Capítulo 14

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A pergunta de Verônica ricocheteava na minha mente, "quando tudo mudou tão rápido?", em um momento eu era Capitã do meu navio indo atrás do tesouro do meu pai, no outro perco metade da tripulação e quase todos os meus botes.

Passara uma semana e toda a noite eu sonho com Lauren, seus olhos verdes encarando cada decisão que eu tomo, cada movimento que eu faço, e ela continua falando "você vai destruir esse navio". Eu não consigo entender, como uma pessoa que eu senti tanta raiva pode ficar por tanto tempo na minha cabeça, suas palavras me tocaram, seu alerta, se ela se importava tanto por que foi embora? Se ela não queria roubar o que é meu por que levou minha tripulação? O que ela queria com tudo isso? Levar uma parte de mim e deixar uma dela comigo? Porque se foi isso ela conseguiu.

- Capitã.- Dinah me chamou fazendo com que eu acordasse dos meus devaneios.

- Oi Dinah.- respondi sem ânimo.

- Tudo certo para o seu pedido.- ela me encarou preocupada.

- Quantos botes?- perguntei temendo o futuro.

- Dois, sobrou só um para nós.- concordei com a cabeça e suspirei.

- É o certo a se fazer?- perguntei para a minha amiga procurando respostas sinceras em seu olhar

- É sim Mila, é o certo.

Ela falou com honestidade.

- Certo, me dê um minuto, já estou indo.

Dinah me encarou por alguns instantes e depois saiu sem dizer mais nada, ela estava mal, todas nós estávamos. O clima dentro do navio era pesado, sempre todas foram muito unidas, amigas, quase uma família e saindo metade de nós…bom, é difícil.

Me encarei no espelho uma última vez, usava uma camisa branca folgada e uma calça preta, minhas botas de couro velhas, e é claro o anel no meu dedo. Eu estava com rugas e minha pele um pouco melhor pois o sol estava fraco ultimamente, estávamos à caminho de um lugar com um clima frio e isso nos fazia investir em encontrar tecidos quentes pelo navio, por sorte eu tinha um bom estoque em alguns baús. Vesti o casaco velho, o mesmo do meu pai, o mesmo da primeira vez que subi nesse navio sozinha, o mesmo da vez que ele partiu, ainda ficava largo em mim.

E por fim vesti o chapéu, era o que faltava, já estava com a espada no cinto. Vi o vislumbre do meu pai no reflexo do espelho, dei de ombros, isso já não importava mais.

Caminhei lentamente descendo as escadas até o convés, todas estavam me esperando ao lado de prisioneiros ainda acorrentados, Dinah e Normani logo se aproximaram e me deram apoio com os olhares, só elas sabiam o que ia acontecer.

Olhei em um canto distante o último bote que nos restava e atrás de mim os dois já prontos para a ida, respirei fundo enchendo o peito de ar, mesmo em um momento difícil eu deveria demonstrar força para não abalar a minha tripulação.

- O que eu queria dizer- comecei em voz alta, todos cesaram os sussurros e focaram em mim- é que à partir de agora o meu navio não aceitará prisioneiros.- ouvi o som de exclamações supresas e prisioneiros de olhos arregalados.

Respirei fundo novamente, era a minha decisão.

"Continue", ouvi a voz na minha cabeça, a voz de uma pessoa que ultimamente fala mais comigo assim do que falávamos pessoalmente.

- Eu estou dando vocês comida, água e roupas, ao norte há um pequeno reino, vocês vão precisar de botes, os dois botes são o suficiente, dez de vocês em cada um.- suspirei- Espero que encontrem a liberdade e um futuro digno.

Os cochichos se iniciaram novamente e leves urros em felicidade são ouvidos. O movimento das algemas fazia um irritante, mas permiti que eles comemorassem, afinal estavam recebendo a digna liberdade.

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