Eu já tinha comentado com minha mãe que eu havia feito amizade com uns garotos na escola, mas como ela e o tio Carlos estavam loucos com algumas obras que estavam sendo feitas em nossa casa, ela meio que ficou ocupada demais — todas as obras foram para adequarem a casa para mim. É bem difícil se locomover em uma casa de portas pequenas quando se usa muleta, imagina quando é alguém que usa cadeira de rodas! Na época que eu acordei eu fiquei hospedado na casa da minha avó porque a casa já estava toda adequada para cadeirantes porque meu avô havia sofrido um AVC em 2015 e ficou na cadeira.
Infelizmente vovô morreu um ano depois por complicações estomacais. Quando mamãe me contou tudo isso eu chorei por dois dias seguidos e então pedi que ela me levasse até o cemitério para ver o túmulo dele. Chorei igual um bebê quando vi a foto dele na lápide.
É noite de quinta-feira e nos sentamos no sofá da sala enquanto tio Carlos está na cozinha fazendo um suco de maracujá para que eu possa tomar junto com meus remédios — umas vitaminas e outras coisas necessárias que nunca lembro os nomes.
Besouro, o nosso gato que é todo preto, está deitado ao meu lado no sofá e às vezes eu o acaricio, o que o faz mostrar os dentes para mim. Eu tenho um gato que não gosta de receber carinho.
— E aí, como foram os primeiros dias de aula? — Tio Carlos aparece com uma bandeja com três copos grandes cheios de suco e um copinho descartável de café com os comprimidos.
Tio Carlos é irmão mais novo da minha mãe e ele se mudou aqui pra casa logo depois que eu voltei. Ele veio para nos ajudar, e embora nunca diga isso para mim e para minha mãe, sei que ele se sente muito culpado com tudo o que aconteceu comigo, porque a moto em que eu estava naquele dia foi um presente dele.
— Sinceramente foi muito bom! — Digo depois que já tomei dois comprimidos, agora faltam três — Nada espetacular claro, mas bem melhor do que eu esperava. — Tomo os outros comprimidos, um de casa vez.
— Me conta sobre os amigos que você fez! — Minha mãe diz, toda animada novamente, seu cabelo loiro com o corte estilo Joãozinho.
Sei que minha mãe mudou muito no tempo em que eu estive dormindo e sei que tudo foi um resultado de ser uma mãe perfeita que está 100% do tempo preocupada com o filho. Antes ela estava sempre maquiada e tinha o cabelo até o meio das costas. Nunca perguntei, porque tenho vergonha, mas sei que as mudanças — como o fato de ela ter cortado todo o cabelo — foram para tornar mais fácil dedicar todo o tempo ao filho, e o menos possível para ela mesma.
— São cinco garotos, quatro meninos e uma menina. — Começo a contar. — Eles se intitulam como NERDS, em maiúsculo. — Digo e espero que eles absorvam o que eu disse.
- NERDS? — Tio Carlos repete. — Então eles discutem sobre jogos e essas coisas?
— Sim, mas o fato de se chamarem de NERDS é por causa da primeira letra do nome de cada um. — Eu então falo, na ordem, o nome de cada um deles e dou ênfase à primeira sílaba de cada nome para que eles entendam o que eu contei.
— Isso foi muito inteligente da parte deles! — Minha mãe comenta e toma um gole do suco. — E você fica comentando sobre nerdices com eles?
Fico um pouco surpreso com a palavra que ela disse, e não sei se devo achar legal ou uma coisa ruim de ser falada.
Passo a mão pelo dorso de Besouro e ele reclama novamente.
— Eles começaram a falar sobre Star Wars no primeiro dia e eu fiquei totalmente perdido! — Comento. — Antes eu achava que era só um filme de ficção cientifica, mas aparentemente é uma história sobre políticas sociais e representatividade.
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José e os NERDS Contra o Mundo
Teen FictionJosé nunca assistiu Star Wars. Os NERDS nunca entraram em um campo de futebol. E mesmo assim uma grande amizade está prestes a começar. Há exatos três anos e seis meses atrás, José sofreu um acidente que o deixou em coma dos 17 aos 20 anos. Ao acord...