A SEREIA

Capítulo 9

Tive que aturar pelo caminho todo as piadas indecentes de Dinah, ela me oferecia uma garrafa de rum declarando que isso faria a noite ser melhor, eu tentava me concentrar em ajudar Lauren a subir as escadas, ela se apoiava no meu ombro e do outro lado Normani também a ajudava, acabou que as piadas e gritaria de Dinah a acordaram e ela não tinha o que fazer além de nos ajudar, já que a imediata só nos atormentava.

A minha sorte era que Lauren não parecia entender metade das coisas que Dinah dizia, ou pelos menos por respeito se fazia de desentendida, eu gostaria de lembrar da ocasião do rum que Dinah tanto zombava de mim.

Ela deve ter bebido muito vinho isso sim, está delirando.

Quando finalmente entramos na minha cabine, Normani a coloca na cama sem precisar da minha ajuda, não que Lauren não consiga andar, ou que ela esteja debilitada, é que dependendo do esforço que ela fizer os pontos podem sangrar novamente.

Pego um cobertor de pele quente e dou a ela, ela agradece com um movimento com a cabeça e se inclina no travesseiro de penas.

Normani e Dinah estão rindo no canto, eu reviro os olhos, para elas isso tudo é uma piada?

- E a boa Capitã termina a caridade do dia.

- Cala a boca Dinah.- digo revirando os olhos, Normani sorri e se despede para sair, eu agradeço pela ajuda.

- Parabéns.- Dinah diz de repente e eu olho para ela sem entender.

- Por...?

- É a primeira vez que vejo você fazer algo bom que não seja para a sua família, algo bom vindo do seu coração.

As palavras dela me tocam, será que eu sempre fui tão má assim?

Será que eu sempre fui cega? Olhava só para mim mesma e esquecia dos outros?

Eu abro um meio sorriso e Dinah faz um breve carinho no meu cabelo, esse é o "boa noite" dela, ao sair pela porta minha amiga a fecha.

Olho para trás e vejo que Lauren já está dormindo, não vou incomoda-la, talvez eu só traga um garrafa d'água para ela beber caso tenha sede. É isso que faço, a cozinha está vazia e o convés também, não é para menos, já está bem escuro.

Ao chegar na minha cabine deposito a garrafa ao lado da minha cama, Lauren está dormindo tranquilamente, o que é bom, logo ela estará melhor.

Sento em minha cadeira enquanto ajeito alguns papéis na minha mesa, guardo a bagunça só deixando o meu mapa e algumas anotações visíveis. Volto a olhar para cabine e sinto o cansaço bater. Uma das minhas poltronas é muito confortável e eu já dormi nela algumas vezes, e faço isso dessa vez, sem perceber já adormeci.

O som de madeira sendo arrastada e alguns sussurros fazem com que eu acorde, me pergunto quem está fazendo tanto barulho sabendo que eu estou dormindo.

Abro os olhos e a vejo acordada, lembro do que aconteceu pouco mais cedo. Ela está sentada na minha cadeira, na minha mesa, olhando os meus papéis.

Tento me concentrar para ter certeza de que não é um sonho.

- Não deveria estar descansando?- minha pergunta ecoa pela cabine, mas Lauren não se digna a respondê-la.

Levanto-me ainda sonolenta da poltrona a fim de ver com clareza o que ela está fazendo.

- Você está levando seu navio para a morte.- ela diz de repente apontando para o mapa, ao chegar mais perto vejo que ela arrasta o dedo pelo trajeto que eu havia marcado.

- Não estou não.- digo próxima à mesa, fazendo ela olhar nos meus olhos, os verdes brilhantes me encaram sem raiva, mas com um sentimento que eu não conseguia identificar.