Minha mãe precisou ligar para o meu psicólogo e pedir para que as minhas sessões fossem mudadas para sexta-feira de manhã, logo após a escola. E também a minha fisioterapia foi mudada para o mesmo dia logo depois da terapia. O que me prendia era a sessão de fisioterapia da terça-feira, mas eu já tinha mandando uma mensagem para Pedro e ele falou que podia me cobrir por uma hora sem problemas.
Sem empecilhos, então posso me sentir nervoso com o meu primeiro dia de serviço com o que preocupa qualquer pessoa: perder o emprego. Não que eu já esteja pensando que vou me sair mal, mas conseguir entrar foi o primeiro passo, agora eu preciso garantir que vou manter o emprego me esforçando.
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Tio Carlos faz questão de me levar ao Café da Neide assim como meu avô fez com ele em seu primeiro emprego - ele foi carregador de um supermercado. Quando ele para o carro em frente ao café, faltam cinco minutos para o meu horário começar, mas já decido entrar.
- Você tá dando os passos certos para tomar sua vida de volta, José! - Ele diz, é impressão minha ou ele está um pouco emotivo? - Você é um lutador, filho!
- Obrigado, tio! - Digo e saio do carro, fecho a porta e me abaixo olhando pela janela aberta. - Não precisa me buscar, e vê se não chora!
Quando entro no café ele ainda está parado lá fora, mas não demora muito para sair com o carro.
- José! - Pedro diz todo animado ao me ver, vou andando até o balcão. - Nada disso, pode dar a volta, o seu lugar agora é aqui desse lado.
Faço o que ele diz e quando estamos cara a cara ele me dá um aperto de mão.
Pedro me apresenta os outros funcionários do Café: são dois cozinheiros, Marta (que aparente ter uns quarenta anos) e Felipe (mais ou menos vinte e cinco anos); e tem duas auxiliares de serviços gerais, Geralda (de mais ou menos trinta anos) e Fernanda que tem vinte e oito anos e só sei com certeza porque ela se apresentou dizendo:
- Eu tenho apenas vinte e oito anos, mas já acumulo dores que podem ser centenárias. Não se assuste se me ver reclamando por aí!
Quando estamos indo até o caixa, o meu posto de trabalho, pergunto para Pedro:
- Você não acha que tem poucos funcionários aqui?
- Na verdade não, nós temos um bom público, mas nada que exija outros atendentes. Você vai ver como é tudo bem fácil!
Ele me explica como funciona a caixa registradora e deixa um papel colado na tela do computador para que eu nunca me esqueça de perguntar se o cliente quer o CPF em sua nota fiscal. Fazemos uma simulação e eu acho tudo bem fácil porque no computador há um registro de tudo o que é vendido na cafeteria, e o meu trabalho é só digitar o número exposto na comanda que me entregarem.
Fico sentado na cadeira, esperando que o meu primeiro cliente chegue (Pedro disse que no inicio da tarde o movimento costuma ser bem fraco) quando de repente vejo cinco adolescentes entrando animados no recinto.
Ao invés de seguirem ao balcão onde Pedro está, Samuel, Rafaela, Denis, Nicolas e Eduardo vêm até mim.
- Lanche da tarde? - Pergunto.
- A gente veio te apoiar no seu primeiro dia de trabalho! - Samuel diz animado, levantando as mãos.
- Se algum cliente for rude com você, a gente dá um jeito nele! - Rafaela diz sorrindo.
- Oh, nada de dar jeito em ninguém dentro do perímetro do Café! - Pedro diz e todos nós rimos. - Vocês vão pedir o quê?
Eu fico olhando enquanto eles seguem até o balcão para fazerem seus pedidos e inevitavelmente sorrio. Esses garotos são mesmo reais?
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José e os NERDS Contra o Mundo
Teen FictionJosé nunca assistiu Star Wars. Os NERDS nunca entraram em um campo de futebol. E mesmo assim uma grande amizade está prestes a começar. Há exatos três anos e seis meses atrás, José sofreu um acidente que o deixou em coma dos 17 aos 20 anos. Ao acord...