Capítulo 31 - A CONVERSA COM MINHA MÃE

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Não sei quanto tempo faz que estou aqui deitado. Sei que meu telefone tocou sem parar e eu decidir ignorar completamente.

Levo um susto quanto ouço a voz da minha mãe gritando meu nome pela casa.

— José! — Ela entra toda afobada no meu quarto. — O que aconteceu? Você estava chorando? Você tá passando mal, filho?

Me esforço para me sentar na cama e ela também se senta, me encarando e passando a mão em meu rosto.

— Como você sabia que eu estava aqui? — Pergunto.

— A Rafaela me ligou, ela disse que o Pedro telefonou para o irmão querendo saber por que você não foi trabalhar. Ninguém estava conseguindo falar com você!

— Eu tava ignorando as ligações.

Ela me encara como se eu acabasse de contar que decidi colocar fogo na casa.

— E tem um motivo especial para você fazer isso?

— Júlia e Antônio estiveram aqui hoje, me visitando. — Digo a última palavra da melhor forma sarcástica que consigo, mas me sinto tão cansado por tanto tempo que passei chorando que não faço o melhor trabalho que posso.

Minha mãe fica me encarando enquanto absorve o que eu contei.

— Como você está? — Ela pergunta de forma tão sincera que sinto vontade de chorar de raiva de mim mesmo por novamente ter deixado ela preocupada.

— Nada bem. — E com isso começo a chorar novamente. — Eu fiquei tão assustado! Por que eles tinham que vir aqui? Por que, mãe?

— Eu não sei filho.

— Isso é tudo culpa minha! Eu faço tudo de errado na vida das pessoas, eu fiz a senhora sair do trabalho por um problema meu! — Solto um soluço alto. — Eu não quero mais parar sua vida.

Me arrependo de dizer isso no momento em que sai da minha boca. Porque como sempre a minha mãe logo entende o que eu estou dizendo.

— Você acha que parou a minha vida? É isso que pensa sobre o tempo que eu estive cuidando de você, José Antônio? — Concordo com a cabeça, ela parece um pouco chateada.

— Se não fosse por minha causa você não teria passado tanto tempo em um hospital e se preocuparia mais consigo mesmo; com certeza já estaria há muito tempo nesse emprego que tanto queria. A sua vida seria bem melhor sem mim. Eu sou um fardo!

— Nunca mais volte a dizer algo assim! Você escutou José Antônio?! Você é a minha vida, você sempre foi o meu maior sonho! Sabe por que nunca me lamentei pelo seu pai ter nos deixado? — Balanço a cabeça dizendo que não. — Porque você sempre esteve comigo, você é tudo o que importa; e eu não estou dizendo que não há outras coisas em minha vida, mas se eu não tivesse você, nada faria sentido. — E então ela começa a chorar também. — Eu nunca lamentei ter que cuidar de você, eu nunca perdi as esperanças. Em todo o tempo em que estive em seu lado, a cada vez que eu pegava em seus braços e fazia os exercícios da fisioterapia, eu sentia que você voltaria para mim. Eu sabia que você acordaria, porque você é a minha vida!

— Mãe... — digo e me inclino para abraçá-la.

Ela me aperta junto ao seu corpo e eu retribuo o aperto.

Alguns segundos depois ela se afasta e me olha nos olhos.

— Todos os dias o seu tio aparecia para me trazer aqui em casa para que eu pudesse tomar banho. Ele ficava impressionado em como eu conseguia estar sempre deslumbrante. — Ela faz um floreio com a mão, o que me faz sorrir. — Na primeira vez que você acordou, eu fiquei tão feliz que sentia que deveria fazer algo pelo universo, então eu fui até a ala do câncer do hospital e pedi a uma das enfermeiras para cortar o meu cabelo, que eu havia decidido doar.

— Eu achei que você tivesse cortado antes, para se dedicar mais a mim.

— Oh não, ele ficou bem maior no tempo que você esteve dormindo. Continuando, dias depois, enquanto ainda estava em tratamento com a fonoaudióloga você pegou um papel e escreveu que meu cabelo estava lindo, você se lembra? — Balanço a cabeça confirmando. — Naquele dia, naquele momento, eu percebi que eu nunca conseguiria retribuir para o universo o quanto você me faz feliz apenas por existir. Você nunca foi um fardo, filho. Nem para mim, nem para seu tio, sua avó e qualquer outra pessoa que realmente te ama.

— Acho que também nunca vou conseguir retribuir para o universo o quanto você me faz feliz! — Digo e ela me puxa novamente me abraçando e me dando um beijo na bochecha e logo depois por todo meu rosto.

— Vou ligar para o escritório e dizer que está tudo bem. Eu deixei as meninas loucas pra vir te ver. — Ela se levantou. — E você deveria ligar para os seus amigos.

— Acho que ainda não estou bem o suficiente para falar com eles.

Sinto como se estivesse exposto demais. Não quero trazê-los para minha maior confusão.

— Tudo bem, mas eu vou ligar para a Rafa e dizer que você está fisiologicamente saudável.

Quando ela sai do quarto sinto meu corpo um pouco mais leve, mas ainda não estou totalmente bem.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora