José e os NERDS Contra o Mundo

Capítulo 33 - A CONVERSA COM OS NERDS

Acho que estou me sentindo um pouco melhor; pelo menos é o que penso quando meu tio avisa que o almoço está pronto e eu decido comer um pouco mesmo tendo acabado de tomar a jarra inteira de suco.

Estou caminhando para a sala quando batem no portão de casa.

— José, atende pra mim, eu to lavando a louça. — Meu tio diz, ele decidiu faltar o serviço hoje pra ficar comigo.

Quando abro o portão meu coração volta a acelerar.

— Oi sumido. — Eduardo diz sorrindo para mim.

— Se o José não vai aos NERDS — Samuel diz todo sorridente. — Os NERDS vão até o José!

— Oi, querem entrar? — É o que consigo dizer, e sem que eu precise dizer mais alguma coisa eles entram e se apressam para dentro da minha casa.

Eu os sigo logo pensando que eles vão me perguntar o que aconteceu e eu estou morrendo de vergonha de contar que surtei porque duas pessoas do meu passado decidiram aparecer de repente.

Quando entro eles estão devidamente sentados nos sofás da sala.

— Vou deixar vocês conversarem a sós. — Meu tio diz e sai apressado em direção ao seu quarto.

Quando ficamos apenas nós seis, permanecemos todos em silêncio, e eu fico imaginando que eles esperam que eu comece a conversa.

— Sua mãe disse que você estava bem, mas queríamos te ver. — Rafaela fala.

— Para sermos claros, a gente quer saber por que você desapareceu. — Samuel diz.

— Quem em plena metade da segunda década deste século fica mais de um dia sem entrar no aplicativo de mensagens? — Denis diz sorrindo.

Respiro fundo e decido que não adianta ficar escondendo tudo. Eles se esforçaram por mim, decidiram vir em minha casa porque estavam preocupados. O mínimo que devo a eles é a verdade.

E então eu conto tudo, e dessa vez é da forma detalhada. Conto que eu, Júlia e Antônio tínhamos um relacionamento amoroso e que por um tempo foi como se estivéssemos em um filme de romance adolescente; mas aí eu percebi que eles estavam se afastando de mim, o que me fez insistir cada vez mais. E então teve o acidente e eles sumiram; e que eu acordei ansiando em vê-los e os dois nunca apareceram. Até que ontem eu cheguei em casa e os encontrei ali como se fosse a cena mais comum da minha vida atual.

E durante todo esse tempo eu não consigo me segurar e começo a chorar novamente. O choro forte carregado de soluços e principalmente de todos os sentimentos que pesam em meu peito.

Quando termino coloco a mão sobre meu rosto e segundos depois sou envolvido pelos braços dos cinco e estou no meio desse abraço em grupo que significa tanto em minha vida, que só de imaginar não ter nunca mais eles por perto me deixa completamente amedrontado.

— Me desculpem, eu sou um idiota. — Digo finalmente parando de chorar, e eles começam a se afastar.

— Não, você não é um idiota por sentir o que está sentindo! — Rafaela diz, e ela nunca pareceu tão compreensiva quanto parece agora enquanto me olha nos olhos.

— Mas sejamos sinceros José, você já ficou tempo demais preso ao passado. — Eduardo comenta. — Será que não está na hora de parar de deixar que essas duas pessoas pesem tanto em sua vida?!

— Eu já estou começando a sentir ciúmes deles dois! — Samuel fala e nos faz rir.

— É verdade José — Nicolas coloca a mão em meu ombro. — Nós vamos estar com você e te apoiar no que for necessário, então você também precisa estar consigo mesmo. Não se doe tanto para quem não faz o mesmo por você.

— Não há nenhum problema em se desapegar de quem não faz mais parte da sua vida. — Denis diz. — Não é nenhum problema deixar para trás quem já te deixou há muito tempo.

Fico olhando para eles como se tivessem acabado de dizer as maiores verdades da vida. E de certa forma eles realmente disseram.

— Vocês realmente são adolescentes? — Eu brinco enquanto seco meus olhos com as costas das mãos.

— Nós somos nerds, então somos sábios! — Eduardo diz.

— É claro que esse estereótipo você aceita muito bem! — Rafaela diz e todos nós rimos um pouco mais.

Nicolas se vira para mim e pergunta:

— Então, o que você vai fazer agora?

Fico pensando por um segundo e percebo que, se eu vou realmente deixar o meu passado para trás, há somente uma alternativa.

— Será que você pode ligar para o seu irmão e avisar que vou faltar hoje de novo? — Digo para Nicolas. — Eu preciso ir a um lugar.