Não durmo de noite. Fico me revirando de um lado para o outro, mas não consigo dormir.
Na escola fico mais quieto que o normal, mas como todo mundo está louco com as organizações para o formatura, nenhum dos NERDS percebe isso.
De tarde Pedro está todo afobado porque a Neide decidiu que vai realmente fazer uma reforma no café e ele fica de um lado para o outro com ela, então ele nem percebe que não estou todo falante — do meu jeito — hoje.
Pela primeira vez desde que acordei, me sinto incomodado por não ter alguém reparando em mim.
Os NERDS mudaram muitas coisas em minha vida: minha rotina, a forma como eu interajo com as pessoas, me apresentaram novas paixões. Eles até mesmo me ensinaram uma nova forma de me ver no mundo.
Esses cinco garotos me ensinaram mais sobre a vida do que eu podia imaginar. Eles me ensinaram como viver novamente.
E agora eu irei perdê-los.
Não consigo aceitar esse fato. É algo inevitável, mas não consigo aceitar. Sinto essa dor antecipada no peito e percebo mais uma mudança que os NERDS me causaram: eu não quero esconder isso que estou sentindo.
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Chego a Toca e sou recebido por risadas. Preciso dar um passo a frente para ver que todos estão rindo de Nicolas vestido com uma roupa preta supercolada que cobre todo o seu corpo a partir do pescoço.
— O que é isso? — Eu pergunto o olhando, estou tão tenso que nem consigo me juntar aos outros nos risos.
— Essa coisa deveria ser minha fantasia de Pantera Negra! — Nicolas diz, ele está rindo também, mas parece estar um pouco estressado.
— Mas roupas de super-heróis são exatamente assim! — Samuel argumenta.
— Pode ser tudo bem para o Batman sair por aí com as partes apertadas, mas eu não vou me prestar a esse papel.
— A gente podia procurar uma outra roupa, típica do personagem, e aí você usa somente o capacete. — Eu digo.
— É mesmo Nic! — Denis diz ao meu lado, todo animado. — Lembra que o T'Challa usa uma roupa preta meio parecida com roupas indianas? A gente pode fazer algo assim e você leva o capacete como se estivesse pronto para atacar, caso fosse necessário.
Eles começam a discutir sobre como podem montar a fantasia de Nicolas e eu começo a me sentir culpado por ter pensado em vir até eles, em um dia que estão tão animados, apenas para falar sobre meu medo de ficar sem amigos.
Fico então me lembrando sobre como eles vêm falando de seus planos pós-escola há tempos: Eduardo vai tentar o vestibular pra Jornalismo; Denis, obviamente quer fazer faculdade de Culinária; Samuel não sabe ainda se quer fazer Publicidade ou Moda; e Rafaela e Nicolas querem Design Gráfico, o que faz com que eles passem horas discutindo sobre instituições, já que pensam em estudar juntos.
Meu maior plano após a formatura é fazer um cursinho pré-vestibular, porque minha mãe acha que seria bom eu estudar um pouco mais antes de fazer faculdade. Eu ando considerando fazer Psicologia, mas preciso pensar um pouco se é realmente o que eu quero, ou se eu estou apenas cogitando porque é a faculdade de Pedro e ele fala muito bem do curso que faz.
— José? Algum problema? — Nicolas pergunta.
Ainda usando a roupa do Pantera Negra ele puxa um pufe e se senta em minha frente.
Fico em silêncio enquanto os outros começam a se sentar a minha volta.
Sinto meus olhos se enchendo de lágrimas, e não digo nada.
— Ei, você sabe que pode falar com a gente sobre tudo! — Rafaela diz e estica o braço para tocar no meu ombro.
— Eu vou perder vocês. — Digo e caio no choro. — A gente vai se formar e eu não vou mais ter vocês. Cada um vai seguir um rumo e eu vou continuar no mesmo ponto. E eu sei o quanto é egoísta eu desejar que vocês fiquem sempre do meu lado, mas eu simplesmente não consigo não pensar nisso.
Eles ficam me encarando com expressões tristes em seus rostos e eu me sinto ainda mais culpado por tirar deles toda a felicidade que eles estavam compartilhando por causa da formatura.
— Nós não vamos te deixar José. Nos separarmos nunca foi uma opção. — Denis fala.
— Essa é uma mudança que eu com toda certeza nunca aceitaria. — Eduardo comenta.
— As coisas vão mudar sim, não tem jeito. Nós apenas vamos precisar nos flexibilizar melhor. — Rafaela diz e começa a sorrir.
— A gente sempre vai estar juntos. — Eduardo diz todo sorridente. — Nós elaboramos um sistema complexo demais para que essa amizade se desfaça como todas as outras amizades de ensino médio.
— A gente sempre vai ajudar você a enfrentar os filmes de ficção científica, livros de literatura e gameplays de jogos ruins. — Samuel fala parecendo também estar um pouco emocionado.
— E todas as outras coisas do mundo nerd. — Denis aponta.
— E você sempre vai nos ajudar a enfrentar os valentões, jogos de futebol e os nossos sentimentos. — Dessa vez é Rafaela quem fala abrindo um sorriso maior do que antes.
— E sinceramente — Nicolas solta um risinho. — Se juntarmos todas essas coisas meio que estamos falando do mundo inteiro!
Denis se levanta e vem se sentar entre mim e Eduardo. Ele coloca a mão sobre meu ombro.
— Nós sempre estaremos juntos para enfrentar o mundo. É uma das regras, ora bolas! — Ele grita animado.
Então todos começamos a gritar e rir. E no momento sinto que essa é a maior certeza da minha vida: eu sempre os terei comigo.
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José e os NERDS Contra o Mundo
Teen FictionJosé nunca assistiu Star Wars. Os NERDS nunca entraram em um campo de futebol. E mesmo assim uma grande amizade está prestes a começar. Há exatos três anos e seis meses atrás, José sofreu um acidente que o deixou em coma dos 17 aos 20 anos. Ao acord...