Capítulo 14 - uma lição de Antônio e Júlia

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Maio de 2013

Saí de perto do balcão da lanchonete da escola e caminhei entre as mesas até chegar aquela em que Júlia e Antônio estavam sentados de frente um para o outro. Me sentei ao lado de Júlia e abri meu refrigerante.

— José, a gente tem um plano e você precisa participar! — Júlia disse me olhando com um sorriso enorme.

— A gente quer acordar o mais cedo possível nesse sábado e sair andando sem rumo e sem hora para voltar. — Antônio comentou, igualmente animado. — Vai ser uma verdadeira aventura.

Antônio e Júlia eram completamente diferentes em praticamente todas as coisas que eu poderia listar: ela amava moda, ele achava que isso não passava de um modo de padronização das pessoas; ela acreditava que o ser humano já havia chegado ao ápice de sua maldade e ele defendia que muita coisa ruim ainda podia ser feita. Na maioria das discussões eu ficava no meio dos dois mediando para que uma briga séria não rolasse, ou defendendo o pensamento de algum deles (quando condizia com o que eu acreditava, claro).

Mas no último mês eles haviam descoberto que eram semelhantes a respeito das loucuras que a vida nos possibilitava — acho que isso aconteceu durante o tempo que passavam sozinhos na arquibancada do campo de futebol enquanto me esperavam terminar o treino. Quase todos os dias eu precisava escutá-los falarem sobre um plano que tinham de fugirem para algum país qualquer e passar um ano trabalhando em algum bar ou sobre como valia apena guardar dinheiro para pagar por um salto de paraquedas.

Olhando para todas as ideias deles, aquela até que não parecia tão maluca. Mas de qualquer forma era no sábado, um dia sagrado para minha mãe.

— Eu preciso ver se minha mãe não tem nada programado. — Eu disse e tomei um gole do meu refrigerante. — Vocês sabem o que minha mãe acha dos sábados.

— A sua vida é muito controlada, cara. — Antônio falou se esticando encima da mesa e pegando a lata de refrigerante da minha mão. — Você precisa se soltar mais.

— É verdade José. Você tem que se libertar dessas amarras. — Júlia ainda sorria. — A vida é melhor quando se é espontânea, quando não é programada, quando você age por instinto.

Antônio balançou concordando com a cabeça e virou todo o meu refrigerante na boca. Eu olhei sorrindo para os dois e não disse mais nada.

Naquele sábado, dois dias depois, eu disse para minha mãe que não poderia sair com ela. E fui caminhar com Antônio e Júlia. Estávamos com tanta preguiça que só chegamos até um supermercado e ficamos no restaurante interno tomando café e conversando por horas.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora