Um mês depois...Pelos meus cálculos chegaríamos em terra de noite, usando um binóculo já posso ver as enormes montanhas de onde estamos, mas como o vento está fraco o tempo é maior. A espera faz todos os meus ossos tremerem, não acredito que depois de tanto tempo estou voltando para casa.
Sem nada.
Mas vou voltar para a minha família.
Nos últimos dias de rumo à terra firme o mar estava agitado, eu acordava toda noite com o mesmo som de metal batendo em metal, não conseguia entender o motivo de eu ouvir esse mesmo barulho e ele vir exclusivamente da minha cabine. Mas deixei o assunto de lado já que as duas únicas coisas que eu pensava eram: Lauren e voltar para casa.
Lauren...desde que ela possivelmente entrou no navio e curou todas nós eu não tive mais qualquer "contato" com ela, nenhum bilhete, nenhum sinal, nenhuma voz na minha cabeça.
Era como se ela tivesse ouvido meus pensamentos e por fim, ido embora. Tudo bem, eu não sei se sou capaz de perdoa-la, e talvez, com ela afastada, um dia eu esqueça de tudo o que aconteceu.
Um dia...
Mesmo assim seu intenso olhar ainda está gravado na minha mente e no fundo do meu coração posso ouvir a música que ela cantou para mim, quando me salvou de morrer afogada. Por que tem que ser assim? Por que eu ainda tenho que pensar nela?
- Camila?- a voz me fez parar o que eu estava fazendo e olhar para a porta. Lucy estava parada diante dele, já devidamente vestida para o momento importante, com um belo vestido e um casaco de pele.
Eu passei boa parte da manhã sentada em minha mesa escrevendo, organizei os meus relatórios da viagem, e desenhei todo o nosso trajeto, colocando algumas informações necessárias para as minhas próximas expedições, tudo em cadernos com capas de couro, provavelmente irei guarda-los como lembrança do que passamos.
Mas omiti tudo que passou depois que encontramos Lauren, em nenhum momento eu a citei em minhas palavras, por enquanto ela não passará de uma lembrança, e quando eu estiver mais velha, nem lembrarei mais de sua existência, é isso.
Um ponto final na história, escrevo que procuramos o tesouro na ilha e não encontramos nada, nem meus parentes saberão a verdade, escrevo que voltamos com viagem e fim. Sem explicações, sem qualquer detalhe.
- Diga.- fecho o caderno e dou total atenção para a morena na porta.
- Eu preciso falar com você.- ela parecia nervosa, sabia pelo seu tom de voz.- Sobre Verônica.
Olhei em seus olhos e indiquei a cadeira na minha frente com o olhar, ela logo deu alguns passos e se sentou.
- Foi ela quem cortou Lauren aquela vez, não foi?- pergunta e morde os lábios.
- Como assim?- finjo que não sei de nada.
- Você sabe sim.- seu tom dessa vez é rigoroso.
- Lucy, acho que você deve conversar sobre isso com a Vero...
- Ela jamais me contaria a verdade.- Lucy olha para cima e depois para baixo, seus olhos já estão marejados.- Eu posso entender se não for culpa dela...eu só quero a verdade.
Ouço as palavras com atenção e fico um tempo em silêncio, está tudo tão quieto que só é possível ouvir o som de nossas respirações.
- Lucy, o que você sente por ela?- o olhar da morena passa por mim, ela parece pensar sobre o assunto.
- Eu a amo...- ela entrelaça as próprias mãos e as encara como se a resposta do universo estivesse nela.- Amo demais.
- Diga isso a ela.- o olhar dela vai diretamente para o meu.
- Mas...
- Mas nada, esqueça o mundo, esqueça o que vai acontecer depois, assuma que a ama e siga em frente.- uma lágrima solitária escorre pela maçã de seu rosto.
- Você tem certeza?- pergunta tão baixo que foi difícil para entender.
- Tenho.- respondo com firmeza e ela parece considerar.
- E se ela não sentir o mesmo.
- Você nunca saberá se não perguntar.- digo já que sei a resposta, Vero já admitiu para mim que a amava.- Aposto que você vai se surpreender.
- Eu vou tentar...
- Não espere por muito tempo, senão vai se arrepender de nunca ter dito, o que é pior do que não ser correspondida.- digo mais para mim mesma do que para ela.
Tantos sentimentos que eu guardei...me arrependo amargamente de nunca tê-los contado.
- Obrigada capitã, tenho certeza de que é a mulher mais sábia que já conheci.- um sorriso se forma em meus lábios e com certa pressa a mulher saí da minha cabine sem dizer mais nada.
Pego de novo o meu caderno e uma caneta, começo com pequenos traços curvos e finos, deixo a ponta final deslizar pelo papel, me dedico completamente a imagem na minha mente, fazendo sombras e criando pontos de brilho. Ao final quando retiro a ponta da caneta do papel encaro dois olhos de expressão séria me encarando.
É...talvez eu não deva esquecê-la.
(...)
Estávamos todas reunidas no convés e cada uma dizia em voz alta um discurso de agradecimento, lembrávamos de tudo que havia acontecido, agradecíamos a quem mais nos ajudou, e nos abracávamos, lágrimas caiam o tempo todo e eu me sentia tocada ao ouvir todo o carinho que elas tinham por mim, mesmo depois de tudo o que aconteceu.
Dedicamos um minuto de silêncio para Serena e as mulheres que foram resgata-la, talvez jamais saberemos o que de fato aconteceu, mas é importante homenagea-las. Por fim era a minha vez de falar.
- Agradeço a todas por essa aventura, se não fosse o esforço de vocês não estaríamos voltando para casa hoje, e olha lá, aponto para o horizonte, estamos a alguns minutos de distância do nosso descanso. Não tenho palavras para descrever tudo o que aconteceu, mas sei que cada minuto aqui nesse navio ficará para sempre gravado no meu coração, sejam ruins ou bons, sempre me lembrarei de vocês e da coragem de todas que ficaram aqui comigo até o último instante. Hoje nos despedimos, talvez amanhã estejamos juntas novamente, mas talvez vocês nunca mais coloquem os pés em um navio, não há problema nisso, o importante é que no navio Cabello vocês estarão gravadas eternamente como heroínas. Somos o primeiro navio só de mulheres a enfrentar o mistério do mar, e podem anotar que já somos lenda. Cada uma de nós.- engulo o nó na garganta e concluo.- Vocês são a minha família, Obrigada por tudo.
Um abraço coletivo e cheio de lágrimas é seguido após o meu discurso, dou atenção a cada uma delas, conversando em particular, nós estávamos nos nossos últimos momentos e isso fazia o meu coração apertar. Por último abraço Dinah com força, nós não trocamos nenhuma palavra, não precisávamos, eu já sabia o que ela sentia, e ela sabia o que eu sentia. Beijo a sua face e nos encaramos nos olhos, ela abre um sorriso e sinto o balanço do navio.
Ancoramos, finalmente, em casa.
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A SEREIA
Fanfiction(Concluída) A Capitã Cabello é ambiciosa e deseja ir atrás do tesouro que seu pai egoísta escondeu, ela juntou diversas mulheres que tinham sua confiança para formar uma tripulação. Em seu navio ela se tornou a autoridade máxima e se esqueceu de com...