Capítulo 12 - NUNCA IMAGINEI

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*AVISO DE GATILHO*

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*AVISO DE GATILHO*

Atenção! Esse capítulo apresenta uma história sobre Bullying e Culpabilização da vítima, se esses temas forem gatilho para você, eu aconselho que não o leia. No fim do texto eu deixarei um pequeno resumo para que não fique de fora da história!

Capítulo 12 – NUNCA IMAGINEI

É quinta-feira e já faz uma semana desde que comecei a trabalhar no Café da Neide. É nisso que estou pensando quando o sinal da hora do intervalo toca. Nisso e no fato de que eu realmente gosto de trabalhar lá. O que é uma tremenda surpresa, olhando pelo lado de que eu só tentei o emprego para que minha mãe aceitasse a proposta dela — que aliás está amando incondicionalmente o emprego, ela nem fica mais no meu pé por questão dos meus horários.

— Acho que nesse sábado a gente vai te apresentar a maravilha que é o K-POP! — Samuel diz quando eu me viro para conversar com eles.

— Contanto que não seja BTS, estou enjoado deles! — Eduardo diz, enquanto olha em seu telefone, pelo jeito como suas mãos se mexem tenho certeza de que está jogando algo.

— A gente tem que começar com JBJ! — Rafaela fala. — Em seguida Blackpink e depois a gente vai escolhendo outros grupos atuais. Vamos deixar os clássicos para outro dia.

Fico completamente confuso com esse tanto de nomes que eles falam — o que é K-POP afinal? —, mas já estou ficando acostumado em ficar totalmente perdido no meio das conversas deles, então como sempre não digo nada.

É então que a gente começa a ouvir uns burburinhos estranhos vindos do lado de fora da sala, e quando me viro e olho em direção a porta, vejo que várias folhas de papel estão jogadas pelo chão.

— O que é aquilo? — Nicolas questiona.

Nós seis levantamos quase que juntos e andamos até o corredor — eles indo na frente e eu logo atrás.

Não preciso abaixar para pegar um dos papéis porque estou ao lado de Denis e vejo o papel em sua mão.

É uma manchete de jornal que foi cortada e colada em uma folha branca e tirada em várias cópias que foram jogadas por toda a escola. Na manchete está escrito "Garoto continua em coma após um ano do acidente" e logo abaixo uma foto minha deitado na cama do hospital, a expressão fechada, vários aparelhos ligados ao meu corpo — inclusive o tubo da traqueostomia em meu pescoço.

Logo acima do recorte, na folha branca, está escrito a mão: O BELO ADORMECIDO ACORDOU.

Levanto a cabeça e vejo que todos os alunos da escola que estão no corredor e no pátio olham para mim, alguns apenas me encarando, outros conversando com os amigos e apontando em minha direção, confirmando que aquele na foto sou eu.

Fico esperando as risadas, fico esperando que alguém dê um grito fazendo alguma piadinha. Não é isso que acontece nessas situações? As pessoas não debocham umas das outras por coisas que elas não têm escolhas? As pessoas não julgam e fazem com quem é atacado se sinta ainda pior? Mas não é isso que acontece, e talvez seja pior, porque percebo que eles me olham como se eu fosse uma aberração; como se a medicina não tivesse evoluído a ponto em que alguém fique meses inconsciente e então acorde e tente viver uma vida totalmente normal.

— José, você está bem? — Nicolas diz se aproximando e colocando a mão sobre meu ombro.

Apenas olho para ele e juro que tenho a intenção de balançar a cabeça dizendo que sim, mesmo que não seja verdade, mas eu não consigo fazer nada. Será que eu to hiperventilando?

Estou encarando os NERDS, que me olham como se esperassem que eu fizesse algo, quando alguém para a minha frente. Viro a cabeça e vejo que é Pablo, o vice-diretor.

— José, me acompanhe, por favor! — Ele diz e se vira, e eu começo a segui-lo, sem falar nada para os garotos.

De certa forma me sinto um pouco melhor. Sinto que essa confusão pode se resolver, afinal porque ele estaria me chamando?

Chegamos à sala da diretora e a encontro sentada em sua mesa. Ela estende o braço indicando a cadeira a sua frente e eu me sento, a encarando.

— Vamos ser diretos e poupar nosso tempo, José. — Ela diz e eu já acho estranho, não era assim que uma conversa de consolação deveria se iniciar. — Foi você que espalhou aqueles papéis pela escola?

Demoro uns dois segundos para processar o que ela disse e... O quê?

— O quê? — Digo a olhando como se ela acabasse de me contar que o sol tá prestes a colidir com a Terra. — Por que eu faria isso?

— Para chamar atenção talvez, as pessoas costumam gostar de histórias dramáticas! — Eu não consigo acreditar que ela disse isso e preciso fechar os olhos rapidamente e respirar fundo.

Sinto vontade de usar sarcasmo e dizer que claro, eu joguei todos aqueles papéis porque é muito legal ter todas aquelas pessoas me encarando como se eu fosse uma aberração; e que eles deveriam pensar um pouco melhor e se lembrar daqueles dois garotos que nos atacaram na outra semana e que eles sim têm motivos para querer me ferir de alguma forma... Mas não é isso que faço, é como se eu não tivesse mais força para falar essas coisas.

Assim que eu acordei eu comecei o tratamento com a fonoaudióloga para voltar a falar e me alimentar normalmente. Então no inicio eu não conversava muito porque era muito difícil, eu me tropeçava nas palavras, pensava mais rápido do que poderia dizer, e assim eu passei de um garoto totalmente falante e extrovertido para um cara que pensa demais e fala pouco. Ás vezes eu ainda tropeço em algumas palavras ou digo errado coisas simples, mas o motivo principal que me impede de falar tudo é o fator de que eu não consigo, me faltam forças para isso.

— Eu não fiz nada daquilo. — Digo por fim, sério.

A diretora respira fundo e não sei se é encenação dela, mas parece estar realmente cansada.

— Tudo bem, nós vamos descobrir quem foi o culpado. Você pode voltar para a sala, agora!

Saio da diretoria como se carregasse uma pedra sobre meus ombros.

Quando chego à sala a professora de História já começou a aula e ao me sentar no meu lugar percebo que os NERDS me encaram, e eu só faço um gesto dizendo que depois converso com eles.

Nem consigo prestar atenção na aula.

Nem consigo prestar atenção na aula

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Leia agora o resumo do capítulo:

Durante o intervalo José e os NERDS encontram, espalhados pela escola, alguns xerox com a reportagem que foi feita quando ele ainda estava em coma. Ele logo percebe que é aquela foi uma ação de Gustavo e Jeferson para humilhá-lo, mas a diretora o chama em sua sala e questiona se não foi o próprio José que espalhou os papéis pela escola querendo atenção.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora