Capítulo 44 - PEDRO ME DEIXA CONFUSO

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É sexta-feira e eu estou no caixa passando um troco para um cliente quando Pedro me diz:

— Ei, vou pegar uns copos descartáveis lá no fundo, você me cobre por uns minutos?

— Claro!

Saio do caixa e vou ficar no balcão. A maioria dos nossos clientes são mais velhos, na casa dos 40 para cima — os NERDS se destacam bastante quando vêm aqui — então eu acho mega estranho quando esse cara de mais ou menos 25 anos entra no Café e caminha até o balcão.

— Boa tarde! — Digo sorrindo para ele.

— Boa tarde. — Ele diz sorrindo. O cara é realmente bonito, alto, negro, cabelo raspado. — Você é o único atendente aqui?

— Não, meu colego precisou ir lá no fundo, mas...

— Você quer saber porque eu perguntei isso não é?! — Ele diz rindo e eu assinto com a cabeça, sorrindo também. — Desculpa, eu sou meio lerdo, ás vezes.

— Eu sou quase sempre, então não te julgo.

A gente fica uns dois segundos em silêncio, se encarando, e eu fico com vergonha de perguntar o motivo dele querer saber se há outro atendente, então pergunto:

— Então, o que você gostaria de pedir?

— Ah, eu não... — Ele começa a falar, mas é interrompido por Pedro que abre a porta carregando uma caixa de papel grande.

— Não acredito que a gente guardou os copos debaixo da caixa de café! — Ele e coloca a caixa no chão, então se vira e fecha a cara, olhando para o cara em minha frente. — Marcos? O que você tá fazendo aqui?

— Eu queria conversar com você! — Marcos responde.

— Eu estou trabalhando.

— Vai ser rápido, por favor!

Sinto que há uma leve tensão entre os dois e me sinto envergonhado por estar assistindo tudo tão de perto, então me viro e começo a andar em direção ao caixa.

— José! — Pedro diz, eu paro e volto a me virar para ele. — Será que você pode ficar aqui mais um pouco?

— Claro!

— Obrigado, cara! — Marcos diz para mim.

Pedro rapidamente tira o avental e o deixa encima do balcão, acompanhando Marcos para fora do Café.

Pelo vidro da porta consigo ver os dois conversando, um de frente para o outro. Marcos segura a mão de Pedro enquanto fala e eu logo suponho que ele seja o cara com quem está saindo.

Sinto que estou assistindo a uma novela mexicana quando Pedro solta a mão de Marcos, coloca as duas mãos sobre seus ombros e conversa o olhando nos olhos. Quando Pedro o solta, os dois se abraçam e então Marcos vai embora.

Pedro volta para dentro e eu fico o encarando enquanto coloca o avental de volta.

— Está tudo bem? — Eu pergunto, porque ele está com a expressão séria.

— Está sim.

Rola um segundo de silêncio constrangedor e eu decido voltar ao meu lugar.

Minutos depois não estou aguentando o silêncio entre nós dois e decido puxar papo.

— Então, aquele é o famoso carinha?

NÃO ACREDITO que eu deixei que essa frase escapasse da minha boca. Era para eu perguntar sobre como anda a faculdade, ou então sobre seus amigos. Ou melhor, sobre como um bolo vegano é feito. Por que eu tinha que falar sem pensar antes?

— Famoso? — Ele solta um risinho. — Sim, era com ele que eu estava saindo.

Se antes ele não tinha minha total atenção, agora ela é toda dele.

— Estava? — Questiono.

Ele respira fundo e abaixa a cabeça. Pela primeira vez desde que voltei a me encontrar com Pedro percebo que ele está envergonhado.

— Sim, eu decidi que não podia mais sair com o Marcos porque estou interessado em outra pessoa.

Puxa vida.

— Oh, então tem mais um na equação. — Concluo em voz alta. Por que eu preciso dizer isso em voz alta? — Pelo visto eu não tinha mesmo chance.

Alguém precisa aparecer e me dar um tiro no meio da testa. Por que eu não consigo segurar o que estou falando?

— O quê? — Ele fala me encarando. — O que você acha, que eu saio com um monte de caras?

Ele parece meio estressado.

— É você quem tá falando...

— Eu disse que estou interessado por outra pessoa, não que há um terceiro cara.

— Eu não estou entendendo.

— É você José. Eu gosto de você!

Ele meio que fala isso alto demais e um casal de idosos em uma mesa próxima ao balcão se vira sorrindo.

Sinto meu coração se acelerando e eu saio do caixa e ando até o balcão, ficando em sua frente.

— Eu não estou entendendo nada, aquele dia você... — Começo a falar, mas ele me interrompe novamente.

— Naquele dia eu realmente estava saindo com o Marcos — ele começa a explicar. — Mas depois eu percebi que também gosto de você, então eu decidi terminar com ele. Hoje ele veio conversar, mas eu disse que não tem como a gente voltar.

— Espera aí, você também gosta de mim? E não pretendia me contar isso?

— Eu não sei! Não queria que você achasse que eu penso que posso tê-lo quando quiser.

Solto um riso e seguro em sua mão.

— Mas você pode.

Ele sorri de volta para mim, e embora eu queira o beijá-lo, não faço isso porque os clientes estão nos olhando; então apenas aperto sua mão e volto para o meu lugar.

Ás 18hrs em ponto Pedro fecha o Café da Neide e ficamos olhando enquanto nossos colegas de trabalho caminham juntos em direção ao ponto de ônibus.

— Então... — eu digo e me viro ficando de frente para ele.

— Será que eu posso te beijar agora? — Ele pergunta.

— Claro que pode!

Eu sou um pouco mais alto que ele, então Pedro precisa esticar o pescoço. Eu envolvo em meus braços quando ele abraça minha cintura e o puxo para junto do meu corpo, o beijando como se não fizesse isso há anos — o que eu realmente não fiz.

— Eu vou acabar me atrasando para ir para a faculdade. — Ele diz alguns minutos depois, sorrindo para mim.

— Os NERDS vão ficar se perguntando sobre a minha demora. — Eu digo sorrindo.

E continuamos a nos beijar até que meu telefone começa a vibrar com as mensagens dos garotos.

José e os NERDS Contra o MundoOnde histórias criam vida. Descubra agora