canto do olho vejo Normani me segurar e me puxar, ela encaixa meu braço em seu ombro e eu consigo ficar em pé com certa dificuldade.
- Dinah!- ela grita para a mulher que está caída por cima do baú, ela parece estar inconsciente pois nem ao menos tenta se levantar.- Merda Mila, você vai ter que me ajudar.
Concordo com a cabeça e apoio meus pés com firmeza no chão, mais uma vez o navio bate com força fazendo o corpo de Dinah ser arremessado diretamente para o chão, o apoio de Normani me ajudou e fez com que nós duas ficassemos em pé.
Juntas damos um passo para frente, com uma mão de cada nós seguramos os braços de Dinah e a erguemos. Sinto o músculo do meu braço arder e os ossos estralarem, mas me concentro em ajudar minha amiga.
- Ela vai ter que ficar entre nós.- digo com dificuldade usando minha força para levantar ela.
Com um certo esforço nós conseguimos manter um ponto de equilíbrio e Dinah em pé, Normani me encara esperando por mim, eu dou um passo para frente e juntas começamos a andar para sair da cabine.
Suor e sangue escorrem pelo meu corpo, uso toda a força que tenho para andar e manter Dinah em pé, quando estamos subindo as escadas o navio se joga para a direita fazendo nós três cairmos, o corpo de Dinah é jogado para baixo fazendo um som agonizante, vejo a cena de minha amiga ao chão como se estivesse morta e entro em desespero. Ao olhar para Normani vejo o mesmo pavor em seus olhos.
- Vamos ter que pedir ajuda, sozinhas não conseguiremos.- digo para ela que concorda com a cabeça.
O som de um canhão sendo disparado faz a adrenalina subir no meu sangue, Normani me encara de olhos arregalados.
- Merda!- exclamo e com um impulso eu fico em pé segurando na parede, estico a mão para puxar minha amiga, ela me usa de apoio e consegue levantar, mais uma vez ouço o som do canhão e gritos femininos.
Subo correndo pelas escadas até um clarão atingir meu olhar, uso o braço para tapar o que quase me cegou, Normani segura em meu braço me puxando para trás quando sinto um ar quente quase queimar a minha pele, isso é fogo?
Respiro fundo e abro os olhos, estou ao redor dos braços da minha amiga que está tremendo e me segurando firme, sinto minha respiração fraca e ouço mais alguns gritos.
- O que eles são?!- uma voz alta exclama perto de mim, Normani me solta e dou um passo para o lado quando vejo chamas se alastrarem pelo mastro. Encaro minha amiga procurando por ajuda.
- Normani, encontre Verônica e mais alguém forte que possa te ajudar, tire Dinah de lá de baixo antes que esse fogo se espalhe, eu vou cuidar do resto.- minha Entendente concorda com a cabeça e rápido ela passa por mim indo direto fazer o que eu mandei.
Jogo o meu cabelo para trás tirando as mechas que grudaram no meu rosto por conta do suor, vejo sangue em minha mão e nem sei dizer se é meu ou de outra pessoa.
No mesmo instante o navio é jogado para o lado e ouço o som de madeira sendo quebrada, algo é jogado na minha direção, fazendo com que eu caia. "De novo não" penso e sinto minha cabeça bater com força em algo duro como uma rocha.
Murmuro alguma coisa que nem eu sei o que é, sinto como se meu crânio tivesse se partido, mais uma vez o som de canhões faz meu coração pulsar, dessa vez três disparos, um seguido do outro.
- Capitã!- ouço alguém gritar e segurar os meus ombros, abro os olhos e vejo duas mãos me segurarem, é Alexa e Jasmine.
Elas me ajudam a ficar de pé, mais uma vez sangue quente escorre por mim, dessa vez o de onde eu havia batido com a cabeça, encaro as duas que também estão machucadas, Alexa segura um pedaço de pano encharcado de sangue em uma das mãos, Jasmine tem uma enorme queimadura no braço, por trás dela vejo Normani correr ao lado de Verônica e da cozinheira, direto para o caminho da minha cabine.
- O que está acontecendo?- pergunto ainda desorientada.
- Estão nos atacando Capitã.- Jasmine diz e olha para o lado, Alexa geme de dor e segura firme em um ponto em sua cabeça, vejo sangue escorrer pelo seu rosto.
- Eu estava no cesto.- ela diz com certa dificuldade fazendo caretas.- Eu vi um navio se aproximando e desci no desespero, não havia ninguém no convés…- ela mostrou um corte na perna indicando que ela havia caído ao pular.
- Você sabe de quem é o navio?- perguntei me referindo a quem nos atacava desse jeito. Deveria ser alguém muito forte para nos causar isso, e os navios mais fortes são conhecidos por todos.
- Não é um navio normal.- a voz saiu de Jasmine que deu um passo para o lado dando passagem para mim.
Não era possível que agora todas aqui acreditavam em coisas sobrenaturais, dei um passo para frente quando outro canhão foi disparado, cheguei ao encosto do navio e vi um pouco distante de nós, mas ainda se aproximando, era um navio, definitivamente era um enorme navio de cor escura com velas grandes rasgadas na cor cinza escura, mas não, não era algo normal.
Ele transbordava uma luz prateada, como se tivesse envolto de uma neblina, ao topo corvos voavam fazendo movimentos circulares, uma tripulação macabra de homens com ferimentos expostos e pele acinzentada percorriam pelo convés, a polpa baixa permitia que eu visse direto todo o seu interior.
Os disparos dos canhões vinham do meu navio, olhei para o lado vendo minhas mulheres a todo o custo tentarem atingir o navio, mas toda a munição que era lançada passava pelo navio e caia no mar, como se não fosse palpável, como se nem ao menos existisse. Além de tudo ondas enormes colidem com o meu navio, ondas que parecem vir diretamente do outro navio que está se aproximando.
Foi nesse momento quando meu coração já estava na minha garganta, minhas mãos suavam e meu cérebro tentava compreender se o que eu via era realmente real ou uma continuação do meu sonho, duas labaredas de fogo foram jogadas em minha direção.
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A SEREIA
Fanfiction(Concluída) A Capitã Cabello é ambiciosa e deseja ir atrás do tesouro que seu pai egoísta escondeu, ela juntou diversas mulheres que tinham sua confiança para formar uma tripulação. Em seu navio ela se tornou a autoridade máxima e se esqueceu de com...