Capítulo 46 - MÁS NOTÍCIAS PELO TELEFONE

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— Se um dia nós escrevermos um livro em conjunto — Samuel diz saindo da cozinha com um sanduíche nas mãos e se sentando em um pufe. — Ele precisará ter dois prólogos e dois epílogos. Como em Os Goonies.

Os Goonies não tem dois prólogos! — Nicolas diz, ele está sentado no pufe azul ao meu lado. Antes de Samuel aparecer ele estava me mostrando uma HQ do Pantera Negra (só porque ele e o Pedro acham que eu não posso entrar para a família deles se eu não souber o máximo sobre Wakanda).

— Mas tem dois epílogos! — Samuel diz e faz uma expressão tão engraçada que eu acabo rindo.

Ando pensando muito em como o tempo tem passado rápido. Já estamos em dezembro e nossa formatura é na sexta-feira da próxima semana. Ultimamente nós seis temos passado mais tempo juntos do que o normal: os NERDS vão para o Café da Neide e ficam lá até que seja o meu horário de sair; todo mundo até votou e permitiu que Gabriela e Pedro viessem para os últimos cinemas de quarta, só para assim Rafa e eu podermos passar, também, mais tempo com nossos namorados. Acho que o peso do fim das aulas está caindo sobre nossos ombros.

— Vocês já pararam pra pensar o que representa o fato de ter apenas uma garota nesse grupo? — Rafaela pergunta no mesmo momento que um falsete da Lady Gaga passa pelas caixas de som.

— Que poucas garotas se interessam pelo mundo nerd, é claro! — Eduardo diz.

De repente estamos todos sentados nos pufes, formando um circulo.

— Nada disso! — Rafaela diz balançando o dedo no ar. — Muitas garotas se interessam pelo mundo nerd, mais do que qualquer um pode pensar.

— Não teve uma pesquisa falando que a maioria dos jogadores online são mulheres? — Denis pergunta olhando para ela e Rafaela balança a cabeça.

— O fato de eu ser a única garota nesse grupo representa o quanto as mulheres não são aceitas entre os nerds. Não os NERDS em maiúsculo, mas os nerds de uma forma geral.

— O mundo nerd é tóxico, mas porque você está pensando nisso? — Samuel pergunta e então come o último pedaço do sanduíche.

— Eu estava conversando com a Gabriela ontem e ela tocou nesse assunto. Aí eu fiquei pensando sobre como nunca fiz nada para mudar isso... Acho que eu só ando pensando demais por causa dessa época do ano.

O fim do ano está mexendo com todo mundo.

[+]

Fico na Toca até umas dez da manhã e depois saio porque como estamos livres no sábado, Pedro vai me ajudar a encontrar um terno e minha fantasia para a festa depois da cerimônia de formatura.

Os NERDS discutiram bastante sobre nossas fantasias. Eduardo queria que cada um de nós se fantasiasse de um dos Robins — eu não fazia ideia de que existia mais de um —, mas Rafaela falou que não tava afim de ser Carrie Kelley quando ela podia ser a Mulher-Maravilha.

No fim todo mundo escolheu uma fantasia e eu não fazia a mínima do que vestir, então os garotos acharam que seria uma boa se eu me fantasiasse de John Constantine, a versão das HQs e não do filme, o que quer dizer que eu vou precisar pintar o meu cabelo de loiro. Mas vou deixar pra fazer isso um dia antes da festa, porque não sei se o resultado vai ser muito bom, então quero passar o menor tempo possível com os cabelos assim.

Pedro e eu ficamos por horas rodando pelo centro da cidade, mais conversando que tentando encontrar um lugar que tenha um terno que eu goste. Quando finalmente encontro um terno azul-escuro que fica justo ao meu corpo decido levá-lo e partimos para procurar a fantasia. Não é nada difícil encontrar uma camisa social branca, uma gravata vermelha e um sobretudo amarelo escuro, então quando já estamos com tudo, decido levar e vamos embora para minha casa.

— Você quer beber algo? — Pergunto para Pedro quando entramos em minha casa, o lugar está em completo silêncio.

— Água, por favor! — Ele diz e se joga no sofá.

Quando contei para minha mãe sobre estar namorando com Pedro, ela ficou super animada e logo tratou de organizar um jantar entre as famílias, foi meio constrangedor porque ela e a mãe de Pedro ficaram falando sobre os nossos podres de quando éramos crianças.

Entro na cozinha e encontro um bilhete da minha mãe na porta da geladeira dizendo que ela e o meu tio foram para a casa da minha avó e que só deviam voltar de noite. E um pensamento passa pela minha cabeça na mesma hora.

Volto para a sala carregando o copo e jarra de água e os entrego para Pedro.

— Sua mãe e seu tio não estão? — Ele pergunta.

— Não, estamos sozinhos. Você quer conhecer o meu quarto?

— Eu já conheço o seu quarto. — Ele diz com um sorrisinho depois de beber o segundo copo d'água.

— Não da forma como eu quero te apresentar.

No mesmo minuto ele deixa a jarra e o copo encima da mesinha de centro e se levanta para me acompanhar pelo corredor.

Tiro a camisa, os tênis e a calça antes de me deitar na cama e Pedro se senta encima de mim tirando suas roupas enquanto faz uma dancinha que me faz rir.

— Não ria, estou sendo sexy! — Ele diz, também rindo.

— Você é sempre sexy. — Eu digo e ele se abaixa me dando um beijo demorado.

Ficamos abraçados e nos beijando e de repente eu começo a sentir falta de ar.

— Só um segundo, eu ainda tenho o pulmão fraco.

— Tudo bem, vamos com calma. Eu não quero te causar um enfarto!

— Me causar um enfarto? — Eu pergunto o encarando. — Como assim?

Ela passa a mão sobre o rosto sorrindo, parecendo estar um pouco envergonhado.

— Eu andei pesquisando se pessoas que acordam do coma podem fazer sexo e apareceu esse resultado de que alguém pode até mesmo ter um enfarto.

— Você pesquisou exatamente isso no Google? Sexo com uma pessoa que esteve em coma? — Eu estou rindo tanto que talvez tenha um enfarto por esse motivo.

— Não zomba de mim! — Ele diz me dando um tapinha no braço. — Eu queria saber se poderia fazer sexo com meu namorado, não é nada de mais.

— Adoro quando você me chama de namorado!

Coloco a mão sobre seu pescoço e puxo novamente para o beijo, só que agora nós vamos mais devagar. Ninguém vai ter um enfarto nessa casa!

— Vou tomar um suco, você quer? — Pergunto, uma hora depois, quando finalmente crio coragem para me levantar.

— Tudo o que você quiser. — Pedro diz sorrindo como um bobo e eu fico um pouco envergonhado com a forma como ele me olha.

Visto a cueca que estava jogada no chão e caminho para fora do quarto sem vestir mais nada.

Estou na cozinha pegando o suco na geladeira quando escuto meu telefone tocando lá no quarto.

— É a Rafaela! — Pedro grita.

— Atende pra mim, já estou voltando.

Estou entrando no quarto com a jarra e os copos quando vejo Pedro com o meu telefone encostado no rosto e com a expressão fechada.

— Tudo bem Rafa, eu digo para ele. — Ele fala e então termina a ligação.

— O que aconteceu? — Me apresso para me sentar na cama de frente para ele.

— A Rafa ligou para pedir que fossemos para a Toca. O vovô Geraldo morreu.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora